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VIDA URBANA

Pais levam crianças para ver cadáveres

Sorriso das crianças contrasta com o corpo caído ao chão e o desespero dos familiares.

Publicado em 08/06/2014 às 7:00 | Atualizado em 30/01/2024 às 14:05

O que se observa em cenas de crimes são pais e mães que colocam os filhos pequenos nos ombros para que eles possam observar o cadáver. O sorriso das crianças contrasta com o corpo caído ao chão e o desespero dos familiares. A promotora Ana Maria França informou que está juntando material sobre essa realidade para apresentar durante o curso que será realizado com a polícia. “Há fotos de crianças ao lado de cadáveres, de pessoas que simplesmente ultrapassam a fita de isolamento e prejudicam as provas”, declarou.

Segundo a promotora, antes da campanha ganhar as ruas, policiais militares e civis participarão de um curso com palestrantes vindos do laboratório forense de São Paulo. Em seguida, conforme Ana Maria adiantou, o MP vai para a segunda parte, que é buscar a conscientização da população.

“Hoje em dia é difícil encontrar uma testemunha que queira falar, apesar das dezenas de pessoas que estão presentes à cena do crime. O que pode falar, então, são as provas, que devem ser preservadas. Sem isso, a investigação fica comprometida”, declarou.

A preservação do local de crime na Paraíba é mesmo um grande desafio para as autoridades, segundo o diretor do Instituto de Polícia Científica (IPC), Humberto Pontes. Mas o problema que ocorre na Paraíba também existe nos outros Estados brasileiros.

O isolamento incorreto ou tardio, segundo Pontes, vai implicar diretamente no inquérito policial e o culpado de um crime pode nunca vir a ser punido. “O isolamento é fundamental para que a área seja preservada e os peritos consigam fazer a coleta de vestígios. Quando alguém invade o local de crime pode deixar vestígios falsos, que vão levar a investigação para um caminho errado, ou ainda apagar possíveis marcas que poderiam ajudar na elucidação”, afirmou.

A destruição de provas na cena do crime pode ser intencional, conforme declarou Pontes. “É possível que alguém apague provas com o intuito de dificultar o trabalho da investigação”, comentou. Há dois anos um trabalho de conscientização sobre a preservação do local de crime foi realizado nos comandos da Polícia Militar do Estado, o que apresentou resultados positivos, mas não foi capaz de acabar com o problema.

A imprensa também tem sua parcela de culpa, segundo o diretor do IPC. Repórteres que insistem em ultrapassar a linha de isolamento podem apagar provas e maquiar a cena do crime. Um exemplo claro disso ocorreu no mês passado quando um repórter de uma emissora local levantou a fita de isolamento e chegou perto do cadáver, com a permissão de um policial militar.

De acordo com Pontes, o que há de mais difícil na cena do crime é fazer com que os familiares não se aproximem do corpo da vítima. “Sabemos que é um momento de dor, mas as famílias precisam ter consciência de que, quando alguém entra na cena do crime, está contribuindo negativamente para a junção de provas”, explicou. “O policial precisa estar preparado para lidar com essa situação delicada”, frisou. Segundo ele, o IPC de João Pessoa tem um ambiente chamado de 'cadeia de custódia', no qual os vestígios encontrados em cenas de crime são guardados (e preservados) para possíveis constatações futuras.

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Jornal da Paraíba

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