Dissidente faz critica ao "imperativo"

Diferente daqueles que até hoje seguem Ricardo, há pessoas que divergiram do 'Coletivo'. Um dos principais dissidentes é o professor Derval Gózio. Ele acredita que o “Coletivo” nunca existiu, e aponta a contradição no próprio conceito do 'Coletivo de Ricardo Coutinho'. Derval defende que coletivo envolve muitas pessoas, não algo que existe em função de alguém. “O que existia era o 'Imperativo' Ricardo Coutinho”, sustenta.

Segundo o consultor político Rubens Nóbrega, Ricardo tinha uma forma personalista de dirigir as coisas.

Derval Gózio declarou que não se pode deixar de reconhecer que Ricardo sempre teve uma atuação interessante, em face da “mediocridade” dos parlamentares da Câmara Municipal de João Pessoa. “Ricardo fugia dessa média”, destacou. Mas, segundo Derval, o 'Coletivo' era um aglomerado de pessoas muito mais para dar ânimo às ações de campanha do que para discussão de gestão e ação de governo. “Isso não passa pelo ‘Coletivo’. O ‘Coletivo’ serve, simplesmente, como discurso”, desabafou. “Serviu para alavancar Ricardo, era a força de trabalho, a certeza de que o panfleto ia ser distribuído nos sinais de trânsito, nos bairros, nos locais de trabalho, para convencer as pessoas a votarem”, completou.

Ele também criticou as contradições existentes no 'Coletivo', lembrando que Ricardo era contra a política de atrelamento aos Cunha Lima (PSDB), contra as oligarquias, e a criação do grupo era uma forma de se manter numa linha à margem daquelas discussões do PT. “O ‘Coletivo’ posicionou-se contrário à junção do PT em Campina Grande entre Cozete Barbosa e Cássio Cunha Lima. O Coletivo sempre apresentou essas dubiedades.

Na verdade, eram interesses particulares que estavam em questão. Eu saí do coletivo porque vi que as coisas não andavam bem”, disse Derval.

De acordo com ele, o 'Coletivo', hoje, resume-se a cerca de dez pessoas. Lembrou Derval que, na reeleição para prefeito de João Pessoa, o vice-prefeito, Luciano Agra (PSB), foi decidido por meia dúzia de pessoas. “Estavam na reunião Edvaldo Rosas, Estelizabel Bezerra, Coriolano Coutinho, Urquiza, Rossana Honorato, Roseana Meira e Nonato Bandeira”, disse, revelando que Nonato era o favorito de Ricardo para a vice, e foi dissuadido pelos “coletivistas”.

Para Lau Siqueira, Derval “sempre quis impor as ideias dele, fazer com que suas ideias prevalecessem ante o gestor. Mas, na verdade, as coisas nascem de um debate mais amplo, e os gestores – Ricardo Coutinho e Luciano Agra – têm ideias próprias”, disse Lau.

Assim como Derval, outros coletivistas históricos como Rossana Honorato (que foi superintendente da Sudema), Hildevânio Macedo (que comandou a Secretaria do Desenvolvimento Urbano de João Pessoa – Sedurb), entre outros, afastaram-se do 'Coletivo' – alguns por questões partidárias, outros por divergência de ideias. Procurada para falar sobre o assunto, Rossana Honorato negou-se a dar entrevista. Ano passado, quando ela foi exonerada da Sudema pelo governador Ricardo Coutinho, chegou a declarar que o 'Coletivo' que levou Ricardo da Universidade Federal da Paraíba ao governo do Estado não existe mais, pois o modelo de liderança adotado dividiu o que buscava ser um coletivo, com a construção de elos estratégicos mantidos individualmente.

Para a ex-vereadora Paula Frassinete, as dissidências ocorreram por conflito de interesses. “À medida que você começa a ser Executivo, os choques começam. Há pessoas que não conseguiram ainda digerir ser Executivo. Só sabem ser parlamentar, legislativo ou movimento social”, disse ela.