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VIDA URBANA

Fortaleza sem acessibilidade

Cadeirantes encontram dificuldades para visitar a Fortaleza de Santa Catarina, um dos principais destinos turísticos do Estado.

Publicado em 16/01/2014 às 6:00 | Atualizado em 26/05/2023 às 17:32

Não bastasse ter que enfrentar obstáculos nas ruas, muitos deficientes têm esse problema nos espaços públicos, a exemplo da Fortaleza de Santa Catarina, localizada em Cabedelo, Região Metropolitana de João Pessoa.

Durante visita ao monumento, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1938 e que hoje está sob a responsabilidade da Fundação Fortaleza de Santa Catarina, entidade jurídica sem fins lucrativos, encontramos muitos turistas passeando pelo local, após pagarem uma taxa de R$ 2,00 pela entrada. Entre os muitos presentes, estava uma família de paraibanos que há mais de 20 anos deixou o Estado e mudou-se para Santa Catarina.

Apesar de bastante animados em rever o monumento, que há duas décadas não viam, eles tiveram dificuldades em aproveitar o passeio, porque Kleyton Nascimento, de 30 anos, analista de sistemas de um banco privado, cadeirante, não conseguiu transitar pelos caminhos de pedra do lugar, porque um enorme jarro estava no caminho.

“Logo que chegamos vimos as rampas e achamos que seria fácil, mas elas são bastante inclinadas já na entrada, o que exigiu muita força de meu pai, Manoel da Cunha, de 54 anos. Uma vez na área central, nos deparamos com um vaso grande e pesado impedindo a passagem, ai tivemos que descer pela grama, o que torna o movimento da cadeira mais difícil e fere com a cultura que incorporamos na cidade onde residimos, uma vez que em Santa Catarina, é proibido pisar na grama e ninguém descumpre essa determinação. Aqui essa é a única maneira de sair do lugar”, reclamou Kleyton.

Mas se você acha que o jarro no caminho foi o único obstáculo, engana-se. Com 12 salas de referências históricas e portanto, de bastante interesse por contar a história marcante da conquista e defesa do território paraibano, no período Colonial, elas têm na entrada elevados batentes, tornando definitivamente impossível que Kleyton desfrutasse por completo da atividade turística.

Apesar disso, a mãe de Kleyton, a funcionária pública Iraneide Nascimento, de 52 anos, lembra que há 20 anos, o local era ainda menos preservado do que é hoje, e que a visita fez com que sentisse um pouco de orgulho de sua terra.

“É lamentável termos que fazer tanto esforço para um passeio, mas não há como negar que ela melhorou bastante, pois antes o lixo, a insegurança e as dificuldades até para se chegar aqui, impedia que visitássemos a Fortaleza”, lembrou.

FALTA DE RECURSOS IMPEDE MODIFICAÇÕES

De acordo com Osvaldo da Costa Carvalho, presidente da Fundação Fortaleza de Santa Catarina e administrador do local, a falta de recursos é o principal empecilho para a realização das modificações que devem garantir o acesso de todos à Fortaleza. Além disso, por tratar-se de monumento tombado, qualquer mudança deve passar pelo aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) onde reside uma enorme burocracia.

“Somos uma entidade criada em 1992 e que nossa sede ocupa uma pequena sala na própria Fortaleza e composta por 21 sócios instituidores. Nosso principal objetivo é tornar a Fortaleza um Centro de Atividades Culturais e principal ponto de atração turística de caráter histórico da Paraíba. Para isso buscamos sempre apoios de diversas entidades através de convênios, dos quais estamos sem nenhum no momento. Nossa intenção é buscar o apoio da Prefeitura de Cabedelo e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB )aprimorar o trabalho dos oito guias de turismo e realizar o pagamento pelos serviços que eles prestam”, afirmou Osvaldo da Costa Carvalho.

Com relação aos problemas de acessibilidade apresentados pela reportagem do JORNAL DA PARAÍBA, Osvaldo afirmou que o vaso seria retirado do passeio ainda durante a tarde de ontem e que rampas de madeira, para não destoar do padrão do monumento devem ser feitas para garantir que cadeirantes tenham acesso a todos os lugares a Fortaleza.

DADOS HISTÓRICOS

Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional em 24 de maio de 1938, a fortaleza possui uma área construída de 12.710 m² e em terreno uma área equivalente a 44.555 m². Sobre sua construção, há controvérsia sobre o ano exato, mas o mais provável e aceito por historiadores é o de 1586, sendo Frutuoso Barbosa apontado como responsável por sua fundação.

No ano de 1591, foram retirados soldados e armamentos da Fortaleza para Inhobim a fim de defender a margem Oeste do rio Paraíba, fazendo com que a Fortaleza ficasse desprotegida e sofresse o ataque dos índios potiguaras, que a incendiaram, levando-a quase à destruição total. No ano seguinte foram iniciados os trabalhos de reconstrução, que duraram até 1596.

Finalmente, entre os anos de 1974 e 1978, foi restaurada pelo Iphan e, após passar por anos de obras de restauração, a Fortaleza foi novamente abandonada.

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Jornal da Paraíba

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