VIDA URBANA
Menos da metade dos docentes tem curso superior
Realidade presente nas salas de aula da educação infantil na Paraíba causa prejuízo no aprendizado, diz especialista.
Publicado em 15/08/2014 às 9:00 | Atualizado em 07/03/2024 às 15:58
Menos da metade dos professores da educação infantil na Paraíba tem curso superior. A consequência direta dessa realidade é o prejuízo no aprendizado escolar dos estudantes, conforme a pedagoga e mestre em Educação Daniele Dias. Segundo ela, a falta de qualificação vai refletir diretamente na qualidade do ensino. “É importante destacar que só a graduação não basta, não resolve os problemas. Os professores precisam de uma formação continuada, não podem estagnar”, frisou.
É a busca constante pelo aprendizado por parte dos professores que vai contribuir para uma boa qualidade do ensino oferecido seja na educação infantil, no fundamental, no ensino médio e até nas universidades. Na Paraíba, 46,2% dos professores da educação infantil têm curso superior, mas o restante (que é a maioria) não possui diploma, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
A formação continuada do professor é fundamental também por conta das novas mídias, que exigem uma preparação adequada para usar a internet dentro da sala de aula. Dá aula nos dias de hoje não é a mesma coisa que ministrar aula na década de 80 ou 90, segundo Daniele. “O professor precisa acompanhar esse avanço”, afirmou.
Mas essa busca pelo conhecimento ainda é muito particularizada, conforme a mestre em educação. “Muitos professores têm que trabalhar os três turnos e não têm tempo necessário para a formação. Conciliar a carga de trabalho com a formação nem sempre é tão fácil quanto se pensa”, pontuou. Nesse processo é importante também a participação em cursos e eventos como simpósios e congressos, que permitem a atualização dos profissionais.
A coordenadora pedagógica do Colégio Marista Pio X, em João Pessoa, Silvana Camurça, disse que a falta de formação específica do professor da educação básica pode afetar diretamente no processo ensino-aprendizagem, “até porque cada disciplina precisa de suas especificidades próprias”. Segundo ela, um professor graduado está preparado (ou pelo menos deveria) para repassar o conhecimento específico e conceitual sobre o que ele vai ensinar.
Contudo, segundo a coordenadora, o fato de alguém ter um diploma de curso superior não quer dizer que ele está 'pronto'. “O mundo gira o tempo todo, está sempre em movimento, por isso é preciso que os professores busquem se atualizar com novas didáticas, novos ensinos”, comentou. Ela disse ainda que a universidade tem se expandido pensando na formação específica dos professores da educação básica com o objetivo de sanar esse problema.
“Infelizmente ainda temos um percentual muito grande, que implica em determinados erros que acontecem em sala de aula, devido à não formação específica para determinada área”, frisou. De acordo com Silvana, é comum encontrar professores com uma graduação ministrando aulas de disciplinas de outras áreas, fator que prejudica – e muito – todo o processo de aprendizagem dos alunos.
O professor Antônio Carlos da Paz Rocha, graduado em Geografia e mestre em Geografia Física disse que a formação continuada é fundamental na área da Educação. “Na minha área, por exemplo, estudamos algo que é dinâmico, onde a reciclagem e o aprendizado constante são indispensáveis. E falo não apenas do curso de pós, mas também da intimidade com a leitura”, destacou.
O professor disse que pretende fazer doutorado em breve, mas criticou a falta de incentivo financeiro aos educadores que buscam melhorar o currículo. “Infelizmente há o problema da falta de reconhecimento, que somado à falta de tempo acaba desestimulando o professor que pensa em fazer a formação continuada. A remuneração muda muito pouco”, declarou Antônio Carlos, que tem 11 turmas em apenas uma escola.
A diretora do Lyceu Paraibano, Telma Medeiros, também classificou o diploma como indispensável para o aprendizado nas escolas. Segundo ela, no Lyceu, uma das escolas públicas mais tradicionais da Paraíba, a maioria dos professores são mestres e doutores (ou estão com mestrados e doutorados em andamento). “Isso significa a qualidade do ensino, onde ganha o professor e principalmente o aluno”, disse.
Conforme a diretora, a formação contínua é importante também para que os professores saibam usar as novas tecnologias na sala de aula. “Outro ponto importante é ter professores capacitados para preparar os estudantes para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que é uma prova contextualizada”, frisou.
Já a diretora da Escola Municipal João Coutinho, Odete de Lima Carneiro, afirmou que o professor diplomado está muito mais preparado do que a pessoa que não tem, mas mesmo assim está na sala de aula. “Um professor formado é exemplo para seus alunos, já o contrário acaba sendo desfavorável nesse sentido”, comentou.
O secretário de Educação de João Pessoa, Luiz Sousa Júnior, disse que os casos de professores sem curso superior são pontuais. “Temos alguns casos de professores que começaram a dar aulas em meados da década de 80, que já estão prestes a se aposentar. A Prefeitura fez concurso para que todos os docentes da rede municipal tenham o curso superior de Licenciatura”, afirmou. A Secretaria Estadual de Educação não se posicionou sobre o assunto.
O que doz p Sintep-PB
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação no Estado da Paraíba (Sintep-PB), Carlos Belarmino, disse que o percentual de professores sem diploma é algo que assusta e preocupa. A carência é maior na área de Ciências Exatas (Matemática, Química e Física) e alarmante na zona rural do Estado, segundo Belarmino. Para ele, o que vem favorecendo a diminuição do número de professores leigos são os cursos a distância e os oferecidos aos finais de semana. “Infelizmente na Paraíba falta incentivo para os docentes no que diz respeito à remuneração e ao afastamento da sala de aula para buscar qualificação”, afirmou.
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