VIDA URBANA
Cidade da PB onde primos se casam é destaque no Bom Dia Brasil
Em Bernardino Batista, na divisa da Paraíba com o Ceará, quase todo mundo é parente. Primo casa com primo. Medo é de que filhos nasçam com alguma deficiência.
Publicado em 27/12/2010 às 8:31
Do Bom Dia Brasil
Na cidadezinha do interior da Paraíba, cada nascimento é cercado de muita apreensão. Terra dos primos casados, Bernardino Batista fica na Paraíba, divisa com o Ceará. “É uma grande família”, diz uma moradora.
Uma família de três mil moradores ligados por laços de sangue e um recorde: de cada dez casais da cidade, quatro são de primos. “Nós somos cinco filhos. Quatro casaram com primos”, conta uma professora.
Mas como explicar essa atração entre parentes? “Se gostam e aí casam”, resume uma senhora. Francisca ficou viúva de um primo e não teve dúvidas: escolheu outro primo para casar. “Se acontecer de não dar certo com ele, eu procuro outro primo”, se diverte.
Assista à reportagem no vídeo abaixo
Os avós da Dona Margarida eram primos de primeiro grau. Os pais dela também, e a Dona Margarida escolheu um primo legítimo para se casar, assim como a irmã dela. E há outros quatro casamentos marcados na família entre primos.
A família Marinho se transformou um caso digno de estudo por apresentar 16 parentes surdos. Ela teve seis filhos. Três nasceram surdos e uma com problema mental. Os casos de surdez se repetem na família.
Mas por que o casamento entre primos pode por em risco à saúde dos descendentes? As características do pai e da mãe, como a cor do cabelo e o tipo de sangue, são transmitidas para os filhos por meio de genes. Vamos imaginar um casal em que o homem tem um dos genes defeituosos. Ele tem dois filhos que recebem essa mesma carga genética com problemas. Os irmãos se casam com outras pessoas e transferem os genes defeituosos para os filhos. Esses primos se casam e podem, assim, repassar os genes doentes para as crianças.
“Essas doenças que aparecem mais em primos são doenças que a gente chama de recessivas, que você precisa receber dois genes – um do pai e outro da mãe com erro genético – para aparecer a doença”, explica a médica geneticista Mayana Zatz.
O isolamento e os hábitos culturais ajudam a unir os casais de primos. Dona Antônia teve 15 filhos com um primo. Apenas seis sobreviveram. Quatro têm uma doença neurodegenerativa, em que perdem os movimentos e a fala.
“Normalmente os casais aparentados têm um casamento mais tranquilo, mas existe um risco biológico de nascimento de crianças com algum problema. Cada casal tem de conversar, fazer escolhas e assumir suas escolhas”, afirma uma especialista.
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