CULTURA
'O violão é a alma de tudo'
Cantor e compositor comemora a maturidade de sua carreira com um CD e DVD.
Publicado em 26/05/2012 às 9:40
Quarenta anos depois, ele ainda se considera só um cantor apaixonado pelo seu violão: "Eu acho que se você tirar o violão do meu trabalho ele não se sustenta. O violão é a alma de tudo o que eu faço. Gosto do violão: sou conduzido por ele", confessa o modesto João Bosco.
Décadas após ser levado aos estúdios por Ziraldo para gravar o disco de bolso do jornal 'O Pasquim', o cantor e compositor comemora a maturidade de sua carreira com um CD e DVD lançados quase que simultaneamente ao anúncio de seu nome como homenageado do Prêmio da Música Brasileira.
"Não considero a homenagem como um tributo a mim, mas aos compositores que estão sempre presentes na minha carreira, como Jackson do Pandeiro e Sivuca", afirma quem esteve na Paraíba no último Fenart rendendo honras ao mestre da sanfona.
"Tive a oportunidade de gravar com Sivuca em Dá Licença Meu Senhor (1995), quando ele tinha acabado de passar por uma cirurgia na garganta. Eu avisei que ele não precisava fazer aquelas intervenções vocais que gostava de fazer, mas ele insistiu. A Paraíba deve se orgulhar muito tanto dele quanto de Jackson, que são referências da música brasileira".
Para chegar ao repertório de 40 Anos Depois, João Bosco condensou algumas destas influências de suas quatro décadas de trajetória artística em parcerias.
Os conterrâneos mineiros Milton Nascimento e Toninho Horta entram já na abertura do trabalho: a faixa 'Agnus sei', que fez debutar a perene contribuição entre Aldir Blanc e Bosco.
"Foi muita emoção esta história de tocar a primeira gravação que eu fiz em 1972 e lembrar o início de minha carreira fonógrafica, a primeira vez que eu entrei no estúdio", conta João Bosco.
"A canção ('Agnus sei') ainda guarda muita afinidade com Minas Gerais e com o comecinho da minha parceria com o Aldir".
Dividir o estúdio com Milton Nascimento e Aldir Blanc foi protagonizar então este "encontro de histórias": "Sou amigo do Milton desde 1965 e a música dele é fundamental porque, harmonicamente, influenciou muitos jovens, inclusive eu, na época. Já Toninho Horta considero o guitarrista mais brilhante que já conheci dentro e fora do Brasil, e que também foi muito presente nos meus três primeiros discos".
Outros nomes, como Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil requintaram o samba 'De frente pro crime': "Era importante em uma retrospectiva de 40 anos ter uma presença de algum frescor na música brasileira recente. O Trio Madeira também trouxe um sentimento próprio do samba, trazendo um certo suíngue sem deixar de lado as cordas".
Um certo 'nepotismo' também reina na cozinha de 40 Anos Depois: Francisco Bosco, filho de João, roteiriza o show, enquanto Angela Bosco, sua esposa, fez a produção visual.
Ambos já atuaram com o chefe da família anteriormente.
"O Francisco escreve comigo desde os 17 e a Angela é a autora das esculturas na capa de Gagabirô (1984). Ele é o cara do pensamento e ela tem a visão plástica", lembra. E brinca: "Eles me ajudaram a fazer essa retrospectiva que foi como um carretel de linha: fomos puxando e quanto mais puxávamos mais linha vinha".
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