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CULTURA

O poeta que voava mais alto

Desaparecido desde o dia 30 de maio, cordelista Manoel Monteiro, de 77 anos, foi encontrado morto em um quarto de hotel em Belém.

Publicado em 10/06/2014 às 6:00 | Atualizado em 30/01/2024 às 14:06

“Outro cordelista igual a Manoel Monteiro, dificilmente virá. Como não virá na música outro Luiz Gonzaga ou Dominguinhos. São pessoas que nascem com a marca”, lamenta o amigo poeta, João Dantas.

Manoel Monteiro estava desaparecido desde o dia 30 de maio. Depois de uma campanha promovida por familiares e amigos na tentativa de localizá-lo, o cordelista, de 77 anos, foi encontrado morto em um quarto de hotel em Belém, no Pará, no último sábado.

Pernambucano de Bezerros, Manoel chegou ao interior da Paraíba muito jovem. “Campina Grande era a sua Paris”, compara o paraibano João Dantas, que alimentava uma amizade de mais de quatro décadas com o cordelista, um homem humilde que não reclamava se “o cavalo estava selado e não montei” e fazia a diferença. “Falar de Manoel Monteiro é falar do cordel em toda a sua plenitude. Ele somava o talento de várias expressões do cordel brasileiro”.

Para Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), com sede no Rio de Janeiro, Monteiro era “o mais paraibano dos pernambucanos” e “o mais parnasianista do cordel brasileiro”.

Nas suas militâncias culturais, Manoel Monteiro foi um dos grandes responsáveis pela difusão da literatura de cordel nas escolas. Dentre os projetos que participou está o ‘Cordelando a Paraíba’, que consiste em recontar a história de cada um dos 223 municípios do Estado através dos versos de folhetos de cordel.

“Para mim, ele foi o que mais completou o lado didático do cordel. Tinha a consciência da cidadania necessária para a produção desse material”, explica o cordelista Marco di Aurélio. “Manoel foi o que mais se jogou, o que mais se atirou no didatismo. Muitos de seus títulos têm a intenção de educar”.

João Dantas também relembra a verve rápida do cordelista, que tratava e tinha o domínio de várias temáticas, perambulando pelas questões envolvendo o meio ambiente, como a fauna e flora, momentos históricos do Brasil e do mundo, figuras do cunho intelectual e político, passando até pelos problemas de saúde, como seus folhetos sobre a diabetes, um mal sofrido pelo próprio autor. “Nem todo o médico dava diagnósticos aos acometidos pela diabetes como ele, informando de forma clara nos seus cordéis”, acrescenta Dantas.

Outro destaque na literatura de cordel do pernambucano, enaltecida por Marco di Aurélio, é a questão vocabular que Manoel traçava nos seus versos populares. “Ele tinha o esmero de não replicar erros da língua portuguesa”.

Com uma amizade de mais de dez anos, Di Aurélio recorda que, quando lançou a primeira edição do cordel em braile para deficientes visuais, Manoel brincava, indignado, que o projeto deveria ser criado e lançado por ele.

“O que ele tinha de bom era dividir os conhecimentos. Ele era demasiadamente humano nas necessidades de sonhar e voar alto – não na questão de orgulho, mas nas questões de competência e cidadania”, reflete Marco Di Aurélio.

RECORDISTA

Manoel Monteiro também foi militante político de esquerda “muito bem posicionado”, de acordo com João Dantas, lembrando também que o pernambucano trabalhava com tipografia na Estrella da Poesia, folhetaria de Manoel Camilo dos Santos (1905-1987), autor de antologias como Viagem a São Saruê.

Destacam-se no seu trabalho obras como O Castigo da Soberba, Uma Tragédia de Amor ou A Louca dos Caminhos, Peleja de Manoel Camilo com Manoel Monteiro e Padre Cícero: Político ou Padre? Cangaceiro ou Santo?, dentre outras.

Segundo Dantas, quando Getúlio Vargas atirou no seu próprio peito no Palácio do Catete (RJ), em agosto de 1954, o folheto de Manoel sobre o presidente bateu recorde com mais de 50 mil cordéis vendidos no país.

Assim como o próprio João Dantas e o paraibano Luis Nunes Alves, vulgo Severino Sertanejo, Manoel Monteiro fazia parte da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, onde ocupava a cadeira de número 38, patroneada pelo conterrâneo Manoel Tomaz de Assis.

Segundo o presidente Gonçalo Ferreira da Silva, haverá este mês uma publicação coletiva que homenageará o cordelista, além de Monteiro protagonizar a antologia anual da instituição, que será lançada em dezembro.

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Jornal da Paraíba

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