CULTURA
Cia. das Letras é a 'nova casa' Drummond
Livrarias de todo o país recebem nesta semana as primeiras de mais de 40 novas edições de obras de Carlos Drummond de Andrade.
Publicado em 18/03/2012 às 8:00
"Ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo", Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) chegou um dia a definir sua profissão, no texto introdutório de Fala, Amendoeira (1954), reunião de crônicas originalmente publicadas no jornal Correio da Manhã.
As coisas do tempo também envolvem mudanças: até 2011, a obra do mineiro de Itabira era publicada pela editora Record por quase três décadas. Este ano, os escritos do poeta mudam de casa.
Esta semana, a Cia. das Letras coloca nas prateleiras das livrarias de todo o país os livros A Rosa do Povo (200 páginas, R$ 34,00), Claro Enigma (144 páginas, R$ 29,00), Fala, Amendoeira (216 páginas, R$ 34,00) e Contos de Aprendiz (160 páginas, R$ 29,00), as primeiras das mais de 40 edições que a nova editora do literato pretende publicar até 2016. A Cia. divulgou que terá no seu telhado um total de 12 títulos com o nome do poeta na capa até o final do ano.
A 'dança das cadeiras' das editoras envolvendo nomes consagrados da nossa literatura tem sido uma constante no mercado. As poesias de Mário Quintana (1906-1994) recentemente deixaram a Globo para ir para a Objetiva. A Lygia Fagundes Telles abandonou a Rocco para 'morar' na Cia. Já Rubem Fonseca saiu da nova editora de Drummond para a Agir.
NOVA EMBALAGEM
O jornalista e escritor Leandro Sarmatz organiza a coleção, que conta com um conselho consultivo formado pelo crítico Antônio Carlos Secchin, o ensaísta Davi Arrigucci Júnior, o poeta Eucanaã Ferraz, o professor Samuel Titan Junior, e os netos do escritor, Luis Mauricio e Pedro Graña Drummond.
"Os nomes citados gozam de um respeito não apenas pela intimidade com a palavra, mas pelo trabalho especificamente sobre a poesia 'drummoniana' colhida em artigos nas revistas de literatura", aponta o escritor paraibano André Ricardo Aguiar.
O conselho decidirá a cronologia do relançamento, indicará os nomes que assinarão os posfácios e tratará de detalhes editoriais como quais fotos de arquivo ilustrão as páginas e capas, que poderão ser estampadas também com uma obra de arte.
Entre as primeiras republicações da Cia., a preferida de Aguiar é Claro Enigma, originalmente lançada em 1951. "É um dos pontos altos da obra de Drummond por uma predominância dos poemas mais reflexivos e mais densos, por assim dizer", justifica.
O livro também conta com “A máquina do mundo”, eleito o melhor poema brasileiro do século 20 através de um grupo de críticos e especialistas consultados pelo jornal Folha de S. Paulo.
O mineiro, que confidenciava por meio de cartas a amigos críticas de seus contemporâneos da literatura regional como José Lins do Rêgo (1901-1957), será o grande homenageado da edição 2012 da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que será realizada em julho.
Em agosto faz 25 anos que o poeta modernista abandonou o caminho das pedras do mundo, com suas duas mãos e todo seu sentimento.
Comentários