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VIDA URBANA

Chuvas alagam 102 pontos na capital onde o trânsito fica impraticável

Acúmulo de água nos mesmos locais, como em pontos no Varadouro e nos Bancários, chama atenção dos moradores da cidade pelos transtornos causados. 

Publicado em 29/03/2015 às 13:00 | Atualizado em 16/02/2024 às 11:04

Chuva em João Pessoa virou sinônimo de problema. Parece tragédia anunciada. Em determinados pontos da capital, os alagamentos provocados pelo acúmulo da água da chuva são velhos conhecidos da população. O problema perdura há décadas e não se restringe às áreas de risco. São 102 pontos de alagamento, segundo a Defesa Civil, onde o trânsito fica impraticável. Enquanto a população sofre com os transtornos, a prefeitura elabora projetos e executa ações. Os valores investidos nas obras não foram informados pela Secretaria de Infraestrutura de João Pessoa (Seinfra).

Um dos pontos críticos de alagamento é no Varadouro, na frente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). A área se transformou em um símbolo da estrutura deficitária da capital paraibana e dificulta o acesso dos usuários de trens à estação ferroviária ou às paradas de ônibus. Transtorno para pessoas como Mírian da Silva, comerciante que tem um fiteiro na área. Nos dias de chuva forte, ela fica impossibilitada de trabalhar.

É das vendas de pipocas e doces que ela luta para garantir o sustento da família. “Essa é a minha única fonte de renda. Sempre que chove eu não tenho como trabalhar, e fico no prejuízo”, declarou Mírian. A Seinfra informou, através da assessoria de imprensa, que o problema do alagamento nesta área se dá porque a 'boca' de lançamento está baixa em relação ao nível do rio.

Chuvas no Varadouro deixam frente da CBTU alagada. (Foto: Francisco França)

A situação se agrava porque naquele trecho, conforme a Seinfra, o rio é influenciado pela maré alta. O alagamento se dá quando há coincidência de ocorrer chuva quando a maré está alta. A construção de residências acima da galeria, impossibilitando a limpeza da 'boca' de lançamento com máquinas. A limpeza na área é apenas manual, o que se torna um paliativo.

O problema será resolvido em definitivo quando for feita a construção do parque Porto do Capim, que prevê a retirada das residências e a reconstrução do lançamento em cota mais alta. Embora ainda esteja em fase de projeto, as obras devem ser iniciadas no início do próximo ano, segundo informações do secretário Cássio Cananéa, que responde pela Seinfra.

A doméstica Íris Lopes também sente os transtornos consequentes do alagamento na área da CBTU. Ela mora em Santa Rita e trabalha no Bessa, na capital. Diariamente desce na estação ferroviária por volta das 7h e vai para a parada de ônibus que fica em frente à CBTU. Quando chove e a área alega ela é obrigada a caminhar até o Terminal de Integração, pois as paradas de ônibus do local ficam isoladas. “Tenho que andar muito até chegar ao terminal, o que significa que tenho que sair ainda mais cedo de casa para não me atrasar para o trabalho”, desabafou.

Depois de quatro anos enfrentando essa situação, o marceneiro Jorge Luís Lisboa resolveu colocar na mochila roupa e calçado para trocar na empresa. Morador de Santa Rita, ele também usa o transporte ferroviário diariamente até João Pessoa. Lisboa contou que nos dias de chuva, quando a área alaga, ele sai caminhando no meio das águas, embora saiba que corre o risco de pegar alguma doença. “Sei que é perigoso, mas a gente tem que trabalhar. Enquanto não fizerem um projeto razoável, a situação vai ser de calamidade”, opinou.

Tubulação não dá vazão às águas

Na avenida Bancário Sérgio Guerra, principal do bairro dos Bancários, quando chove, os motoristas temem sair de casa para enfrentar o trânsito. De acordo com a Seinfra, o problema nessa área é consequência da tubulação da rede de drenagem que está subdimensionada. A solução, portanto, seria a construção de uma nova rede em paralelo. A secretaria afirmou que a obra será iniciada no segundo semestre deste ano. O valor da obra não foi informado.

