ECONOMIA
Sertão paraibano sofre com 2º ano de seca
Paraíba apresentou queda de 69,3% na produção de grãos e chuvas não são suficientes para salvar a plantação e recuperar capacidade dos açudes.
Publicado em 13/08/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 15:55
Fome e sede. Assim podem se resumir as principais privações enfrentadas pelos sertanejos e pequenos produtores paraibanos, que já enfrentam dois anos consecutivos de seca (2012/2013). Do chão tórrido já não brota nem alimentação para o rebanho.
Segundo a Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Paraíba (Fetag-PB) 40% dos animais morreram. As perdas na safra do sertanejo alcançaram 97% no primeiro semestre e até agora não há sinal de chuva suficiente para salvar mais a plantação. Em Patos, um dos principais reservatórios que abastece a cidade, o Jatobá, só oferece água enlameada. Ele e mais 16 açudes paraibanos estão em situação crítica, com capacidade abaixo de 5% do seu volume total.
No outro reservatório, o Farinha, a situação é menos crítica, mas ele não tem suporte para atender as comunidades que ficam no seu entorno. As principais culturas da região de Patos, milho e feijão, foram dizimadas. Enquanto no Litoral e Brejo, as chuvas apareceram em julho, dando esperança aos trabalhadores da região de recuperar algumas culturas, no Sertão, tudo tende a piorar neste segundo semestre.
Para o presidente da Fetag-PB, Liberalino Ferreira, a situação é uma das piores dos últimos anos. “Há dificuldade até para o carro-pipa buscar água. Para o sertanejo, só resta agora aguardar o próximo inverno que começa em janeiro. O principal temor é enfrentar mais um ano de estiagem. No Brejo e Litoral ainda podem ocorrer chuvas e alguns produtos podem ser recuperados”, frisou.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Patos, José Martins Ermínio, pelo menos 700 agricultores que dependem do Jatobá e do Farinha estão sem ter o que comer e beber por causa da estiagem. “A produção de milho e feijão dos últimos 2 anos caiu cerca de 85%. A batata-doce, mais resistente ao solo seco, a queda foi menor, mais ou menos 70%. Em Patos, o povo produz para o seu sustento, mas com a falta de chuva muitos estão passando necessidade”, afirmou José Martins.
Os programas assistenciais do governo federal como Bolsa Estiagem e Bolsa Família são atualmente as principais fontes de renda para milhares de sertanejos. A água que chega à cidade vem de carro-pipa, que abastece as cisternas uma vez por mês. “Com essa água o pessoal tem de economizar para passar os 30 dias”, declarou José Martins.
Até meados do ano, a Paraíba apresentou queda de 69,3% na produção de grãos plantados no mês de maio quando relacionada à projeção de fevereiro. Em relação à superfície cultivada no mesmo período, as perdas são de 57% segundo a pesquisa Mensal de Previsão e Acompanhamento da Safra Agrícola, do Grupo de Coordenação das Estatísticas Agropecuárias, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A seca foi a responsável pela baixa na produção de leguminosas, oleaginosas e cereais no Estado. Os produtos que tiveram maiores quedas na produção foram arroz (-96%), algodão (-81%) e milho (-75,9%). Em maio foram colhidos 76.516 toneladas de grãos e em fevereiro este montante foi de 249.703 toneladas, o que representa 173.187 toneladas a menos.
RESERVATÓRIOS EM BAIXA REDUZEM 50% DA PESCA
A situação em Patos e também das cidades circunvizinhas não atinge apenas as famílias de agricultores. Quem vive da pesca está recorrendo a outros açudes, já que o alimento no Jatobá e no Farinha não é mais encontrado. O esvaziamento dos reservatórios reduziu a atividade pesqueira em até 50% na região e prejudica a vida de pelo menos 100 famílias na cidade.
De acordo com secretário da Colônia de Pescadores de Patos Itamar Targino Ramos, os pescadores da cidade estão desempenhando a atividade em outros municípios como Piancó, Olho D'Água e Catingueira. “Nos açudes destes locais ainda encontramos Tilápia, Piau, Curimatã e Tucunaré. No Jatobá só tem peixe morto, sem oxigênio”, frisou.
Na Colônia de Pescadores pode-se dizer que a situação dos moradores não é tão crítica porque o local é saneado e, segundo Itamar Targino, ainda chega água nas torneiras. O problema maior é com a fonte de renda, que está cada vez mais ameaçada.
Além da estiagem, Itamar Targino disse que os dois principais açudes estão assoreados. Em maio os pescadores realizaram uma mobilização chamada “Patos: Pró Água”, numa tentativa de chamar a atenção das autoridades para a limpeza do Jatobá e Farinha. “Fizeram uma limpeza no Jatobá, mas precisamos do desassoreamento tanto dele quanto o do Farinha. Se isso não ocorrer, eles não vão poder armazenar muita água”, afirmou.
AESA: 17 AÇUDES EM SITUAÇÃO CRÍTICA
A Paraíba conta com 17 açudes em situação crítica segundo a última pesquisa da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (Aesa). Entre eles está o Jatobá, que de todo o seu potencial de armazenamento (17.516.00 m³) conta apenas com 708.795 m³ de água, ou seja, 4%. O Farinha está numa situação um pouco melhor, ou seja, é um dos reservatórios que está em observação e está 20% abaixo do seu volume total.
Sete açudes paraibanos estão com menos de um por cento de seu volume total, segundo dados da Aesa. São eles: Serrote, em Monteiro (0,3%); Ouro Velho, em Ouro Velho (0,6%); Caraibeiras, em Picuí (0,2%); São José IV, em São José do Sabugi (0%); Bastiana, em Teixeira (0,7%); São Francisco II, em Teixeira (0,4%) e Várzea, em Várzea (0,4%).
No caso do Farinha, em Patos, dados da Aesa mostram que ele conta com apenas 6,6% de sua capacidade máxima (25.738.500 m³). Seu volume atual é de 1.705.400 m³. Os dados são referentes às últimas pesquisas da Aesa realizadas entre primeiro de junho e primeiro de agosto.
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