COTIDIANO
Insegurança esvazia o Centro de João Pessoa e prejudica comércio
Na capital, moradores relatam que deixam de frequentar lojas e ruas da área central por medo da violência e trânsito caótico.
Publicado em 03/05/2015 às 16:00 | Atualizado em 14/02/2024 às 12:21
Insegurança, falta de locais para estacionar, iluminação precária e comércio descentralizado para os bairros são alguns dos fatores que provocam o esvaziamento cada vez maior do Centro de João Pessoa. Quem frequenta o local revela que só se desloca para a área quando não encontra o que necessita em seu bairro. Contudo, quando a única opção são as lojas do Centro, o deslocamento de carro exige atenção redobrada para evitar o estresse.
Revelando ser uma raridade encontrá-la no Centro da cidade, a massoterapeuta Kátia Melo mora no bairro do Bessa e diz que a maioria das compras são realizadas nas proximidades de sua residência. Uma das razões é por conta da insegurança. “Confesso que é muito raro me encontrar no Centro da cidade. Eu acho aqui muito inseguro. Para se ter uma ideia, eu sou de Recife e nunca fui assaltada lá, mas, depois que vim morar em João Pessoa, eu fui assaltada. Levaram meu relógio aqui mesmo, na Lagoa. Aqui é muito inseguro, tanto que nem paro muito tempo, vou de um destino a outro e logo volto para casa”, declarou.
A massoterapeuta disse que muitas das coisas de que precisa, como artigos de casa e até roupas, são mais baratos no Centro da cidade, contudo prefere pagar um pouco mais tanto pela comodidade das lojas próximas à sua casa quanto pela segurança. “Eu pago mais caro, mas prefiro evitar. Hoje, eu só vim ao Centro porque preciso resolver questões bancárias”, afirmou.
Assim como ela, a agricultora Ana Maria Melo também acredita que a insegurança é o principal ponto de distanciamento do público do Centro da capital. Ela disse que, não somente esse local, mas toda a cidade, em sua opinião, está perigosa e, por esse motivo, muitas vezes é melhor ficar perto da sua casa do que se deslocar para locais muito distantes. “Apesar de ser movimentado (o Centro), a gente sabe que todo canto está violento hoje em dia. Eu mesma ando muito por aqui, mas não ando com nada, nem celular, nem joias. Acho que o único jeito mesmo é se prevenir”, comentou.
Além da insegurança relatada pelos moradores, que se agrava no fim da tarde e início da noite, com ruas que, muitas vezes, não são bem iluminadas, e da descentralização do comércio para os bairros, a ausência de estacionamentos é algo que, para muitos, se torna incômodo. O aposentado José Gomes Cardoso revelou que, mesmo precisando ir a locais mais distantes, prefere deixar sempre seu veículo em um shopping no Centro da capital, o que acaba se tornando um grande transtorno. “Vim resolver algo na Maciel Pinheiro, mas meu carro está no shopping. Não acho ruim andar pelo Centro, mas seria bom se tivesse mais estacionamentos, até porque isso acaba, por vezes, afastando as pessoas”, opinou.
PM registra mais de 1,5 mil ocorrências na área do Centro
De acordo com informações da Polícia Militar, nos quatro primeiros meses deste ano a Polícia Militar registrou 1.516 ocorrências na área central de João Pessoa, o que corresponde a uma média de 13,2 ocorrências por dia. De acordo com a PM, esses números são relativos a todo o Centro e, ainda, à área do Varadouro. Dentre as ocorrências atendidas estão as lesões corporais, os roubos e as ameaças. Além dessas, ainda consta no registro da PM o atendimento a casos de tráfico de drogas, roubos de veículos e furtos em estabelecimentos e residências.
O setor de estatística do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM), responsável pelo policiamento do local, ainda revelou que os locais mais críticos observados pela PM são a rua da Areia, o Pavilhão do Chá, Terminal de Integração e arredores, Porto do Capim, Saturnino de Brito e Lagoa. Além do mapeamento dos locais, a polícia ainda tem o período da noite como o mais crítico.
Segundo o comandante do 1º BPM, coronel Lamarck, a Polícia Militar possui um posto policial no Parque Solon de Lucena, próximo ao posto da Guarda Municipal, que fica no anel interno da Lagoa. Além do policiamento constante, realizado nesse local, dois trios de motos e uma viatura são direcionadas especificamente para essa região. “Essa nós chamamos a parte baixa do Centro, que abrange a Lagoa, o Mercado Central, até ali o Shopping Tambiá. Para as demais ruas, que vão até o terminal de integração, nós trabalhamos com mais duas viaturas”, assegurou.
Para o comandante do 1º BPM, o esvaziamento do Centro da cidade tem muito mais ligação com a crise econômica do que com a insegurança. Em sua opinião, se houvesse um distanciamento da população por conta disso, a violência poderia ser considerada incontrolável, o que, para ele, não é o caso. “Infelizmente temos que reconhecer que acontecem roubos, furtos, arrombamentos na madrugada, mas acho que a maioria dos casos a gente tem conseguido atender bem”, completou.
Lojistas querem melhorias
O Centro de João Pessoa é um dos únicos locais em que quase tudo pode ser encontrado, desde materiais de construção até produtos de beleza. Tendo em vista essa diversidade, há públicos específicos que frequentam o local, contudo, a falta de investimentos em infraestrutura, como a construção de estacionamentos, têm, na opinião do presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas da capital (CDL-JP), Eronaldo Maia, diminuído a oportunidade de crescimento do negócio local.
A principal evasão observada, conforme Eronaldo Maia, é a de pessoas das classes A e B. “Por terem mais condições, elas querem mais conforto e, quando vão ao Centro, não têm onde deixar o carro, transtorno esse que faz com que se procure mais os serviços desse tipo descentralizados pelos bairros”, comentou, destacando como áreas mais preocupantes as avenidas Beaudepaire Rohan; a Maciel Pinheiro; a Barão do Triunfo e a General Osório. “Essas são ruas que foram prejudicadas pela não criação de estacionamentos e de políticas que incentivassem o crescimento dessas regiões”, lamentou.
Em acréscimo, o presidente da CDL-JP destacou a insegurança. Citada por todos os entrevistados, esse é um dos fatores mais preocupantes para o comércio. “É uma sensação de insegurança que está presente em todo canto. Tem que haver uma preocupação maior, uma política de incentivo. O problema é que não se faz isso porque se pensa que, se investir nessas áreas, o único beneficiado será o comércio, mas não é bem assim. Investindo nisso, acaba acarretando em um benefício para toda a população. O centro da cidade está vivo, está ativo e está morrendo por conta desses fatores, infelizmente”, completou, revelando acreditar que o projeto de revitalização da Lagoa, realizado pela prefeitura da capital, deverá melhorar as condições existentes ao menos nos arredores da Lagoa do Parque Solon de Lucena.
Leia matéria completa na edição deste domingo (5) do JORNAL DA PARAÍBA.
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