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CULTURA

Djavan canta o Nordeste em 'Vidas pra Contar', seu novo trabalho

Alagoano conta ao JORNAL DA PARAÍBA como gosta de compor e fala sobre a canção inspirada no Nordeste que abre disco de inéditas.

Publicado em 10/11/2015 às 9:00

"A vida não é de festa / Para o povo do sertão / Mas até quem não tem empresta / dá a mão". Os versos de ‘Vida nordestina’, xote que abre o novo álbum de Djavan, Vidas Pra Contar (Sony Music, R$ 24,90), levam o músico alagoano de volta à região que conheceu na infância e abraçou na adolescência, quando rodava o interior de Alagoas com a banda de rock LSD.

Por telefone, Djavan comenta com a reportagem que se conecta sentimentalmente com a história do povo nordestino: o sofrimento, a religiosidade, a fraternidade. “É uma coisa que está impregnada na minha alma. Sou nordestino, filho de nordestinos e conheço profundamente o Nordeste”, dispara o músico, que se declara apaixonado pela região, que lhe traz uma saudade perene: “Gosto da comida, do sotaque, da maneira como as pessoas se vestem, gosto das cidades”.

Para Djavan, a dificuldade era saber o que dizer sobre a região. “Eu conheço todos os craques que falaram sobre o Nordeste: Luiz Gonzaga, Ary Lobo, Jackson do Pandeiro, Humberto Teixeira, Zé Dantas… essas pessoas cantaram e decantaram o Nordeste e falaram com maestria sobre todas as questões. Daí eu resolvi falar da religiosidade, das festas, do sofrimento, mas sem fazer uma música pra baixo, um reclamo, mas uma música pra cima e ficou muito bonita, por isso resolvi abrir o disco com ela”.

Musicalmente, Djavan não viaja ao Sertão desde 'Farinha', outro xote que abre Milagreiro (2001). Mas o tema aparece com certa frequência na discografia do músico, desde 'Ventos do Norte' e ‘Maçã do rosto’, ambas do primeiríssimo LP, A Voz, o Violão, a Música de Djavan (1976), passando por ‘Estória de cantador’, de Djavan (1978).

Embora comece com um xote, Djavan volta a djavanear no restante das 12 faixas do repertório, reencontrando a musicalidade que tanto lhe é cara, como o samba sincopado do qual é mestre ('Ânsia de viver'), balada ('Encontrar-te') e até uma valsa francesa ('O tal amor').

Em duas faixas - ‘Enguiçado’ e ‘Se não vira jazz’ - ele canta sobre uma segura base jazzística (a segunda, com arranjos mais modernos, tem cara de hit) e faz um belo exercício paradoxial ao emplacar um bolero em ‘Não é um bolero’.

Além do Sertão, Djavan também presta uma homenagem à mãe na autobiográfica ‘Dona do horizonte’, cuja letra, o autor lembra dos artistas que ela o fez ouvir: Orlando Silva, Dalva de Oliveira, Angela Maria e Luiz Gonzaga. “Eu já falei em várias entrevistas sobre a influência musical que ela exerceu em mim, mas desta vez tive vontade de escrever uma canção”, comenta.

FEITO PÃO QUENTE

O repertório de Vidas Pra Contar é todo inédito, com canções construídas ao longo da gravação, entre fevereiro e agosto deste ano. “Eu gosto de fazer música e gravá-la. É como o pãozinho quente, que sai do forno e a gente come”, brinca.

Dez dias antes do dia 23 de fevereiro, quando começaram as gravações, Djavan não tinha nada. “Em 10 dias, eu fiz cinco músicas, mas só música, sem a letra, porque o processo é esse: eu faço a música para depois botar a letra”, explica o músico, que prefere compor no ambiente do estúdio. “Eu me sinto mais inspirado e é assim que eu tenho feito nos últimos discos”.

Sem qualquer tipo de pressão - nem de gravadora, nem dos fãs -, Djavan afirma que compor é diversão e intuição. “Eu faço o que meu coração pede”, resume. “Eu não penso em tendência, ou no que o público gosta ou quer ouvir. Isso não interessa, o que interessa é agradar a mim mesmo. Esse é o meu jeito de ser”, afirma.

Para o cantor e compositor, criar o repertório de Vidas Pra Contar não foi nada além de mais um dia de trabalho: “A motivação (para compor o novo repertório) é o ofício. Compor é a minha vida, eu preciso compor periodicamente. Então, fazer 12 músicas novas foi muito natural pra mim. Não é natural não fazer nenhuma, como foi em Ária (disco de interprete lançado em 2010)”.

A nova turnê começa no dia 25 de fevereiro de 2016 e entre abril e maio, deverá passar pelo Nordeste, com uma possível escala na Paraíba. "João Pessoa é um lugar imprescindível", afirma Djavan.

sobre músicas novas. Djavan: "Eu não penso em tendência, ou no que o público gosta, o que querem ouvir. Isso não interessa! O que interessa é agradar a mim mesmo. Esse é o meu jeito de ser”

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Jornal da Paraíba

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