Eros com sabor tout fruit

O erotismo é um dos traços mais visíveis da sociedade contemporânea, e a internet, seu principal meio de difusão. Com o filtro de segurança do Google desativado, Sidney Azevedo passa boa parte de seu tempo navegando por sites da web em busca de imagens das quais sua arte possa se apropriar para refletir sobre este contexto.

As sete pinturas da série Pin-ups Tout Fruits, que o artista plástico apresenta amanhã em João Pessoa, são alguns exemplos deste trabalho que tem o objetivo de lançar um olhar moderno sobre a nudez, um tema recorrente nas artes desde a Grécia Antiga.

"Meu trabalho sempre teve um pé no erotismo. Sempre me interessou o erotismo que não é o cotidiano ou o clássico que costuma ser explorado, mas a sua abordagem onírica e idealizada", explica o artista, cujas pinturas a óleo ficam em cartaz no Hall de Exposições Energisa (na BR-230) durante todo o mês de fevereiro.

As obras desta que é a quarta individual de Azevedo já foram mostradas ao público em uma coletiva na Casa das Artes Visuais (CAV), no início do ano passado, com o amigo Shiko e o ex-professor de desenho Chico Dantas, intitulada 3PB.

Segundo Azevedo, as telas marcam uma nova fase de sua trajetória e a quebra com um preconceito que ele tinha desenvolvido com a pintura: "Eu já não via mais a pintura como um categoria artística a ser retomada", confessa o também escultor, que passou a dedicar-se a instações autorreferenciais, nas quais seu próprio corpo servia como base.

A volta ao desenho e à pintura se deu por incentivo do amigo Shiko, que o influenciou também a retornar às formas femininas: "O convite para expormos juntos na CAV foi uma provocação", brinca Azevedo, que em 2012 reencontrou-se com o parceiro de noitadas no antigo Sanatório (hoje Empório Café) e o surpreendeu com suas pin-ups psicodélicas.

"Essas mulheres são todas esquizóides e etéreas, não têm tempo nem lugares definidos", afirma Azevedo, que usa várias camadas de pintura e cores berrantes e lisérgicas para modificar as imagens captadas na internet, até um ponto em que as modelos fiquem irreconhecíveis até para os autores das fotografias que ele utiliza.

"As figuras são hiperrealistas, mas eu procuro imprimir uma simultaneidade no fenômeno visual a fim de me remeter ao cubismo e a outros movimentos que romperam historicamente com os padrões estéticos", define o artista, que não pede autorização aos autores das fotos com que trabalha, valendo-se apenas da técnica para 'driblar' o copyright.

O resultado é o deleite visual proporcionado pelas tais 'pin-ups tout fruits', musas clandestinas que saltam em fundos chapados.