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CULTURA

O dramaturgo coragem

Em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA,  filha de Dias Gomes fala sobre livro que homenageia o pai, no dia em que ele completaria 90 anos.

Publicado em 19/10/2012 às 6:00


Quando o Brasil está com um olho no julgamento do mensalão e o outro nos capítulos finais da novela 'Avenida Brasil', a teledramaturgia de Dias Gomes (1922-1999), baiano cujos 90 anos de nascimento são comemorados hoje, nunca pareceu tão distante da ficção e tão próxima da 'novela da vida real'.

"Pensei em fazer novelas que espelhassem a nossa realidade e acabassem com o maniqueísmo exagerado dos personagens da televisão, os heróis com todas as virtudes e os maus com todos os defeitos. Procurei também introduzir problemas reais do país como o preconceito racial, o conflito de gerações, o fanatismo religioso, o poder de corrupção do dinheiro etc", declarou o autor de fábulas políticas como 'Roque Santeiro' (1985) ou 'O Bem-Amado', texto que completa seu cinquentenário este ano e é lembrado também por outra efeméride: o centenário do ator Paulo Gracindo, o eterno Odorico Paraguaçu de sua adaptação televisiva.

Exemplos de sua ousadia não faltam, como 'Saramandaia' (1976), escrita com toques de realismo mágico em efeitos que escapavam da mão de ferro da censura da época. Ou 'Assim na Terra Como no Céu' (1970), que introduziu um tema ainda polêmico na faixa nobre da televisão brasileira: a homossexualidade, levada aos lares pelo cabeleireiro Rodolfo Augusto, personagem interpretado pelo ator Ary Fontoura.

Uma das razões da sua popularidade, além do elenco que ajudou a revelar (foi quem proporcionou a estreia de nomes como Francisco Cuoco, Antônio Fagundes e Renata Sorrah) era o humor, segundo ele um "elemento pouco frequente nas telenovelas": "o humor mesmo na tragédia pois, como diz o poeta, ao lado de quem chora, há sempre alguém que ri. Além do público em geral, em algumas novelas eu procurei conquistar também a juventude".

Mas suas maestria não se resume apenas à pequena tela. Na grande, também fez história: 'O Pagador de Promessas', peça escrita em 1959, torna-se o maior êxito de sua carreira ao ser adaptada para o cinema na versão antológica e também cinquentenária de Anselmo Duarte. O filme vence a Palma de Ouro em Cannes, em 1962, e, no ano seguinte, é a primeira produção nacional a ser indicada ao Oscar.

Sua atuação ainda se estende, do cinema e da televisão, ao teatro (onde estava em seu elemento e começou aos 15 anos, com 'A Comédia dos Moralistas') e à literatura (foi acolhido imortal da Academia Paraibana de Letras pelo conterrâneo Jorge Amado, na cadeira hoje ocupada por Paulo Coelho).

As páginas da literatura ainda ganham novos capítulos no dia em que seus 90 anos são lembrados: hoje, no Rio de Janeiro, as filhas Luana e Mayra Dias Gomes (confira a entrevista abaixo) lançam o livro 'Encontros - Dias Gomes' (Azougue Editorial, 205 páginas, R$ 29,90), compilado de entrevistas e depoimentos do pai.

Participa do lançamento o poeta Ferreira Gullar, que assinou com ele 'Dr. Getúlio, Sua Vida, Sua Glória', peça de 1968 que, décadas mais tarde, em 1999, ele tentaria adaptar para a televisão quando foi vítima de um acidente automobilístico, em São Paulo.
Como Getúlio, saía da vida para entrar na história.

Entrevista

JORNAL DA PARAÍBA - Como foi o processo de pesquisa para a organização do volume?
Mayra Dias Gomes - O convite para organizar este livro partiu da Azougue Editorial. A editora me convidou e eu convidei minha irmã (Denise) e minha mãe (Bernadeth Lyzio) para participar. Meu pai era um homem bastante organizado e deixou muitas caixas lotadas de textos e matérias que saíram sobre sua obra. Nós abrimos todas as suas caixas e encontramos coisas surpreendentes. Muitos textos estavam danificados pelo tempo e tivemos que tentar recuperá-los. Não conseguimos recuperar tudo. O que não estava presente neste acervo deixado por ele, foi encontrado pela editora em diferentes veículos de comunicação.

- O que você descobriu de novo sobre Dias Gomes?
- Primeiramente, descobri que somos muito mais parecidos do que eu imaginava, principalmente na rebeldia e na perseverança. Também fiquei impressionada com muitas coisas que eu não sabia sobre ele. Por exemplo, não era do meu conhecimento que meu pai havia tido uma formação católica rígida, que acreditava em Deus com seriedade, e que somente iniciou seus questionamentos religiosos, aos dezessete anos, ao ler um livro chamado Formação da mentalidade. Eu também não sabia que, durante a ditadura militar, a censura foi tão brutal com seu trabalho, que ele havia considerado pedir asilo em alguma embaixada. Suas visões sobre teatro, literatura, televisão, política e censura foram uma surpresa muito boa. Parecia que eu conseguia ouvir sua voz respondendo a todas as perguntas que o livro traz. Nós realmente passamos a conhecer um homem que nós não conhecíamos quando éramos crianças. Aos onze anos de idade, eu nunca havia tido uma conversa com meu pai sobre os tempos da ditadura militar e censura por exemplo.

- Podia nos falar alguma lembrança específica do convívio com ele?
- Meu pai era um homem bem humorado e engraçado. Eu tinha uma relação muito próxima com ele. Quando eu e minha irmã éramos crianças, ele já não era mais tão ocupado quanto nos anos anteriores, quando ainda era casado com a Janete Clair, pois estava escrevendo minisséries. Ele trabalhava no seu escritório no Leblon, mas também em casa muitas vezes, em um canto na sala na frente do mar. Desde criança sempre o admirei e o imitei. Meu pai foi meu
primeiro grande ídolo. Cresci em um ambiente muito criativo – estava sempre escrevendo peças, roteiros e músicas. Escrevia meus roteiros e os dirigia, colocava todas as minhas amigas na frente da câmera e pedia a aprovação do meu pai. Muitas vezes ele mesmo filmava meus roteiros.

- Você acha que ele estaria acompanhando as novelas?

- Sinceramente, não. Meu pai já não assistia novelas quando faleceu em 1999. O tempo, na verdade, não o permitia. Ele escrevia diariamente e não acompanhava novelas. Na verdade, quando ele faleceu, reclamava muito sobre a falta de criatividade e inovação nas novelas, no teatro, e nas artes em geral. Ele definia o período como um período decadente para as artes.

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Jornal da Paraíba

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