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VIDA URBANA

Tráfico contrata estudantes como 'aviõezinhos' para droga nas escolas

Há denúncias de alunos “aviõezinhos” infiltrados entre os demais estudantes. Além de promover mais proximidade com as “iscas”, a alternativa tem sido menos arriscada e ainda mais lucrativa.  

Publicado em 14/03/2010 às 15:50

Jacqueline Santos
Do Jornal da Paraíba

As bocas-de-fumo das comunidades onde a segurança pública é insuficiente estão longe de ser a única maneira de se conseguir drogas. Um dos meios encontrados pelos traficantes, muito eficaz por sinal, consiste na abordagem nos arredores das escolas. Há denúncias, inclusive, de alunos “aviõezinhos” infiltrados entre os demais estudantes. Além de promover mais proximidade com as “iscas”, a alternativa tem sido menos arriscada e ainda mais lucrativa.

Luciano, de 16 anos, era um dos matriculados no ensino médio de uma escola pública localizada no bairro de Mangabeira. O comportamento estranho e os indícios de que o garoto estaria consumindo drogas levaram a mãe a começar um trabalho de investigação, por conta própria. Após ter certeza de que ele já havia entrado no vício, ela passou a acompanhar os passos do filho, sempre com a cautela para não assustá-lo e com o objetivo de ajudá-lo a se livrar do problema.

Ao visitar a escola onde estudava e depois de conversar com colegas de turma de Luciano, a dona de casa descobriu que além de usuário, o adolescente comercializava a mercadoria. Ele usava maconha, droga considerada mais leve, mas repassava uma das mais devastadoras que existem: o crack.

Após aceitar a ajuda da mãe, que procurou o Conselho Tutelar da região, o menino foi encaminhado para tratamento na unidade do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), destinada a dependentes de álcool e outras drogas. Em depoimento a um dos conselheiros, ele confessou que comercializava o crack, mas não o consumia porque conhecia bem o grau de nocividade da substância, subproduto da cocaína e que causa maior dependência se comparada às demais drogas ilícitas, a exemplo da maconha e das sintéticas como o ecstasy.

Mesmo com a dependência, Luciano continuava comparecendo à escola e utilizava o ambiente para propagar o seu negócio. Ele declarou que conseguia o produto junto a alguns colegas, mas preferiu omitir quem seriam, de fato, os fornecedores. “Nesse ramo, o medo de dedurar é muito grande. Há a lei do silêncio e quem falar acaba morrendo uma hora ou outra”, conta o conselheiro tutelar Vinícius Araújo, que lida com casos semelhantes e confirma que a droga tem acabado com a vida dos jovens.

Mesmo sem confessar de onde adquiria e quem estava por trás desse comércio ilegal, Luciano disse um dos motivos que o motivaram a ingressar na atividade era a lucratividade. De fato, a fascinação ilusória de que o tráfico pode trazer dinheiro e bens impossíveis de ser conseguidos com as ajudas de custo subsidiadas pelos programas sociais ou por empregos formais tem sido o principal atrativo para que os jovens rejeitem a legalidade e partam para o mundo do crime.

“Com o objetivo de comprar aquela roupa de marca, o tênis da moda, ter condições de sair com namoradas, ir para baladas, mostrar certo poder perante os outros, os meninos são seduzidos para atuarem como aviõezinhos do tráfico”, disse Araújo. Luciano tirava cerca de R$ 400, conforme relatou ao Conselho Tutelar.

O tráfico tem, nas escolas, um achado promissor quanto à busca de novos clientes. São crianças e adolescentes que, na maioria das vezes, acabam abordados na porta dos colégios e, seduzidos, enveredam pelo caminho do vício. De acordo com o conselheiro Vinícius, da região de Mangabeira (que abrange ainda os bairros Valentina e adjacências, Bancários, Praia da Penha e do Sol), grande parte das instituições sofre com a problemática.

A Escola Estadual Luís Ramalho, localizada no bairro mais populoso da capital, foi um dos locais mirados pelos traficantes, no ano passado. Um dos alunos que era dependente químico estaria repassando a droga para moradores da comunidade onde residia, frequentadores dos arredores da escola e aos próprios alunos. A informação partiu do Conselho Tutelar, que evitou revelar nomes.

Questionada acerca do envolvimento de um dos estudantes do colégio no tráfico, a diretora Mônica Nascimento disse que desconhecia a denúncia e que soube de um caso apenas em 2008, mas não o acompanhou, pois está à frente da unidade há apenas um ano. “Estamos numa situação bastante tranquila, atualmente. Há seis anos, os colégios tinham mais problemas porque havia uma mistura de faixa etária entre as séries,”, defende, reconhecendo, porém, a presença de dependentes entre o seu alunado.

Problema é muito maior em escolas da periferia

Na região coberta pelo Conselho Norte os colégios onde a situação é mais crítica, citados pelos titulares do órgão, são a Escola Estadual Presidente Médici, que entre as décadas de 1970 e 1980 era referência, a Escola Municipal Leonel Brizola, que ficam próximas a comunidades como São Rafael. “Em escolas localizadas perto de áreas periféricas se pode notar uma presença maior dos envolvidos com o tráfico. A tendência é que o crime visto naquela comunidade invada as escolas. O acesso às drogas fica mais facilitado”, descreveu Brilhante.

A maior parte dos alunos que se envolvem com o comércio de drogas está na faixa entre 14 e 16 anos de idade. Se nem sempre as severas sanções no âmbito escolar são eficientes para resolver o problema, já que o menor não pode ser afastado da sala de aula, parece que não há alternativa a não ser focar em trabalhos de orientação e prevenção para que outros não sejam atraídos.

A promotora da Educação, Fabiana Lobo, disse que ações de enfrentamento ao uso e comércio de drogas nos ambientes escolares, tanto no interior dos prédios quanto nas áraes externas próximas às unidades devem ser implantadas nos próximos meses.

Em reunião entre a representante do Ministério Público do Estado e conselheiros tutelares ficou definido que todas as escolas passarão por inspeções para analisar diversos aspectos. “A estratégia vai nos dar uma noção das áreas mais vulneráveis ao problema da drogadição. Foi firmado um termo de cooperação técnica com os Conselhos Tutelares e pretendemos formar uma força tarefa no combate à disseminação das drogas”, destaca.

O promotor da Infância e Juventude de Campina Grande, Herbert Targino, confirmou que há várias denúncias da presença de traficantes dentro das escolas e nas áreas próximas, e disse que, para encontrar uma solução viável, estão sendo realizadas averiguações sigilosas. Ações preventivas de orientação sobre o tema também são desenvolvidas pelo MPPB.

Por outro lado, as rondas policiais têm servido para minimizar a incidência de pessoas ligadas ao tráfico de drogas nas escolas. Uma das intervenções fica por conta da Patrulha Escolar, que presta assistência à comunidade escolar, mas o serviço ainda é insuficiente para atender as regiões afetadas de forma integral. Atualmente existem apenas 18 policiais atuando na Patrulha Escolar, de acordo com o comandante Getúlio Bezerra, da Polícia Militar.

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Jornal da Paraíba

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