VIDA URBANA
Locais são considerados um "depósito de gente"
Professora afirma que invisibilidade não foi rompida com a Reforma Psiquiátrica.
Publicado em 05/07/2015 às 8:00 | Atualizado em 07/02/2024 às 13:24
Enclausurados no que a professora Débora Diniz, autora da primeira pesquisa sobre o assunto no país, classifica de "depósito de gente", essas pessoas são duplamente marginalizadas: pelo crime cometido e pela doença mental. A sociedade não faz questão de enxergá-las, a Justiça não acelera os processos e a família simplesmente as abandona. A violação dos direitos humanos de quem vive no hospital de custódia e tratamento psiquiátrico é um drama que parece não incomodar quem está do lado de fora dos altos muros da instituição.
“Lugares que abrigam loucos infratores* que estão há 10, 20, 30 anos presos, sem contato com a família, sem acesso à saúde e tratamento, sem uma sentença de desinternação porque jogaram uma pedra em alguém, são verdadeiros depósitos de gente”, afirmou. Antes do estudo de Débora, essas pessoas sequer representavam um número. “Ser contado em um censo nacional é uma forma de existir”, afirmou a professora, que precisou enfrentar toda a burocracia possível para adentrar nas instituições. O que ela lamenta é não ter contado as histórias de vida dos internos. O trabalho se resumiu a contá-los, mas isso já se torna significativo.
Segundo a pesquisadora, a invisibilidade do louco infrator não foi rompida com a Reforma Psiquiátrica. “Essa população continua esquecida, marginalizada. São praticamente uma sombra. Vivem em um limbo, onde as políticas públicas no campo da saúde ou da segurança pública não chegam”, afirmou. Apesar das críticas, Débora disse que a solução não estaria no fim dessas instituições.
Ela explicou que é a favor do cuidado com esses pacientes. “Eles precisam de cuidado e de uma revolução na política pública que a Reforma Psiquiátrica não conseguiu trazer para essa população. Estamos falando de indivíduos há mais de 30 anos encarcerados. Lembro que não há prisão perpétua em nosso Código Penal, mas os hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico têm exemplos de como as violações de direitos humanos estão ali, por cima do muro do hospital”, declarou.
(* Os pesquisadores utilizam a expressão 'louco infrator' nos estudos)
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