Cansei de tanta fofurice

Nome de passarinho, rosto de modelo, voz doce e tecladinhos de brinquedo escondem uma mãe de família que, depois do nascimento da pequena Amora, de um ano e meio, quer mostrar que não cabe mais no personagem surgido na cena musical paulista em 2007.

“Eu não sei... acho que estou um pouco amarguinha”, diz uma Tiê que, avessa ao estrelismo, atende ela mesma ao telefone da Rosa Flamingo, o brechó que mantém em São Paulo e que agrega à sua produtora cultural, criada há cerca de um ano.

"Ainda falo de amor em algumas letras, mas o novo disco será um pouco mais amargo. As letras não têm a mesma fofura já que sou uma mulher com dois filhos, um pouquinho cansada de tanta fofurice."

Um pouco deste repertório amargurado Tiê traz para a Paraíba, na primeira visita que faz a João Pessoa e a Areia. O show na capital é hoje, às 20h, no Centro Cultural Espaço Mundo. No Brejo, ela participa amanhã da programação do Festival de Artes de Areia. A apresentação no Centro Cultural Espaço Mundo será de portas abertas, pelo projeto 'Quanto vale o show?', no qual o público define o preço do ingresso.

Acompanhada de Renato Galozzi na guitarra, Tiê mostra as músicas de Sweet Jardim (2009) e A Coruja e o Coração (2011), seus dois primeiros discos, e algumas do terceiro, que sai já no próximo mês. "Eu estou finalizando a capa para que o disco vá para a fábrica. Estou muito animada para ver no que é que vai dar, pois é um disco bem mais cheio de instrumentos. Estou apaixonada e feliz", confessa a cantora e compositora, que começou a gravar o novo trabalho em fevereiro.

"Eu gravei toda a parte da 'cozinha' aqui em São Paulo e depois fui para Nova York (EUA) colocar as cordas, os sopros e metais.

Só depois de voltar foi que coloquei as vozes", conta a ex-backing vocal de Toquinho, cujo 'padrinho' participou do primeiro disco e deu início a um histórico de parcerias com as quais ela marca também o segundo trabalho, que conta com as participações de Jorge Drexler, Marcelo Jeneci e Hélio Flanders. "Todas as letras do terceiro são minhas, só uma que é uma versão de uma letra minha. Tem algumas parcerias legais, que eu gosto, mas não vou contar ainda."

'COVERS ESTRANHOS'

O 'adeus à fofurice', que veio com a maturidade, parece ter ocasionado também uma despedida dos covers com os quais Tiê encorpava os seus álbuns: quando Sweet Jardim foi relançado pela Warner, veio com o bônus da canção 'Se enamora', clássico do Balão Mágico; em A Coruja e o Coração há três regravações: 'Só sei dançar com você', de Tulipa Ruiz; 'Mapa-mundi', de Thiago Petit; e 'Você não vale nada', a inusitada versão cigana para o forró de Dorgival Dantas que foi trilha da personagem Norminha (Dira Paes) na novela Caminho das Índias (2009), da Rede Globo.

"Então, desta vez não fiz nenhum cover estranho não", brinca Tiê, que continua explorando seu 'lado b' como intérprete, nos shows. "Eu continuo fazendo nos shows porque adoro cover e adoro forró. Escuto muita coisa da Paraíba, como Chico César, mas os novos artistas eu espero, quem sabe, conhecer agora que estou indo praí."

Falando em Chico César, Tiê aproveita a entrevista para esclarecer uma dúvida do próprio secretário de Cultura que, ao se deparar com o nome dela inscrito para o edital da 15ª edição do Festival de Artes de Areia, não soube dizer se ela se inscreveu por sugestão da amiga Tulipa Ruiz, que foi uma das convidadas do evento ano passado.

"Pode dizer a ele que, na verdade, foi procurando na internet mesmo", manda o recado, entre risos. "Nós aqui na Rosa Flamingo fazemos bastante procura de editais pela web. A produtora está indo super bem: trabalho com mais três pessoas, atendo o telefone, mando proposta... Acho mais interessante trabalhar assim do que distante. Começamos em julho do ano passado e já estamos até com outros artistas no catálogo."

Dois deles são Dudu Tsuda (ex-Pato Fu, que gravou o primeiro EP de Tiê) e Nana Rizinni (baterista de A Coruja e o Coração), que acabou de lançar seu segundo CD, La Na Nana, em parte com ajuda de uma campanha de financiamento coletivo e em parte com o apoio do selo autoral da Rosa Flamingo, onde Tiê faz o 'trabalho braçal'.

Antenada com a cultura livre, Tiê afirma que a ideia de se apresentar em João Pessoa em um projeto como o 'Quanto vale o show?', no Centro Cultural Espaço Mundo, veio após uma pesquisa com fãs da Paraíba. "Cogitamos vários outros espaços e falei com algumas pessoas. Queria um lugar de fácil acesso e preço mais acessível, e acabei fechando no Espaço Mundo, porque gostei da opção do show de portas abertas, sem limite de público e passando o chapéu", admite a artista, que pretende levar uma caravana de fãs para Areia, amanhã.