VIDA URBANA
Jornal da Paraíba publica série de reportagens sobre discriminação racial
Na véspera do Dia Internacional contra a Discriminação Racial, Jornal da Paraíba publica uma série de reportagens sobre o tema.
Publicado em 20/03/2016 às 12:00
Desde criança, Maria da Penha Silva se habituou a ouvir comentários desagradáveis sobre seu cabelo, sua cor e sua origem. Na escola, a chamavam de 'pretinha'; na adolescência, de 'mulata'. Hoje, aos 28 anos de idade, Maria continua sendo vítima de racismo por onde passa. É sempre 'aquela morena', 'aquela do cabelo ruim', 'aquela dos lábios grossos'. A jovem, na verdade, tem orgulho da pele escura e do cabelo crespo e faz questão de corrigir quando alguém a chama de morena. “Sou negra”. Para ela, o racismo está impregnado no pensamento da sociedade, embora quase ninguém admita que é racista.
Diante dessa realidade que perdura por séculos e em homenagem ao Dia Internacional contra a Discriminação Racial, comemorado amanhã, o JORNAL DA PARAÍBA publica uma série de reportagens sobre o tema. É um convite à reflexão, mas é também uma forma de dar voz a quem, muitas vezes, parece invisível aos olhos da sociedade. Ao final, será publicada uma reportagem esclarecendo as penalidades previstas na legislação brasileira para quem comete o crime. Amanhã, em João Pessoa, haverá eventos alusivos à data com palestras, debates, etc.
Na Paraíba, mais da metade da população se declara preta ou parda, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). A relação é de 6 negros a cada 10 habitantes. Mesmo assim, o racismo tem se tornado cada vez mais frequente. A cor da pele, mesmo após o fim da escravidão, ainda provoca abismos entre a população. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) considera negro a soma entre pretos e pardos que assim se declaram no momento da pesquisa.
A coordenadora da ONG Bamidelê, Terlúcia Silva, lamentou a pouca visibilidade que a data tem e disse que ainda há muito o que avançar nas causas raciais. “O dia de amanhã é de reflexão pela luta e persistência das pessoas negras”, declarou. “Temos um país que viveu mais de 350 anos de escravidão, mas que ainda hoje trata o negro como se ele fosse menor”, afirmou.
É preciso, por exemplo, levar a discussão para a sala de aula. A lei federal 10.639/03 obriga a inclusão da temática 'história e cultura afro-brasileira' no currículo oficial das escolas, mas são poucas as instituições que cumprem, segundo Terlúcia. “A lei existe, mas não foi implementada. É preciso lembrar que a evasão escolar é muito alta entre crianças negras, que desistem de estudar porque o ambiente escolar é hostil. A partir do momento que a escola trata o conteúdo de forma positiva, o espaço se torna acolhedor, diminuindo as desistências. Uma coisa está ligada à outra”, frisou a coordenadora.
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