CULTURA
A dura vida da Garota
Autobiografia de Helô Pinheiro mostra em detalhes o seu relacionamento com Tom Jobim e Vínicius de Morais.
Publicado em 03/11/2012 às 6:00
Uma praia, na frente do Bar Veloso, em Ipanema, e uma menina vestida em um ‘duas-peças’, passando num doce balanço a caminho do mar. Foi essa a cena que inspirou, há 50 anos, Tom Jobim (1927-1994) e Vinícius de Moraes (1913-1980) e transformou a estudante anônima Heloísa Eneida na Garota de Ipanema, símbolo mundial do gingado da mulher brasileira.
Em sua autobiografia, Helô Pinheiro (nome sugerido pelo autor de novelas Vicente Sesso), que foi a verdadeira inspiração da canção 'Garota de Ipanema', conta detalhes sobre o seu relacionamento platônico com Jobim, suas confidências trocadas com Vinícius, e muito da sua vida pessoal e profissional.
A Eterna Garota de Ipanema (Aleph, 160 págs., R$ 36,00) tenta mostrar principalmente a Helô além da Praia de Ipanema, que se dedicou ao magistério, casou, teve filhos e teve que conviver com a fama de ser a musa de Jobim e Vinícius, mesmo sem querer. A canção tomou fama internacional, com direito a versões em vários idiomas e de inúmeros artistas, a exemplo de Frank Sinatra. Com isso, a garota foi elevada ao grau de celebridade.
Apesar de contar uma história que deu origem a uma canção tão poética, Helô Pinheiro não tem em sua escrita a poesia que os dois autores tinham. A história da Garota de Ipanema, tão conhecida pela beleza e qualidade dos versos em que foi descrita, é contada por ela mesma de forma direta e sem floreios.
Em seu relato, Helô conta que nunca teve muitos benefícios, além da fama, por ser a grande musa da bossa nova. E com a fama, veio a falta de privacidade. A garota foi capa de revistas como se fosse uma grande celebridade, mas continuava pegando ônibus e trem para chegar à escola onde ensinava. Teve seu casamento e gravidez amplamente divulgados pela imprensa, mas passou por atribulações matrimoniais assim como muita gente.
O livro tem histórias curiosas, como quando Tom Jobim pediu Heloísa em casamento, o ciúme que o namorado Fernando tinha dos “boêmios que estão paquerando minha garota”, o beijo que Roberto Carlos roubou dela e quando Helô esnobou a rainha da Inglaterra, ignorando um convite de tomar um chá no Palácio de Buckingham.
Com o título de Garota de Ipanema, Helô teve o mimo de ter um ensaio na revista Playboy, em maio de 1987, enriquecido por um texto de Tom Jobim. “É nudez inteligente/’inda mais com Heloísa/faz bem à alma da gente”, diz uma estrofe do poema.
Mesmo tendo relutado, no início, a fazer as fotos e só ter aceitado devido às dificuldades financeiras pelas quais sua família passava, o ensaio abriu portas para Helô. A partir dali, ela atuou em pequenas peças de teatro, participou de shows e desfiles, fez performances em escolas de samba e apresentou programas de TV com roupas coladas, ressaltando seu corpo. Enfim, a autobiografia mostra como Helô tentou viver além do rótulo da garota, mas acabou construindo sua vida em cima do “corpo dourado do sol de Ipanema” cujo “balançado é mais que um poema”.
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