Quem mora ou trabalha na localidade, não esconde a indignação. É o caso do atendente Valdick Soares, funcionário de uma clínica particular que fica no cruzamento da avenida Bancário Sérgio Guerra com a rua dos Pinheiros. Segundo ele, a clínica tem prejuízo quando chove forte. Com a área alagada, muitos pacientes faltam ou cancelam as consultas. “É um problema sério. O dono da clínica já fez umas fotos e entregou à prefeitura para ver se dá um jeito”, explicou Soares.

Dono de um estúdio de tatuagem no mesmo trecho, Júlio César Assunção disse que alguns estabelecimentos comerciais já fecharam as portas porque, quando chove, a água invade a parte interna, o que afasta a clientela. “Em dias de chuva forte, o trânsito fica muito complicado, até ônibus têm dificuldade de passar”, pontuou.

O trecho inicial da avenida Epitácio Pessoa, a principal da cidade, também entra na lista das vias com problemas de alagamento. O cenário é semelhante ao que encontrado nos Bancários. A solução é construir uma nova rede em paralelo ou ampliar a existente, segundo informou o secretário Cássio Cananéa. Mas ainda não dá para se animar, pois os projetos estão em fase de elaboração e não há início para a execução da obra, que precisa ser aprovada e licitada. A mesma situação se aplica à área que fica nas proximidades do Mercado da Torre, para a qual ainda não há projeto definido.

Defesa Civil da capital monitora pontos críticos

AÇÃO. Para retirar as famílias da situação de calamidade foram construídas moradias seguras em bairros de JP. (Foto: Francisco França)

O coordenador da Defesa Civil municipal, Noé Estrela, revela que João Pessoa tem 102 pontos de alagamento, mas elencou alguns como os mais problemáticos. São eles: entorno da CBTU, avenida Coremas, avenida Pedro II, Mercado da Torre, avenida Sérgio Guerra e Miramar, na altura do posto 99. “Os alagamentos ocorrem porque a rede de drenagem é antiga, acho que da década de 1960. À medida que a cidade vai crescendo, nós vamos ampliando a rede, mas o trabalho de drenagem não é tão simples”, declarou.

Segundo Noé, a correção de rede é um trabalho minucioso e que vários pontos já foram licitados. “Para resolver em definitivo, demanda tempo. Um alagamento em determinado trecho da avenida Epitácio Pessoa às vezes implica em quebrar calçamento até 1km adiante”, afirmou o coordenador.

Em relação às áreas de risco, cujos problemas foram minimizados nos últimos anos, Estrela disse que várias medidas foram adotadas para retirar as famílias da situação de calamidade. Atualmente a cidade tem 31 áreas de risco. Famílias de comunidades como São José, Novo Horizonte, Timbó e Saturnino de Brito foram beneficiadas com moradias seguras, após serem retiradas das áreas de risco iminente, segundo explicou Estrela.

No São José, por exemplo, foram relocadas 200 famílias. “Foi adquirido um terreno próximo para a construção de casas no entorno, para que não haja uma mudança brusca, que tem reflexos na vida social das pessoas”, afirmou o coordenador. Da Saturnino de Brito, 400 famílias também foram retiradas. “De toda a cidade retiramos mais de 2 mil famílias”, informou Estrela, que disse não saber o valor dos investimentos.

O coordenador destacou que neste mês, mesmo com as fortes chuvas registradas na capital, nenhuma família ficou desalojada. “O que acontecia antes era que bastava chover um pouco para a água invadir as casas. Como consequência, as famílias eram levadas para abrigos. Hoje a situação é diferente”, explicou Estrela. Através da operação ‘João Pessoa em ação – força municipal de prevenção de riscos’, as secretarias municipais se unem para desenvolver ações que visem diminuir os transtornos ocasionados pelas chuvas. O telefone da Defesa Civil é 0800 285 9020.

Leia mais na edição impressa deste domingo (29) do JORNAL DA PARAÍBA.

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Jornal da Paraíba

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