ECONOMIA
Álcool americano pode desativar usinas na PB
Sindalcool-PB critica a importação de etanol em período de safra.
Publicado em 21/01/2014 às 6:00 | Atualizado em 01/06/2023 às 16:35
A indústria de etanol do Nordeste pode estar ameaçada com a chegada do combustível norte-americano nos portos da região.
A afirmação é do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado da Paraíba (Sindalcool-PB), que, além de criticar a presença do etanol dos Estados Unidos no mercado nordestino em período de plena safra, reprova o modelo de incentivos fiscais adotados pelo governo federal à indústria estrangeira, cenário que pode afetar a vitalidade das usinas regionais, gerando perda de empregos e fechamento de usinas do setor.
Segundo projeção da Alphamar, agência responsável pela contratação, a cada 45 dias um navio norte-americano chegará à costa nordestina importando o etanol. Em um ano, serão em média 97 milhões litros de álcool (se a média for de 12 milhões por embarque), que devem disputar mercado com 1,8 bilhão de litros de etanol da região.
Como possui diversos subsídios no país de origem e também desoneração de importantes tributos no Brasil, como PIS e Cofins, o produto estrangeiro entra no mercado brasileiro com preços bem abaixo dos vendidos no país, gerando preocupação aos produtores locais.
“Não somos contra o produto americano, mas nenhum associado nosso concorda com a importação do etanol durante nosso período de safra, pois prejudica a todos.Isso nos preocupa porque estamos há duas safras com produção baixa e o etanol dos EUA chega cheio de subsídios, dados pelo governo de lá. Desde a produção do milho, que é usado para fazer o etanol do EUA, até o embarque para o Brasil, há incentivos do governo americano”, disse o presidente do Sindalcool-PB, Edmundo Barbosa.
Enquanto o etanol produzido na Paraíba é vendido a preço médio de R$ 1,75, o americano é comercializado por R$ 1,45.
Caso esse volume aumente, a tendência é que a indústria local comece a sofrer fortes consequências. “Por enquanto isso não nos preocupa tanto, porque eles só conseguem abastecer 10% de nosso mercado. Mas não temos como competir com essa diferença se essa oferta deles for crescente, pois quem trabalha com revenda está pensando no lucro”, disse Edmundo Barbosa.
O presidente do Sindalcool-PB reforçou que experiências passadas comprovam que a falta de proteção à indústria nacional pode prejudicar o país. “Pode ser que haja fechamento de usinas e diminuição de empregos na nossa indústria. Já atingimos situações semelhantes em outras atividades industriais, vimos várias outras indústrias que preferiram passar a importar produtos já prontos em vez de produzir, deixando de empregar várias pessoas”.
Outra crítica do presidente do Sindalcool-PB é que, além da subvalorização do etanol do país, o incentivo à indústria estrangeira gera riqueza para outras nações. “Nós deveríamos ter o mesmo preço da gasolina, mas há anos o etanol é vendido a preços bem abaixo. A chegada do etanol americano não ajuda a valorizar nosso produto. O país perde renda, pois o dinheiro não fica aqui, é mandado para o exterior”, disse Edmundo.
PERDA DE MERCADO
Segundo informações do Sindalcool-PB, com dados do Fórum Nacional Sucroenergético, nos últimos cinco anos, 43 usinas foram desativadas e outras 36 entraram em recuperação judicial no país. Desde 2008, nenhuma decisão de instalação de nova usina foi tomada no país e só quatro novas unidades estão previstas para entrar em operação este ano, mas são projetos que foram decididos antes da crise do setor.
SETOR QUER PROTEÇÃO
Na avaliação do presidente do Sindalcool-PB, a crítica não é ao produto americano em si, mas na forma como esse produto chega ao Brasil. “Não queremos lutar contra, ao contrário, defendemos a competitividade. Acontece que eles têm subsídios desde o momento do plantio do produto e nós não temos sequer uma legislação específica que proteja o etanol do nosso país, que o valorize em razão do americano”.
Para discutir formas de proteger a produção local, está marcada para próxima quinta-feira, no Palácio da Redenção, em João Pessoa, uma reunião entre o Governo do Estado e os representantes da indústria do etanol no Estado, onde deve ser discutida a entrada do combustível americano no Nordeste.
“Acreditamos que o governador Ricardo Coutinho vai dar atenção à nossa causa. Queremos pensar em leis estaduais, assim como já existe em Pernambuco e Alagoas, para que nosso produto seja mais valorizado que o estrangeiro. Essas indústria tem forte representação econômica na nossa região, é preciso que seja valorizada”, destacou Edmundo Barbosa.
Entre março e agosto, período de safra, devem ser produzidos em média 156 milhões de etanol hidratado e 125 milhões de anidro, que faz a mistura dos 25% na gasolina.
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