CULTURA
O buzão do samba-rock
Com uma sonoridade orgânica, urbana e extremamente nordestina, 'Seu Pereira e Coletivo 401' lança edição em CD do seu trabalho de estreia.
Publicado em 11/04/2013 às 6:00
Um samba-rock bem azeitado, com forte sotaque nordestino. Um encontro de Lenine com Clube do Balanço, Mundo Livre com Zé Ramalho, Jovem Guarda com Musiclube. Assim é o disco de estreia do Seu Pereira e Coletivo 401 que, enfim, ganha edição em CD.
O disco homônimo, selecionado pelo Fundo Municipal de Cultura (FMC) de 2009 e gravado entre 2010 e 2011 no estúdio Pexei-Boi, em João Pessoa, era para ter saído ainda em 2012, mas um atraso na fábrica fez a prensagem demorar, pelo menos, seis meses.
Formado em 2009 a partir das cinzas da extinta A Função, o grupo reúne Jonathas Falcão, que adotou o codinome Seu Pereira, mais o baixista Thiago Sombra, o baterista Victor Ramalho (o ‘Victorama’) e o guitarrista Esmeraldo Marques, o ChicoCorrea. Os quatro também integram a ChicoCorrea & Electronic Band.
Mas ao contrário da proposta eletrônica do CCEB, Seu Pereira e Coletivo 401 investe em um som orgânico, urbano e extremamente nordestino, cortesia das letras carregadas de regionalismo de Falcão (um dos melhores compositores de sua geração – veja trechos das letras abaixo) e a sonoridade que tanto bebe da cantoria de viola e do cordel, quanto do samba, blues, brega e rock.
“Se você ouvir minha forma de cantar n’A Função, e hoje, é muito diferente”, comenta Falcão, por telefone. “Naquela época, eu, um boy de 20 e poucos anos, mascarava o sotaque, como muita gente faz em bandas pop. Mas o fato de eu ter entrado no ChicoCorrea & Electronic Band e ter começado a cantar coco, que eu sempre gostei, fez com que aflorasse mais o orgulho de cantar com esse sotaque. Mesmo o trabalho sendo super pop, o vocal surge rasgado, fazendo o contraponto (à roupagem urbana das canções)”.
Boa parte do repertório do CD – produzido por ChicoCorrea - foi importada d’A Função, como ‘É pouco’, ‘Papai mamãe’ e ‘Clara herança’, que aqui aparece reformulada com a parceria do rapper baiano Russo Passapusso, que incluiu umas ótimas rimas na canção.
Das 12 músicas, oito são de Falcão. Outras duas – ‘No Mato’ e ‘Peri da Silva’ – são do vocalista com Tiago e Victorama. E além da parceria com Passapusso em ‘Clara herança’, há uma música de Falcão com ChicoCorrea. “Esmeraldo rearranjou a música. Ele deu esse clima breguinha a ela, que eu acho bacana”.
Para o vocalista, as canções refletem a diversidade que há no ônibus coletivo que inspira o nome da banda – extraído da linha que faz o trajeto entre o Centro de João Pessoa e o Altiplano Cabo Branco e que passa pelos bairros da Torre e Tambauzinho, onde Falcão morou.
“Muitas ideias para o disco, para as músicas, surgiram das observações que eu fiz dentro do ônibus, dos personagens que pegavam o 401, que é o universo do cara que vai trabalhar, do cara que fica pensando na vida, do que puxa a conversa”, conta o vocalista.
Esse cotidiano passa muito pela luta diária do trabalhador (‘Cabidela’), pelos heróis de Falcão (‘Guerrilheiro’) e pelos relacionamentos a dois (‘É pouco’, ‘Martelada’, ‘Rabissaca’), crônicas narradas com estilo, poesia e conteúdo.
O CD vem embarcado em uma bela edição digipack, com capa luxuosamente desenhada por Mike Deodato Jr, o famoso paraibano ilustrador da Marvel e cunhado do Seu Pereira que, aqui, se inspira no traço do mestre Gene Colan.
DISCO NOVO
No mês passado, Jonathas Falcão se mudou para São Paulo, onde inicialmente ficará até julho. Lá, já descolou um show, que acontece nesta sexta-feira no Espaço Cultural Puxadinho da Praça, recanto da cena musical independente de Vila Madanela. ChicoCorrea já está lá (envolvido em uma residência artística internacional) e Víctor e Thiago desembarcam hoje na capital paulista e devem ficar por duas semanas.
Lá, além tentar outras apresentações, o Seu Pereira e Coletivo 401 aproveita para gravar videoclipes promocionais e dar sequência ao novo disco, que o grupo já começou a gravar em João Pessoa.
“Essas músicas que estão no CD são de toda uma década, músicas de 2000 até 2010. São canções que, pra gente, estão bem rodadas. E tem muita música nova que a gente precisa botar pra frente”, revela o vocalista.
Com Falcão enviando canções de São Paulo e o restante da banda gravando as bases no estúdio de Victorama, em João Pessoa, o SPC401 tem feito a pré-produção do novo disco (ainda sem título).
Ao menos uma música já foi gravada: ‘Bicho solto’, registrada no estúdio Mutuca, onde a banda quer gravar o segundo álbum no semestre que vem.
Outra canção que deverá fazer parte do repertório é ‘Eu cegue’, que a turma vem tocando nos shows.
Comentários