Coração partido impulsiona disco

Coldplay, banda inglesa que chegou ao ápice fazendo rock de arena em Mylo Xyloto (2011), volta ao começo da carreira no melancólico Ghost Stories (Warner Music, R$ 35,90), pautado pela separação de Chris Martin com a atriz Gwyneth Paltrow, oficializada há apenas dois meses.

São nove faixas que evocam a sonoridade dos primeiros discos, sobretudo de Parachutes (2000). Mas ao contrário das guitarras de outrora, o quarteto encontrou a música eletrônica e lá foi chorar as dores de amor que beiram a pieguice.

“O sofrimento ensina doces entendimentos”. É a citação impressa no CD, creditada a Marshall Ball, um jovem que não anda nem fala, que dá o mote ao repertório, coletivamente assinado pelos quatro integrantes, mas que translucidamente refletem o momento de Martin. “Estamos com o coração cheio de tristeza”, dizia o comunicado, assinado por Martin e Paltrow, tornando pública a separação.

'Eu penso em você / E não tenho dormindo / Eu acho que consigo / Mas eu não consigo esquecer' são os primeiros versos declamados por Martin, com voz cortante, na faixa que abre o CD, ‘Always in my head.

O hit ‘Magic’ é pontuada por uma batida sincopada e um teclado que poderia ter saído do The Joshua Tree (U2). Eles embalam versos como ‘E eu acabei de ser quebrado / Quebrado em dois / Mas ainda chamo de magia / Quando estou perto de você”.

Com ‘True love’, o tema dores de amor chega ao fundo do poço: “Então diga que você me ama / Se você não me ama, minta, minta para mim”.

‘Midnight’ divide o disco. A partir daqui, as canções ganham mais textura e efeitos, como em ‘Oceans’, que começa com um violão e termina ao som de sinos e do mar batendo na praia. A própria ‘Midnight’ parte de ambient pop do Sigur Rós para chegar à balada eletrônica.

Ghost Stories é um disco sincero. Ao contrário do anterior, cheio de chavões para agradar as massas, neste o Coldplay pede um ombro amigo. E chora copiosamente ao ouvido dos fãs.