CULTURA
Após sucesso, 'Ceguinhas' de Campina Grande sentem falta do público
Estrelas do filme 'A Pessoa é Para o que Nasce', as irmãs lamentam o ostracismo e dizem sentir saudades do palco e dos aplausos.
Publicado em 07/02/2016 às 11:42
Saudade dos palcos e dos aplausos do público, lembranças do auge da carreira, do passado de maus-tratos e esperanças de um futuro melhor e com novos shows. Juntos e misturados, foram esses os assuntos abordados por Maroca, Poroca e Indaiá, 'as ceguinhas de Campina Grande', na conversa com a reportagem do JORNAL DA PARAÍBA, diálogo capaz de sintetizar o dia a dia do trio que em 2004 conquistou o público após a estreia do filme A Pessoa é Para que o Nasce, do diretor Roberto Berliner.
Depois da empolgação do público com a estreia do filme, o trio lamenta o período de esquecimento, mas, ao mesmo tempo, alegra-se com a possibilidade de uma nova apresentação, que ainda não está confirmada, mas pode ocorrer em julho desse ano, na cidade de Belo Horizonte (BH).
Atualmente, Maroca (71 anos), Poroca (72 anos), e Indaiá (65 anos) vivem no bairro do Catolé, em Campina Grande. Há cerca de um ano e quatro meses, a guarda delas foi concedida pela Justiça a uma conhecida das irmãs, após relato de maus-tratos e negligência por parte de familiares.
Ao recordar o período difícil, enfrentado mesmo após a fama e do dinheiro que conseguiram arrecadar depois do filme (que levou sete anos para ficar pronto), elas contam que a mudança de casa inaugurou um período mais calmo e feliz, fazendo-as sonhar novamente com o carinho do público.
“Já faz muito tempo que ninguém chama, a gente estava esquecida. Pensamos que tinham se afastado de nós”, lamentou Poroca. Apesar disso, o trio diz não guardar mágoas e destaca as mudanças trazidas pelo filme.
“Depois do filme, a vida melhorou muito. Eu nunca pensei de estar tão bem como estamos agora. Com o filme somos mais respeitadas, porque antigamente ninguém dava valor. Quando a gente vivia na rua pedindo para sobreviver, não tínhamos sossego. Os gaiatos passava lá dando tapa na cabeça da gente, colocando papel na bacia em vez de dinheiro, mas depois eles passaram a respeitar mais a gente”, contou Maroca.
Recebendo aposentadoria do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), as irmãs deixaram de pedir esmola na rua depois que ganharam fama. Desde então, a vida nas ruas, realidade que elas viviam desde a infância para ajudar os pais, é apenas uma lembrança.
As canções e o ganzá (instrumento musical), que chamavam a atenção de quem passava na rua para os apelos do trio por esmolas, também deixaram de ser lembranças de um passado difícil e se transformaram em diversão e sinônimo de recordações.
“Meu pai gostava de cantar e foi ele que ensinou a gente a tocar. Antes dos sete anos a gente já sabia cantar e tocar. Eu que sou mais nova demorei, ficava vendo elas cantarem e acabei aprendendo com nove anos”, lembra Indaiá.
A pessoa é para o que nasce...
"No filme diz que a pessoa é para o que nasce. Eu pensei que tinha nascido só para pedir esmola no meio da rua, mas foi engano e graças a Deus mudou muito, não nasci só para isso, gosto é de cantar".
Maroca.
"Nasci para cantar e para ser feliz na vida. Eu pensava que a vida da gente não ia melhorar, mas eu estava feliz e não sabia, foi a maior surpresa".
Indaiá.
"Nasci para cantar. Quem nasce para cantar é para cantar, assim como quem nasce para vender é para vender alguma coisa"
Poroca.
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