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CULTURA

Caixa 'Zona Fantasma' reedita discos de alto teor político de Jorge Mautner

Box inclui o inédito registro da turnê 'O Poeta e o Esfomeado', show-manifesto realizado em março de 1987 com Gilberto Gil.

Publicado em 05/04/2015 às 13:00 | Atualizado em 16/02/2024 às 10:58

O ano promete para Jorge Mautner. Um filme rodado em Cuba, o primeiro de uma série de dez livros de memórias (que serão lançados pela Cia. das Letras, segundo o artista) e até um disco de inéditas estão na agenda do cantor, compositor, poeta e escritor carioca de bem vividos 74 anos de idade.

Na mão já há a caixa Zona Fantasma (Discobertas, R$ 79,90). Lançada recentemente em CD, repõe nas prateleiras, em edições remasterizadas e com bônus, três álbuns de carreira mais um registro inédito, todos dos anos 1980: Bomba de Estrelas (1981), Antimaldito (1985), Árvore da Vida (1988) e o show-manifesto que ele e Gilberto Gil fizeram em março de 1987 em São Paulo: O Poeta e o Esfomeado.
Segundo os cálculos do próprio Mautner, O Poeta e o Esfomeado rendeu uma turnê de 49 shows: 48 no Brasil - em João Pessoa foi apresentado no teatro Paulo Pontes - e um em Cuba. Nele, Gil, Mautner e o percussionista Reppolho misturavam música e ativismo, com direito a lista de adesão ao movimento ‘Figa Brasil’, criado para lançar clubes de filosofia pelo país (que não vingou) e acabou promovendo a candidatura de Gil à prefeitura de sua cidade, Salvador (BA).
“Esse show representava o que viria a ser o Ministério da Cultura dele”, comenta Jorge Mautner com a reportagem, por telefone, confirmando o alto teor político da apresentação. “Teve um senhor que mandou uma carta se dizendo revoltado, que entrou no show para ouvir música e ouviu propaganda política, inscrição para célula e ainda tinha um louco gritando: ‘canalhas!’ - que era a ‘música do mosquito’”, lembra Mautner, referindo-se à ‘Tratamento do inseto’, que acabou ficando de fora do CD.
Por motivos que Mautner preferiu não falar, Gil não concorreu à prefeitura, mas garantiu uma vaga na Câmara de Vereadores da capital baiana pelo PMDB. E lá foi o carioca ser chefe de gabinete do baiano. “Foi impressionante”, resume o cantor sobre sua temporada de 1 ano e 3 meses no birô da Câmara de Vereadores de Salvador. “Eu era o anti-chefe de gabinete”.
Entre alianças políticas e projetos, a melhor lembrança que Jorge Mautner tem junto ao mandato de Gil foi a defesa que o gabinete fez contra o que o carioca chamou de “os primeiros ataques de alguns evangélicos aloprados contra o candomblé”.
“Fizemos um palanque bem em frente a prefeitura (de Salvador) com vários pais-de-santo, desde o gantois até da alákétus, todos reunidos para nos manifestar, com vários cidadãos assistindo e um pequeno grupo de envangélicos (na plateia). Mas no palanque, os pais-de-santo não davam à mínima. Não é fantástico isso?!”, narra o filho de uma católica com um judeu, que vieram ao Brasil fugindo do Holocausto.
Os cargos passam, mas o show fica em um CD de 13 faixas com repertório que passeia por Noel Rosa ('Positivismo', dele e Orestes Barbosa), Ismael Silva ('O teu olhar'), do próprio Gil ('Casinha feliz', 'Oração pela libertação da África do Sul' etc), de Mautner ('Vampiro', 'O filho predileto de xangô') e até um solo de violino (do carioca) sobre a 'Marcha turca' de Mozart. Ah, e o 'Hino do figa', composto por Gil, em seu primeiro registro fonográfico.
Duetos
Além de Bomba de Estrelas, disco de duetos que inclui um encontro entre Mautner e Zé Ramalho numa das melhores faixas do CD, ‘Negro blues’, a caixa traz Antimaldito, disco que, produzido por Caetano Veloso, trouxe a gravação de ‘Minha bandeira’.
Filiado ao PCdoB, Mautner havia composto a canção que encerra o disco quase 30 anos antes, em 1958. Mas “por cautela”, deixou-a guardada o artista que, em 1962, já integrava no comitê central do Partido Comunista e em 1965 foi um dos primeiros exilados do país. “Essa música foi cantada por todo mundo depois da redemocratização: Franco Montoro, Leonel Brizola, todo mundo... Ela não é especificamente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) ou do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). É de um entrelaçamento”, revela.
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Jornal da Paraíba

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