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VIDA URBANA

Violência tira docentes da sala de aula na PB

Professores amedrontados com a violência chegam a desistir das salas de aula e procurar outra profissão. 

Publicado em 18/12/2011 às 6:30


“Não vou dizer que morro de medo, mas sempre que estou na sala de aula, fico apreensiva”. O depoimento é de Flávia (nome fictício), professora do ensino médio. Ela admitiu já ter recebido ameaças do tipo 'vou riscar seu carro', 'pego você lá fora' e 'você não sabe com quem está falando'. Desde criança, Flávia sempre quis ser professora, mas depois dessas situações, resolveu procurar outra profissão. “Não me sinto segura na escola. Não confio em alguns alunos”, declarou.

Relatos como os de Flávia têm se tornado cada vez mais comum nas escolas da Paraíba. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação no Estado da Paraíba (Sintep-PB), apesar de não haver levantamento oficial, o número de professores que se afastam da escola por motivos de saúde ou violência vem acontecendo com frequência. “Infelizmente, até hoje não foi tomada nenhuma medida preventiva, e as escolas não ficam livres da invasão do crack”, declarou Edvaldo Faustino, membro do sindicato.

A apreensão que toma conta da professora Flávia e de tantos outros educadores é tanta que muitos pedem para não voltar mais para a mesma escola no próximo ano. “Tenho colegas que se recusam a continuar na mesma escola, tudo porque têm medo de alunos que já os ameaçaram de morte. Pode até ser brincadeira ou exagero da parte deles, mas não dá para confiar, não acha?”.

Para largar de vez a sala de aula, Flávia se inscreveu no Processo Seletivo Seriado (PSS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), para o curso de administração. “Não tem outro jeito”, lamentou.

Flávia ensina turmas de ensino médio em uma escola pública no bairro de Cruz das Armas. Segundo ela, a proximidade da escola faz com que frequentemente tenha registros de vendas de drogas. “É uma situação delicada, as autoridades precisam tomar providências, pois enquanto nada for feito, o professor fica refém”, disse.

De acordo com o Sintep, uma pesquisa realizada no ano de 2002, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) apontou que a realidade na Paraíba – e em outros Estados também – é assim: por fatores diversos, os professores não querem mais ficar na sala de aula. “Problemas na voz são recorrentes, bem como o estresse causado pelo cotidiano”, afirmou Faustino. “Sobre a questão da violência, o que podemos dizer é que pouca coisa foi feita de 2002 até hoje”, disse. “A consequência foi que o professor começou a ficar impotente”, acrescentou.

Conforme relatou Faustino, que já fez um estudo sobre violência nas escolas, o cenário atual tem causado depressão nos professores, que muitas vezes precisam enfrentar situações extremas de estresse e discussão com alunos. “Entre o pessoal de apoio, é recorrente o problema de histeria”, frisou. Segundo Faustino, alguns profissionais da educação se sentem frustrados, mas continuam trabalhando na esperança de serem valorizados. “Some-se aos problemas que já relatei, as péssimas condições de trabalho”, afirmou.

Quando o assunto é violência, o silêncio de torna a resposta de muitos professores. O medo que a ameaça se concretize, é suficiente para que muitos casos nunca cheguem ao conhecimento público. Na Escola Estadual Raul Machado, localizada na Ilha do Bispo, por exemplo, há um histórico de violência, que vai desde agressões verbais de alunos contra professores até 'toque de recolher'. Apesar da confirmação por parte do sindicato, quando a reportagem chegou na escola, os professores preferiram desconversar.

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Jornal da Paraíba

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