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CULTURA

Estilista Ronaldo Fraga visita JP e elogia o artesanato paraibano

Verdadeiro "poeta da moda", Ronaldo Fraga consegue o que é o sonho da maioria dos estilistas: fazer peças comercialmente viáveis sem corromper o lado criativo.

Publicado em 17/10/2008 às 7:00

Agda Aquino, especial para o Paraíba 1

Ele é mineiro, mas se considera cidadão do mundo. Cosmopolita, culto, inteligente e um dos maiores nomes da moda no Brasil, o estilista Ronaldo Fraga esteve em João Pessoa na última terça-feira (14) ministrando uma palestra para alunos do curso de Design de Moda do Unipê. Lá ele falou sobre a carreira profissional, o processo criativo e os projetos de desenvolvimento da moda em pequenas comunidades do país, inclusive aqui na Paraíba.

Ronaldo Fraga nasceu em Belo Horizonte e na infância nunca pensou em trabalhar com moda. Como ele costuma dizer: "não tive mãe costureira ou irmãs provando vestidos em casa e nunca brinquei de boneca". Ele começou a se envolver com a moda por causa da habilidade com o desenho. Ainda adolescente foi convidado para trabalhar como desenhista em lojas de tecido. Daí para a lista de um dos maiores nomes da moda brasileira foi um longo percurso, recheado por trabalhos para diversas empresas e cursos no país e no exterior.

Hoje, Ronaldo Fraga pode se dar ao luxo de fazer o que quer, do jeito que quer. Participa frequentemente de um dos maiores eventos de moda das Américas, o São Paulo Fashion Week, além de fazer exposições e palestras em todo o mundo. Recentemente fez a opção de tirar as peças das suas coleções de lojas multimarcas e vender apenas nas lojas próprias, localizadas em São Paulo e em Belo Horizonte. "Eu chegava nessas lojas que vendiam minhas peças e elas não tinham nada a ver comigo ou com o que eu acredito. Aquilo me incomodava bastante e resolvi comercializar minhas peças apenas nos meus ambientes, pensados por mim, onde eu coloco a música que quero e sirvo a bebida que quero aos meus clientes", explicou.

Um verdadeiro "poeta da moda", Ronaldo Fraga consegue o que é o sonho da maioria dos estilistas: fazer peças comercialmente viáveis sem corromper o lado criativo. Sua coleção para o verão 2001/2002, inspirada na estilista Zuzu Angel - que usava a moda como expressão contra a violência da ditadura militar e, consequentemente, morta nesse mesmo período - foi indicada como melhor coleção feminina para o prêmio da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) daquele ano. O estilista já levou para a passarela roupas repletas de poemas de Carlos Drummond de Andrade e, na última coleção, levou ao público a história do Rio São Francisco, contada através de tecidos, estamparias, bordados e muita poesia imagética.

O estilista ficou conhecido aqui na Paraíba depois de homenagear o Estado usando o algodão naturalmente colorido produzido por aqui em sua coleção no verão de 2004. No final do desfile, no São Paulo Fashion Week, Ronaldo Fraga entrou na passarela com uma camiseta feita em algodão colorido com a bandeira da Paraíba estampada nela. Há cinco anos ele participa de vários projetos que visam ajudar comunidades no desenvolvimento da moda como saída sócio-econômica. Um desses projetos é o Talentos do Brasil, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em parceria com o Sebrae e que aqui na Paraíba recebe o apoio do projeto Paraíba em Suas Mãos, do Governo do Estado.

Com o objetivo de estimular a troca de conhecimentos entre estilistas e cooperativas de artesanato do país, o projeto visa a geração de emprego e renda em pequenas comunidades pelo Brasil. Ronaldo Fraga trabalha com esse projeto desde 2003 e atualmente lida com três grupos em diferentes partes do país: no Mato Grosso do Sul - onde trabalha com pele de peixe, no Rio Grande do Sul - desenvolvendo projetos com a crina do cavalo, e aqui na Paraíba - criando peças com a renda labirinto. "O importante hoje é localizarmos uma moda brasileira. Construir a moda a partir da cultura popular pode ser uma saída para dar corpo ao desing nacional", explicou o estilista. Ele reforçou ainda a importância da beleza e da qualidade do artesanato e, principalmente, da renda produzida por aqui. "É um caminho de mão dupla, porque por um lado eu levo meus conhecimentos e tento ajudar essas comunidades a criar um produto desejável para o mercado mas também acabo enriquecendo meu olhar a partir do momento que tenho o privilégio de conhecer trabalhos como esse da renda labirinto aqui da Paraíba", comentou.

Mas a principal mensagem deixada por Ronaldo Fraga nessa palestra para estudantes de moda foi a importância da cultura e da leitura para a criação de uma moda diferenciada, que funcione como expressão artística e social. "Através da moda a gente consegue vender nossa música, nossa cultura, nossa arte", disse o estilista. Ainda bem que o Brasil e a Paraíba podem contar com um vendedor como esse.

Imagem

Jornal da Paraíba

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