'O Brasil hoje é muito mais careta'

A oito dias de completar 73 anos de idade, Ney Matogrosso diz o que quer, como quer e para quem quer. “O Brasil, hoje em dia, é muito mais careta do que era nos anos 70”, dispara o cantor, comparando os dias atuais aos de quando estreou, 40 anos atrás, com a transgressora banda Secos & Molhados.

“Nos anos 70 existia uma euforia pela liberação. Acho que foi a Aids que fez recuar. Não se caminha só pra frente: a gente dá um passo pra frente, dois pra trás - e estamos nesse passo pra trás agora. Não tem como parar também, porque existe muita informação liberada no mundo”.

Para ele, esse retrocesso não é só comportamental. É político também. De acordo com Ney Matogrosso, vivemos em uma “pseudo democracia”, fomentada por “uma mentalidade repressora que tenta se estabelecer”.

“Dizem que é democracia, liberdade, mas isso é uma mentira”, afirma, com bastante ênfase. “Então, eu faço a minha parte. Eu não respeito essa regra, porque eu percebo que não existe essa democracia. É um trabalho de todos nós, não admitir esse retrocesso”.

Segundo Ney, as religiões, muito poderosas financeiramente, impõem normas dentro da política e contribuem para esse momento de retração. “O Brasil é um país laico, não tem que ver religião nenhuma com o governo, e aqui estamos submetidos às religiões dentro da política, e com uma grande influência”, opina.

Para ele, o politicamente correto, tão em voga hoje, “é uma coisa enjoada, chata”. “A vida perde a graça. Não se pode mais brincar, ser alegre, não pode sorrir. Tudo não pode! Umas regras idiotas. Em nome do quê? Eu não sei!”.

Ney continua: “As pessoas se acomodam, ficam submetidas a isso. A coisa é subliminar, não é uma coisa imposta. É uma coisa que vem se alastrando, esse pensamento conservador. E eu não sou conservador, eu sou pelas liberdades absolutas. Todas! Agora, você tem direito a sua liberdade absoluta e você tem toda responsabilidade por ela. É assim que eu penso”.