VIDA URBANA
Desperdício de água aumenta na capital
Segundo estudo do Trata Brasil, percentual passou de 40% em 2011 para 43,90% em 2012.
Publicado em 28/08/2014 às 6:00 | Atualizado em 11/03/2024 às 11:00
O desperdício de água aumentou em João Pessoa de 40% para 43,90% de 2011 para 2012, conforme levantamento divulgado ontem pelo Instituto Trata Brasil. Em Campina Grande, o cenário é o mesmo. No primeiro ano, o percentual registrado foi de 39,19%, ao passo que no ano seguinte subiu para 41,10%. A pesquisa tem como base o Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS) do Ministério das Cidades, consultado em 2012 para o ranking de 2014, e faz um diagnóstico dos principais índices de saneamento básico dos 100 maiores municípios brasileiros. São analisados itens como abastecimento de água; coleta e tratamento de esgotos; perdas; além de investimentos e arrecadação.
De acordo com o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, em relação à perda total de água, o índice de João Pessoa segue a média nacional. “Infelizmente, a média do Brasil está em torno de 37%, enquanto a média das 100 cidades é de 41%”, comentou. “É preciso que um esforço grande seja feito, porque esta é uma água potável que se perde na rede de distribuição. O desperdício não tem a ver somente com vazamentos, mas com ligações clandestinas, o aumento de áreas irregulares, a falta de medição em lugares sem hidrômetro. Além de ser um problema para a população, isso representa prejuízos para a própria empresa”, acrescentou.
Para o presidente do instituto, as soluções para a questão dependem de uma análise mais detalhada de cada local, contudo, alguns aspectos são comuns aos municípios averiguados. “A troca de redes antigas é uma mudança que pode surtir grandes resultados, porque não é raro que cidades grandes como João Pessoa e São Paulo tenham redes com 30 ou 40 anos, apresentando alto grau de vazamento por causa de corrosão”, lembrou. “É necessário também um aumento nas fiscalizações de ligações clandestinas, seja cortando ou cobrando uma taxa mínima dos responsáveis. Instalar mais medidores nos bairros é outra iniciativa que pode diminuir as perdas, uma vez que aumentaria o controle da empresa de distribuição”, complementou.
A pesquisa do Instituto Trata Brasil ainda abordou a coleta e o tratamento de esgoto. O estudo constatou que menos da metade da população de João Pessoa, o que equivale a 49,14%, é contemplada com coleta e tratamento adequado.
Segundo a análise do instituto, no Nordeste, o dado posiciona a capital paraibana atrás de Salvador (BA), que tem 82,68% de índice, e na frente de São Luís (47,09 %), Natal (37,49%), Recife (36,62%) e Aracaju (33,49%). Sobre o resultado, Édson Carlos observou que a falta de acesso ao saneamento representa mais gastos com saúde pública.
“Em municípios sem esse atendimento, o esgoto acaba parando na natureza. Isso explica a poluição dos mares, lagos e rios, que volta para a população em forma de doença e faz com que os gastos com saúde nestas cidades sejam acima do normal”, destacou. “Outro esforço que deve ser feito diz respeito à ampliação das redes de coleta, que precisam estar conectadas com as de tratamento, visto que não adianta nada tratar se não há coleta”, continuou, frisando que nos últimos anos o aumento do saneamento tem sido pequeno. “Nesse ritmo atual, a gente vai demorar praticamente 40 anos para ter acesso universal ao esgotamento sanitário”.
RANKING
O Ranking do Saneamento do Instituto Trata Brasil situou João Pessoa no 65º lugar entre as 100 maiores cidades do Brasil. O município de Franca (SP) ficou em 1º lugar, seguido de Maringá (PR) e Limeira (SP). Além dos números de abastecimento de água, atendimento de esgoto, investimentos e arrecadação, fazem parte dos indicativos que influenciaram a posição as ligações de água existentes, os dados sobre tratamento por pessoa e as evoluções nos percentuais em relação aos anos anteriores. (Especial para o JP)
Cagepa afirma que no próximo estudo o índice vai melhorar.
Em nota enviada pela assessoria de comunicação, a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) afirmou que o próximo levantamento do Instituto Trata Brasil, com base em 2013, deverá apresentar uma melhora nos índices, uma vez que nos últimos anos a empresa vem trabalhando no combate ao desperdício de água, com instalação de novos hidrômetros e campanhas de conscientização.
