CULTURA
Noel por Almirante chega à 3ª edição
'No Tempo de Noel', escrito por Almirante, cantor, compositor e radialista que privou de uma amizade muito próxima ao autor de ‘Com que roupa?’.
Publicado em 20/10/2013 às 6:00
Noel Rosa (1910-1937) tem duas biografias fundamentais para quem procura conhecer um dos maiores sambistas da Música Popular Brasileira: No Tempo de Noel, do amigo Almirante (1908-1980), e Noel Rosa, uma Biografia, parceria do jornalista João Máximo com o pesquisador Carlos Didier.
A segunda, um calhamaço de 900 páginas lançado em 1990, foi tirada de circulação graças aos artigos 20 e 21 do Código Civil, defendidos com veemência por artistas do Procure Saber, grupo do qual fazem parte Chico Buarque e Caetano Veloso, e que contam com a total aprovação do Rei Roberto Carlos.
As sobrinhas do músico, herdeiras por direito, já que Noel não teve filhos, alegaram desrespeito à vida privada da família em função dos relatos sobre os suicídios da avó e do pai de Noel.
Já No Tempo de Noel, os herdeiros do Poeta da Vila têm muito gosto. Com a chancela deles, a Sonora (braço editorial do selo Discobertas, dedicado a reeditar joias da discografia brasileira) relançou a obra de 335 páginas que estava fora de catálogo há 30 anos.
É a terceira edição do livro escrito por Almirante, cantor, compositor e radialista que privou de uma amizade muito próxima ao autor de ‘Com que roupa?’.
A edição original data de 1963; a segunda saiu em 1977 e a atual resgata tanto o prefácio original do musicólogo Edigar de Alencar (1901-1993), quanto a que o jornalista Sérgio Cabral escreveu na 2ª edição, além de um texto inédito de Marcelo Fróes, diretor artístico do Sonora.
“Esse livro de Almirante é a história de uma das maiores figuras do nosso cancioneiro, contada com amor, exatidão e firmeza pelo mais credenciado artista que o rádio nacional produziu até hoje, que é também a maior autoridade em música popular do Brasil”, registrou o Edigar no prefácio.
Didático, Almirante escreveu a biografia de Noel tomando por base uma série de 22 programas que levou ao ar entre 6 de abril e 31 de agosto de 1951 pela Rádio Tupi. Sua forma é praticamente um almanaque (fartamente ilustrado), que extrapola a vida do biografado, encontrando brechas que narram o surgimento do samba do morro (e do asfalto) no Rio de Janeiro.
Os pontos-chaves da vida do músico estão lá, dos primeiros experimentos musicais ao sucesso, registrando as viagens que Noel fez, os amores e amigos do compositor. A polêmica com Wilson Bastista (1913-1968) ganhou um capítulo inteiro.
O texto preserva o vocabulário da época, embora tenha contado com uma revisão ortográfica. “Fizemos uma atualização ortográfica, já que as regras mudaram. Mas é basicamente o mesmo livro, já que Noel faleceu em 1937 e seu biógrafo, em 1980”, comenta Fróes. O livro também sai com a musicografia de Noel atualizada.
Noel Rosa viveu pouco. Aos 20 anos, tornava-se célebre na boemia do Rio dos anos 30 com a marchinha ‘Com que roupa?’. Morreu em 4 de maio de 1937, aos 27 anos, deixando um legado gravado por nomes como Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida.
Para Fróes, No Tempo de Noel Rosa é um livro atemporal, escrito pela melhor testemunha ocular da vida e obra de Noel e daqueles tempos. “Autorizada, essa biografia foi escrita por quem merece ser chamado de 'O Pai' de todos os pesquisadores musicais brasileiros. Por fim, acho bacana para a Sonora se apresentar como uma editora de música com olhos para livros atemporais e que merecem voltar às prateleiras para as atuais e futuras gerações".
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