VIDA URBANA
Denúncias de violência contra a mulher triplicam na Paraíba
Número de registros no Ligue 180 no Estado, no primeiro semestre do ano, superou 2,5 mil atendimentos.
Publicado em 03/12/2015 às 8:35
O número de registros no Ligue 180 na Paraíba feitos no primeiro semestre de 2015 já é três vezes superior ao total de 2014. As informações do Disque-Denúncia da Central de Atendimento à Mulher foram divulgadas recentemente pela Secretaria de Políticas Para Mulheres (SPM), do Ministério da Cidadania.
A SPM informou que foram 2.508 atendimentos entre janeiro e junho de 2015, enquanto 2014 totalizou 818 – isto significa um aumento de 206,6%. Em 2015, 16% das ligações foram referentes a denúncias, sendo 209 relatos de violência física, 122 de violência psicológica, 33 de violência moral, 22 de cárcere privado, cinco de violência patrimonial, onze de violência sexual e três de tráfico de pessoas.
O caso da dona de casa Maria Fernandes (fictício) certamente está na estatística desse ano do Ligue 180. Mesmo com o caso de violência doméstica denunciado à Delegacia da Mulher de João Pessoa, processo judicial na Vara de Violência Doméstica da cidade e acompanhamento no Centro Ednalva Bezerra, Maria foi vítima da violência novamente, no último mês de abril, quando foi agredida a socos pelo ex-namorado e a irmã dele.
“É um sofrimento que parece não ter fim e ele não tem medo, mesmo com as denúncias. Ele sabe de tudo isso, mas passa na frente da minha casa, todos os dias, para me intimidar”, declarou a dona de casa, relatando que na última agressão, os vizinhos chamaram a polícia e a filha mais velha também ligou para o Lique 180. “Ela ligou depois que soube que eu apanhei e eu também, porque a gente tem medo quando ele fica passando aqui em frente de casa, ou liga me ameaçando. Eu que pareço prisioneira enquanto ele fica na rua”, desabafou Maria.
Na Delegacia da Mulher na zona Norte de João Pessoa, entre janeiro e novembro de 2015, 1.181 inquéritos foram instaurados, além de 1.552 medidas protetivas com e sem representação. A maioria das denúncias é referente a ameaças, seguidas por lesão corporal, injúria e estupro. Já na delegacia da zona sul, no Geisel, inaugurada em setembro deste ano, cerca de 270 inquéritos já foram instaurados.
“Com o advento da Lei Maria da Penha, as mulheres se sentem mais encorajadas, ganham um empoderamento para tomar atitudes. A violência sempre foi grande, mas acontecia entre quatro paredes. Agora as mulheres se informam cada vez mais, denunciam, procuram Centros de Referência”, declarou Joyce Borges, gerente do setor de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher da Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana da Paraíba (SEMDH/PB). Na Paraíba, a taxa de informação corresponde a 64% dos registros, superior à média nacional de 40% correspondentes à prestação de informações.
Maísa Araújo, coordenadora das Delegacias da Mulher em João Pessoa, acredita que ainda mais denúncias precisam acontecer. “A violência doméstica familiar é um tabu até hoje e precisamos quebrar estas barreiras para denunciar todos os casos. O empoderamento feminino e encorajamento através de políticas públicas é necessário para que este quadro mude”, afirmou. (Colaborou Katiana Ramos)
No Brasil
Cinco milhões de mulheres foram atendidas pelo Ligue 180 em uma década; o primeiro semestre do ano registrou mais de 630 mil atendimentos, 56,17% superior ao mesmo período de 2014. O banco de dados também revelou que a cada 3 horas é registrado um caso de estupro no Disque-Denúncia.
De acordo com a Central de Atendimento à Mulher, houve um aumento de mais de 300% nos registros de cárcere privado em comparação com o mesmo período em 2014. Isso significa cerca de dez casos ao dia. Segundo informações da Central, este aumento significativo do cárcere privado é fruto de denúncias da própria população, ou seja, a sociedade está começando a se defender, e isto vem da indignação cada vez maior. Qualquer pessoa pode denunciar a violência contra a mulher, e isto é um ponto propiciado pela Lei Maria da Penha.
Comentários