VIDA URBANA
Levar uma vida saudável evita problemas cardíacos e outras complicações
Na Paraíba, foram registrados 8.505 óbitos entre janeiro de 2013 e março desse ano, tendo como causa hipertensão, infarto e AVC.
Publicado em 03/05/2015 às 8:00 | Atualizado em 14/02/2024 às 12:21
Acordar cedo, sair para caminhar, tomar remédios, consumir uma alimentação balanceada e dar conta das tarefas domésticas. Esse passou a ser o ritual diário da aposentada Maria Lúcia Araújo Jorge, 67 anos, que mora no bairro do Jardim Quarenta, em Campina Grande. Há 19 anos ela descobriu que era cardiopata e teve que mudar seus hábitos para evitar complicações futuras. Por tomar esses cuidados, ela ficou de fora da estatística da Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta as doenças cardiovasculares como as maiores causadoras de mortes no mundo. Na Paraíba, foram registrados 8.505 óbitos entre janeiro de 2013 e março desse ano, tendo como causa hipertensão, infarto agudo do miocárdio e Acidente Vascular Cerebral (AVC), segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Há 19 anos, a aposentada Maria Lúcia segue rotina rígida de alimentação e atividades físicas para se prevenir de problemas cardíacos. (Foto: Leonardo Silva)
Sabendo do risco que corre se não tomar os devidos cuidados, dona Maria Lúcia resolveu abdicar dos velhos costumes e ter uma vida mais saudável. “Comidas gordurosas eu até nem comia muito e acabei não sentindo tanta falta, mas os doces, que eu tanto gostava, tive que deixar de lado, até porque também sou diabética. O sal foi quase que eliminado das minhas refeições e agora eu passei a comer mais legumes. Todo mundo aqui em casa teve que se acostumar com isso. Vou a cada seis meses ao médico para fazer os exames de rotina”, conta. Ela decidiu tomar essas precauções depois de ter passado por uma sucessão de ataques cardíacos, ocasionados pela má alimentação e pelo tabagismo, já que seu esposo era tabagista e ela acabava fumando passivamente. Ela precisou fazer um cateterismo e se submeter a uma cirurgia de revascularização do miocárdio (colocação de ponte de safena, ponte de artéria mamária).
O médico cardiologista, Mateus Veloso, explica que as medidas que dona Maria Lúcia vem tomando são fundamentais para o controle das doenças cardíacas, que estão estreitamente relacionadas com o modo de vida das pessoas. “Fazer exercícios físicos, ter uma boa alimentação, controle da pressão arterial e do peso, são questões que ajudam no controle das doenças cardiovasculares e auxiliam na prevenção”, pontuou. Segundo ele, na frequência de doenças ligadas ao coração, as mais comuns são hipertensão e doenças coronárias, como o infarto, seguidas de arritmia.
Ainda de acordo com o médico, o tratamento para esse tipo de doença varia de acordo com a situação dos pacientes e a gravidade das suas patologias. Na maioria dos casos ele é medicamentoso, podendo ser necessária a realização de algum procedimento cirúrgico. “Basicamente o paciente que é pouco sintomático poderia ficar só medicação. O que acaba acontecendo na prática é que quando nós identificamos logo a doença, diminuem-se os riscos de desenvolver um problema agudo. Mas é importante que eles tenham em mente que uma vez desenvolvida a doença cardíaca, sempre haverá chances de elas surgirem de novo. É fundamental que o paciente tome ciência dos riscos associados para evitar uma progressão” alertou.
Equipamento portátil vai detectar males do coração
Idealizador do projeto, o estudante Genilson Medeiros, defende que equipamento seja de baixo custo e fácil manuseio
Para facilitar o monitoramento de doenças cardiovasculares e oferecer mais comodidade às pessoas que enfrentam esse tipo de problema, pesquisadores da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (Facisa) de Campina Grande estão desenvolvendo um Eletrocardiógrafo portátil. O equipamento irá captar pulsos elétricos do corpo humano e funcionará como uma ferramenta importante para a detecção desses males, segundo o idealizador do projeto, o estudante do curso de Sistemas da Informação, Genilson Medeiros, 29 anos. A ideia é construir um aparelho para o uso doméstico, de fácil manuseio e baixo custo. Um protótipo válido deve ser produzido ainda esse ano.
