POLÍTICA
Delator diz que pagou propina de R$ 5 milhões a Eduardo Cunha
No depoimento, prestado em Curitiba, Camargo disse que o pedido de propina teria ocorrido pessoalmente, em uma reunião no Rio de Janeiro.
Publicado em 17/07/2015 às 8:28
O empresário da Toyo Setal e delator na Operação Lava Jato, Júlio Camargo, disse ao juiz Sergio Moro ontem que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pediu a ele propina de US$ 5 milhões em um contrato de navios-sonda da Petrobras.
No depoimento, prestado em Curitiba, Camargo disse que o pedido de propina teria ocorrido pessoalmente, em uma reunião no Rio. O valor, afirmou, foi pago por meio de Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB em contratos com a Petrobras.
É a primeira vez que Camargo, cujo acordo de delação premiada foi homologado em dezembro do ano passado, cita Eduardo Cunha como destinatário da propina.
Em nota, presidente da Câmara disse ser ''muito estranho'' o delator ter mudado a versão na véspera de seu pronunciamento em rede nacional e acusa o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de ter articulado o depoimento.
O nome do parlamentar surgiu quando o delator respondia a Moro se ele vinha sendo pressionado a pagar propina por Baiano.
Camargo contou que procurou o operador para intermediar um encontro com Cunha por causa de requerimentos apresentados na Câmara dos Deputados contra ele, Camargo, e contra a empresa Mitsui.
COBRANÇA
Pelo relato de Camargo, o peemedebista cobrou o valor para si quando afirmou haver um débito "entre você [Camargo] e o Fernando Baiano".
"Tivemos um encontro o deputado Eduardo Cunha, Fernando Soares e eu. Eu fui bastante apreensivo. O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões", relatou Camargo.
"E que isso [o débito com o operador da propina] estava atrapalhando, porque estava em véspera de campanha –se não me engano, era uma campanha municipal–, que ele tinha uma série de compromissos, que eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo e que ele não tinha mais condição de aguardar", continuou.
Neste momento, o delator foi subitamente interrompido pelo juiz Moro, dizendo que o tema já era objeto de investigação na Procuradoria-Geral da República e que não deviam detalhar o assunto para não prejudicar a apuração em curso em Brasília.
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