CULTURA
Obras de Machado de Assis são reunidas em espetáculo teatral
Navegando pela obra do Bruxo de Cosme Velho, Alfenim chega a 'Memórias de um Cão', que estreia nesta sexta-feira (8).
Publicado em 08/05/2015 às 6:00 | Atualizado em 09/02/2024 às 17:34
O pano de fundo é o Rio de Janeiro do século passado, mas a realidade contida na história é bem próxima à da atual João Pessoa. Com narrativa que une dois romances de Machado de Assis e elementos da obra do autor como um todo, o Coletivo Alfenim estreia hoje o espetáculo Memórias de um Cão, às 19h, na Casa Amarela, Centro Histórico de João Pessoa. A entrada é gratuita.
A peça é resultado de um projeto de patrocínio da Petrobras, o Figurações Brasileiras. Memórias de um Cão é fruto de um estudo sobre a obra de Machado de Assis (1839-1908). De acordo com o diretor Márcio Marciano, após um seminário sobre a obra do Bruxo do Cosme Velho, foi realizado uma oficina de elenco. “Fizemos alguns ensaios ano passado e o resultado foi uma apresentação em novembro, em Natal (RN)”, conta. O Coletivo voltou pra sala de ensaio e agora apresenta o espetáculo pronto, na capital paraibana.
No palco, a trajetória do mestre-escola Rubião, personagem do romance Quincas Borba, é contada sob a perspectiva do cão.
Para receber a herança deixada pelo escravocrata Quincas Borba, Rubião precisa tomar conta do cachorro, que leva o mesmo nome de seu benfeitor. Enquanto o mestre-escola gasta o dinheiro que herdou, ele experimenta uma vida de luxos, fazendo assim alusão às pretensões da elite brasileira de transformar o país em uma nação de primeiro mundo através da importação do liberalismo fora do lugar e fazendo vistas grossas ao tráfico de escravos.
O enredo faz uso da estrutura narrativa do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas. “Em Memórias, a personagem Quincas Borba já é introduzida e Machado faz uso de um narrador fora do tempo. Foram esses elementos do romance que usamos no espetáculo”, explica o diretor.
Uma história do passado, bem próxima do cenário atual. Marciano diz que Memórias de um Cão traz a perspectiva de Machado de Assis, a qual ele faz uma crítica da realidade do Brasil às vésperas da abolição da escravidão.
Na época, o Rio de Janeiro estava passando por um processo de modernização muito vertiginoso. Esta fase moderna estava sendo construída com base escravocrata. A elite queria crescer sem deixar de lado as prerrogativas da classe como a exploração da mão de obra escrava e a apropriação da riqueza nacional.
Algo que não está muito distante dos conflitos que a sociedade vive atualmente. O diretor lembra que não temos a escravidão, mas temos o trabalho escravo disfarçado.
“Este cenário está muito ligado também à falta de saúde pública, de segurança, além da discriminação e racismo. Não é muito diferente de falar da João Pessoa atual”, reflete o diretor.
O espetáculo fica em cartaz até 21 de junho, às sextas, sábados e domingos. “Depois dessa temporada, pretendemos levar a peça para as principais capitais do Nordeste”, afirma.
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