VIDA URBANA
De batina, prancha e bike, padres divulgam a fé entre os mais jovens
Padre Glênio surfa, frequenta academia e celebra missas. Comportamento divide a opinião de católicos conservadores.
Publicado em 01/09/2013 às 8:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 16:55
Quem frequenta a missa na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Altiplano Cabo Branco, em João Pessoa, deve ter notado que as celebrações estão mais "alegres" e interativas desde a chegada do padre Glênio Guimarães. Quem o vê com a tradicional batina talvez nem imagina que ele adora surfar e frequentar academia, religiosamente, três vezes por semana para manter a boa forma e a saúde. O jeito descontraído e informal do padre de 51 anos é uma forma de se aproximar dos jovens, motivo de críticas por parte de católicos mais conservadores.
Desde que foi para a paróquia do Altiplano, ele tem chamado a atenção dos fiéis. Uns o admiram pela personalidade forte; outros não. Glênio, como prefere ser chamado, recebeu a missão de ir para a ilha de Fernando de Noronha (PE) em 2010, onde teve uma passagem polêmica e marcante. Passou três anos por lá. Desde o último dia 29 de junho voltou para o Altiplano, na mesma igreja que ajudou a fundar. Ele reconhece ser um padre “um pouco diferente do convencional”, mas afirma também que “não se pode agradar a todos. Nem Jesus agradou”.
Quando chegou em Noronha, a primeira providência foi deixar as portas da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios aberta o dia quase todo. Muitos turistas aproveitavam a visita ao local para ficar na missa do padre Glênio. Ele diz que não pensa em fazer o mesmo em João Pessoa. “Temos que fazer as coisas de acordo com a realidade local”, explica o padre. “Na ilha não havia perigo, por isso a igreja ficava aberta sempre das 6h às 23h”, justifica.
O sacerdote diz que foi muito bem recebido pela Arquidiocese da Paraíba e pela comunidade católica do Altiplano, onde celebra missa todas as terças e sextas, às 19h, e em alguns domingos. Glênio mora no Santuário da Penha. Faz visitas a doentes, celebra casamentos e batizados. Tem em sua agenda todas as atividades comuns a um padre.
A missa celebrada por Glênio tem suas particularidades. Ele gosta de chamar as crianças para rezar a oração do Pai Nosso no altar e faz questão de ir até a porta da igreja receber os fiéis.
Quando a missa termina, faz o mesmo. “Durante o canto de Glória, procuro chegar perto das pessoas. Parabenizo semanalmente os aniversariantes, procuro ligar a fé com a vida”, declara. Durante a missa, o padre consegue arrancar risos dos fiéis sempre que conta alguma coisa engraçada.
O surf, por enquanto, ele ainda não retomou. “Estou conversando com a galera”, explica. Foi em Noronha que Glênio começou a surfar nas horas vagas, na praia da Cacimba do Padre. “Conheci um grupo de jovens que surfava e vi que ali era uma forma de me aproximar deles, de evangelizar. A prática do esporte vem acompanhada do trabalho de oração”, explica. Ele admite que houve quem não gostou, mas foram poucos. “Claro que errei, afinal sou humano, mas nada de tão absurdo”, diz.
Tão sagrado quanto a missa é o cooper que ele pratica todos os dias, bem cedo, na praia do Cabo Branco. “Corro de 5 a 10 quilômetros”, revela. Apesar de rejeitar o título de vaidoso, o padre admite que intercala corrida com academia, durante a semana. Glênio rejeitou a proposta de ser fotografado na academia. “Melhor não”, argumenta.
O padre confessa que fica um pouco chateado com as críticas que recebe por fugir do convencional. “Compreendo que as coisas diferentes causam espanto em algumas pessoas acostumadas com o tradicional. É o preço que paga por inovar”, afirma.
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