CULTURA
Ceguinhas de CG sobem ao palco para interpretar Shakespeare
De sexta a domingo, até o dia 7 de dezembro na Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista, em São Paulo, quem for ao teatro vai ver as três irmãs abrindo o espetáculo ‘Macbeth – Como Nasce Um Deserto&a
Publicado em 05/11/2008 às 10:35
Astier Basílio, do Jornal da Paraíba
Era tão óbvio, tão na cara, que é difícil imaginar como ninguém conseguiu ver isso antes: as três irmãs Maroca, Poroca e Indaiá, as ‘Ceguinhas de Campina Grande’, cantadoras de coco, num palco, interpretando o papel das três bruxas da tragédia ‘Macbeth’, obra-prima do gênio William Shakespeare.
Foi preciso um olhar de fora, de longe. Um forasteiro como o cineasta carioca Berliner, que percebeu todo o potencial de poesia e lirismo da história dessas três irmãs pra compor o belo filme ‘A Pessoa É para o que Nasce’. Agora, para colocá-las no teatro, foi preciso um paulista, o ator e encenador Éderson José.
De sexta a domingo, até o dia 7 de dezembro na Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista, em São Paulo, quem for ao teatro vai ver as três irmãs abrindo o espetáculo ‘Macbeth – Como Nasce Um Deserto’. Lá, as paraibanas interpretam uma das cenas mais antológicas escritas pelo Bardo de Avon, a da enigmática profecia sobre o reinado de Macbeth.
A direção é de Arieta Corrêa e de Éderson José, que ainda assina a adaptação e integra o elenco. “Eu conheci as ‘Ceguinhas’ pelo filme ‘A Pessoa É para o que Nasce’. No original de Shakespeare, há três bruxas que cruzam o caminho de Macbeth e fazem as profecias que revelam a ele um futuro de glória e poder”, informa Éderson.
Como nunca havia gostado das opções feitas para as bruxas nas montagens que assistiu, Éderson lembrou que na mitologia grega, as deusas responsáveis por ver o futuro dos homens e destinar seu quinhão de sofrimento eram três irmãs cegas: Cloto, Laquésis e Atropo. “Achei que, para a minha adaptação, seria perfeito que Maroca, Poroca e Indaiá, fizessem as profecias”.
O encenador explica que, além do fato de que ver e enxergar não são necessariamente a mesma coisa, “as ‘Ceguinhas de Campina Grande’ enxergam tão além de nós, que temos a visão mas que, por exemplo, estamos cegos para as questões dos matadores de aluguel, disputa de grileiros e para as questões da Amazônia”.
As ‘Ceguinhas’ cantam as profecias com seus ganzás. “Os versos estão adaptados, mas são as profecias escritas por Shakespeare. Elas têm algumas poucas falas. A maior participação é cantando. São seis intervenções. É lindo!”, opina.
em prol da Amazônia
Entendendo que o poder que ‘Macbeth’ consegue é um poder efêmero, dura muito pouco, Éderson revela sobre a razão de ter montado esta peça nos dias de hoje e o que ele pretendeu dizer com esse texto. “Nós fazemos alusão à destruição da Amazônia (entre outras coisas). O poder conseguido com esse tipo de destruição é estúpido por se encerrar em si mesmo. O que são 100 anos de Amazônia dentro da eternidade. Sempre será assim: dependendo de quem assume o poder, tudo pode murchar, secar, ou brotar”.
Sobre a possibilidade do espetáculo ser apresentado na Paraíba, Éderson diz que sim. “Nós estamos estudando essa possibilidade. Mas só saberemos depois da temporada aqui no sul, que aliás está indo muito bem: temos lista de espera”.
Quem é Éderson José
Formado pela Fundação de Artes de São Caetano, Éderson fez alguns trabalhos em São Paulo e foi morar em Londres para estudar teatro. “Fiquei lá três anos, voltei e decidi montar um monólogo sobre a vida do escritor austríaco Stefan Zweig. Acabei sendo convidado por um amigo que conheci em Londres, Zadoqueu Lopes, a fazer um outro monólogo: ‘Brás Cubas, últimas palavras’ uma adaptação para o teatro da obra de Machado, feita por um escritor inglês chamado Powell Johnes”.
O diretor conta que passou uma temporada no Centro de Pesquisas Teatrais coordenado pelo diretor Antunes Filho. “Mais maduro, decide remontar a peça sobre Stefan Zweig: ‘Zweig - A Marcha do Tempo’. Dois dias depois do fim da temporada dessa peça, em São Paulo, eu viajei para Campina Grande para conhecer as ‘Ceguinhas”’.
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