De presente para o samba

Para Ana Costa, o melhor do samba é o improviso. "Eu penso que o samba já tem essa flexibilidade natural. A gente pode viajar o mundo e mostrar nosso trabalho com o CD debaixo do braço", diz a carioca que no seu terceiro disco, Hoje É o Melhor Lugar (Biscoito Fino, R$ 29,90), optou por usar essa flexibilidade a seu favor no que diz respeito à formação da banda.

"Eu vivo da música e quero continuar a viver. E hoje em dia tudo depende de patrocínio. Viajar com uma equipe não é uma coisa barata, percebi isso na turnê anterior", conta a cantora cujo segundo CD, Novos Alvos (lançado em 2010 também pela Biscoito Fino), exigiu uma formação de banda e uma estrutura que teve que se adaptar a uma turnê que partiu do Rio de Janeiro para outras capitais como Salvador (BA) e Recife (PE).

Com produção musical de Carlinhos 7 Cordas, participação especial de Moyses Marques e composições em parceria com Agrião, Zélia Duncan e Mu Cherabi (as três únicas canções inéditas), Hoje É o Melhor Lugar é, essencialmente, um álbum de regravações de temas que, segundo Ana Costa, as pessoas queriam ouvir em sua voz.

"Este projeto surgiu a partir do momento que tive realmente que cair na estrada. O outro CD era de mais difícil assimilacão, num primeiro momento, então comecei a curtir mais, fazer experiências para ver o que as pessoas gostavam de me ouvir interpretando.

Me espelhei muito em artistas que fazem disso sua realização, como Beth Carvalho e Leci Brandão. Elas cantam pra quem gosta de samba".

Para fechar o setlist, por exemplo, Ana Costa escolheu 'O que é, o que é', que capta uma fase atual da vida particular que envolve a superação da morte de sua mãe: "Quis fazer um disco relaxado, que estivesse a fim de cantar e pudesse cantar em qualquer ocasião. Músicas populares e que todo tipo de gente gosta.

Como 'As coisas que minha mãe me ensinou' ou a vinheta de Gonzaguinha, que fala de felicidade e é a cara do disco".

Há dez anos se apresentando no Carioca da Gema, casa tradicional do bairro da Lapa, Ana Costa fala um pouco sobre a cena do samba carioca, que ela diz ser bastante irregular, ao contrário do que muitos pensam.

"Sempre fui muito relacionada à história da Lapa, mas não sou tão otimista com relação à cena carioca não. O Rio de Janeiro passa por um momento que tem que se prestar muita atenção no que se faz. A cidade já foi mais uma vitrine. Hoje, andando, posso ver muita coisa concentrada na Lapa e pouca coisa fora dela.

Tem sido difícil até de se manter um estabelecimento comercial no Rio de Janeiro".

Em meio à insalubridade, Ana Costa emerge com uma postura profissional e autêntica, mas consciente das limitações impostas pelo mercado: "Eu faço música, mas não é algo que eu faça diariamente, batucando na mesa do bar. Gosto muito quando alguém me procura, com uma letra. É difícil você se situar no meio de tanta gente querendo ser diferente. O samba hoje está numa levada de pessoas jovens querendo mostrar suas músicas, fazendo discos autorais. Eu fiz isso em 2006. Agora, resolvi ir na contramão".

E, cutucando a ala jovem, ela se sai com essa: "As pessoas ficam reclamando que não tocam, que não conseguem trabalhar e que é difícil vender na rede e ganhar público. Em compensação, não dão nada em troca, nada de presente para o público".

Hoje É o Melhor Lugar fica sendo, portanto, o seu presente para os fãs.