Ainda em nota, a diretoria comercial da Cagepa salientou que, de 2011 até hoje, foram instalados mais de 280 mil hidrômetros no Estado. A assessoria sustentou que a avaliação da companhia é de que a perda doméstica é maior que as registradas em vazamentos de ruas ou em decorrência do processo de tratamento da água.
Uma recomendação que a Cagepa fez é que, além das atitudes de economia da água cotidianas, a população tenha cuidado com vazamento nas instalações hidráulicas, como torneiras e descargas sanitárias. Em nota, a companhia realçou que, com uma frequência razoável, é importante fazer uma revisão preventiva para evitar desperdício.
A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA também questionou a Cagepa sobre os problemas com o esgotamento sanitário em João Pessoa, porém foi avisada pela assessoria de comunicação que o expediente da companhia estava próximo de ser encerrado e que não poderia se posicionar. O presidente da Cagepa não foi encontrado para esclarecer a questão.
DESPERDÍCIO EM CAMPINA GRANDE
Campina Grande subiu dez posições no ranking elaborado anualmente pelo Instituto Trata Brasil, saindo da 47ª para a 37ª colocação. Apesar desse avanço, o estudo indica que a cidade ainda precisa melhorar em alguns aspectos avaliados, dentre eles a adoção de medidas para evitar o desperdício de água. Segundo o levantamento, as perdas totais no município chegam a 41,10%, percentual bem acima do patamar considerado ideal pelo Trata Brasil, que é de 15%.
Quando comparado com o estudo realizado em 2011 pelo mesmo instituto, o percentual de perdas de Campina Grande em 2013 aumentou cerca de 2%, já que naquela época o índice verificado foi de 39,19%. Essas perdas são resultado tanto do desperdício, em virtude de vazamentos e falhas na tubulação, como também da água que é consumida e não é faturada, fruto de ligações clandestinas.
"As perdas realmente são grandes, mas temos feito um esforço para combater o desperdício. Nos últimos 45 dias aumentamos duas equipes para atuar na cidade e estamos fazendo uma ação muito firme nessa questão dos vazamentos, pois a diretoria entende que se estamos prestes a entrar em um racionamento a empresa tem que fazer a sua parte", destacou o gerente regional da Cagepa em Campina Grande, Simão Barbosa.
Segundo ele, só no mês de julho a empresa realizou mais de 900 intervenções na rede de abastecimento em Campina Grande, contribuindo para a redução do desperdício. Mesmo assim, ainda são comuns na cidade flagrantes da má utilização da água, mesmo com a previsão de início de um racionamento no mês de dezembro.
Na Praça da Bandeira, por exemplo, uma torneira instalada no local pode ser usada por quem desejar. Lá, diariamente várias pessoas são vistas retirando água, lavando os pés ou objetos no local sem nenhuma restrição. "Reconhecemos o alto índice de perdas, mas estamos trabalhando para reduzir as perdas, tanto em relação ao desperdício, como também as ligações irregulares", acrescentou Simão.
Outro aspecto analisado pelo Trata Brasil faz referência ao tratamento do esgoto coletado na cidade. Nesse ponto, Campina Grande é considerada pelo instituto a 17ª cidade mais bem avaliada entre os 100 municípios pesquisados. Conforme o estudo, a cidade trata 78,38% do esgoto produzido pela população.
Na avaliação da professora Patrícia Feitosa, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), que também coordena o Plano Municipal de Saneamento Básico, o resultado é bastante positivo, assim como os anteriores obtidos pela cidade. Apesar disso, na visão da pesquisadora, o município ainda tem pela frente vários desafios a serem enfrentados para tornar ainda mais efetiva a política de saneamento, como a universalização da coleta, que atualmente contempla 70% da população.
"A nossa estação de tratamento teria condição de tratar todo o esgoto gerado na cidade e não só o coletado, mas a gente ainda não consegue tratar sequer todo o coletado, pois parte dele não chega na estação. Isso é reflexo, muitas vezes, de uma certa limitação nos serviços de manutenção e também da interferência da comunidade, que desvia o esgoto para a irrigação, como já verificamos em vários pontos da rede. Então, embora tenhamos esse cenário positivo, os problemas ainda são inúmeros", relatou.
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