A iniciativa surgiu há dois meses e partiu da necessidade de popularizar o uso do eletrocardiógrafo, que já é um equipamento comumente utilizado nas clínicas especializadas para fazer o eletrocardiograma (ECG), exame essencial na análise de doenças cardíacas, e se transformou no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Genilson, orientado pelo professor coordenador do Laboratório de Tecnologia da Informação (LTI) da FACISA, Adriano Santos. Genilson é técnico em Eletrônica e participou de projetos ligados à cardiologia, então resolveu agregar os conhecimentos adquiridos nessas áreas para criar o aparelho.
“O nosso objetivo foi criar um dispositivo que seguisse o mesmo padrão técnico, com relação às medições exigidas pelos especialistas, de um ECG comercial e que fosse uma solução de baixo custo. O equipamento usa como base um hardware open source chamado Arduino em conjunto com um Shield responsável pela captura de pulsos elétricos do corpo humano. Através de três pulseiras responsáveis pela captura dos sinais elétricos do corpo e que devem ser vestidas, uma em cada membro superior e uma no membro inferior, é formando o Triangulo de Einthoven, e se torna possível obter alguns traçados do ECG”, explicou Genilson.
Como a elaboração do eletrocardiógrafo requer conhecimentos da área de tecnologia e de saúde eles chegaram a participar de um curso de eletrocardiografia e uma equipe interdisciplinar foi montada para que as exigências técnicas de um ECG comercial sejam atendidas. Além de Genilson e Adriano, duas alunas de Medicina, duas de Enfermagem e uma de Sistemas da Informação estão engajadas no projeto. “Estamos focados no desenvolvimento do nosso equipamento, queremos fazer algo que seja realmente útil à população. Certamente será bem mais barato do que os equipamentos convencionais, que custam em torno de R$ 3.500. Como o nosso usa tecnologia livre, o custo de produção poderá cair para algo em torno de R$ 60,00”, comentou Genilson.
Projeto encontra-se em fase de validação
Já que o eletrocardiógrafo portátil objetiva facilitar o acesso das pessoas ao aparelho que é fundamental para a detecção de doenças cardíacas, os pesquisadores estão otimistas quanto a sua capacidade de salvar vidas. De acordo com o professor orientador do projeto, Adriano Santos, a ferramenta possibilita um monitoramento rápido e diário da situação do coração, permitindo com que doenças silenciosas sejam diagnosticadas com uma maior facilidade.
“Frequentemente, os problemas elétricos do coração são ocultos e só é possível detectá-los no caso de se conseguir registrar um eletrocardiograma no momento em que os sintomas estão presentes. Nosso objetivo é ter um equipamento que seja acessível à população, fazendo com que vidas possam ser salvas. É importante frisar que é de extrema importância a presença de um especialista médico no processo de tomada de decisão”, alertou Adriano.
O professor conta ainda que o projeto encontra-se em fase de validação. Nessa etapa estão sendo realizados vários testes, que vão desde a aprovação do software às métricas utilizadas no produto e os próprios hardwares. Ele reforça que é necessário fazer com que tudo o que está sendo desenvolvido esteja de acordo com o padrão exigido para esse tipo de equipamento.
A prioridade dos pesquisadores é construir um aparelho direcionado para o uso doméstico, mas eles consideram também a possibilidade de expandi-lo. Depois que ele estiver pronto pode também ser disponibilizado em unidades de saúde. A Sociedade Paraibana de Cardiologia (SPC) aprova a iniciativa e a considera como inovadora.
Comentários