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CULTURA

O disco de uma era

'Me sinto muito feliz de ter feito ele', diz Carlos Eduardo Miranda, produtor do disco 'Raimundos', lançado em 1994 e que faz 20 anos.

Publicado em 11/05/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 13:00

No dia 12 de maio de 1994, chegava às lojas um disco que marcaria o som pop juvenil feito no Brasil daquela década: Raimundos. Primeira iniciativa do selo Banguela, criado pelo produtor e jornalista gaúcho Carlos Eduardo Miranda com os integrantes dos Titãs, o álbum (distribuído pela Warner Music) lançaria o quarteto de Brasília com um forte sotaque nordestino.

Esse sotaque vinha, sobretudo, do vocalista e letrista Rodolfo, que embora tenha nascido no Distrito Federal, tem o sangue paraibano da família Abrantes. Foi bebendo do forró, aditivado com guitarras ligeiras e uma batida seca e firme, que o Raimundos decolaria para escrever seu nome da historia do rock nacional.

“Esse disco tem um tipo de música que está fazendo muita falta no mundo hoje, uma música mais rebelde, mais nervosa, e eu me sinto muito feliz de ter feito ele”, comenta o próprio Miranda, em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA, por ocasião dos 20 anos do disco, completados amanhã.

Miranda conheceu o quarteto quando escrevia para a revista Bizz através de um paraibano, o jornalista Carlos Marcelo (coautor de O Fole Roncou) que, à época, lhe enviou uma demo da banda. “Quando a demo dos Raimundos chegou, a redação da Bizz veio abaixo. Todo mundo ficou louco”, recorda Miranda.

O gaúcho conta que o quarteto – Rodolfo (vocal), Digão (guitarra), Canisso (baixo) e Fred (bateria) – não deu o mínimo trabalho no estúdio Bebop, em São Paulo, onde gravaram o disco entre janeiro e fevereiro de 1994. “A minha maior satisfação, como produtor, foi manter intacto tudo que eles tinham de bom. Eu falei: -Desce a porrada mesmo, suja mesmo, fala palavrão mesmo, que aqui ninguém mexe. Fui o guardião da porradaria!”.

Crônica da ida de um adolescente Rodolfo a um conhecido prostíbulo na companhia dos primos Augusto e Berssange, ‘Puteiro em João Pessoa (Roda Viva)’ abria o disco destilando o talento do vocalista para as letras e exibindo a habilidade instrumental da banda, apoiada em Ramones, Beach Boys, Slayer e Luiz Gonzaga.

"Eu converso muito com os amigos sobre o disco e a gente tem falado muito sobre as letras do Rodolfo, como elas eram muito bem elaboradas”, fala Miranda. “Outro dia eu tava dizendo que o Rodolfo é melhor que o Renato Russo”.

O grupo conseguiu transpor para o disco o forró de duplo sentido que vingou nos anos 80 com Genival Lacerda, Sandro Becker, Cremilda e Zenilton, que acabaram levando para o estúdio, não só na participação que permeia as 14 faixas do CD, como na regravação de três músicas do LP O Cachimbo da Mulher, lançado pelo sanfoneiro pernambucano em 1981.

É nessa mesma pegada que o grupo compôs o repertório recheado com sexo, drogas e rock ‘n’ roll, com músicas como ‘Minha cunhada’, ‘Rapante’, ‘Nêga jurema’ e ‘Cintura fina’, que volta à Paraíba, desta vez para narrar uma ida ao São Pedro em Itaporanga.

Para mostrar a disposição do Raimundos para tirar sarro, o CD encerra com uma balada acústica (com viola gravada por Nando Reis), ‘Selim’, em que Rodolfo, empostando a voz, canta sobre seu desejo de ser a cela de uma bicicleta quando uma jovem saísse para passear.

Vinte anos depois, o Raimundos segue com dois integrantes originais (Digão e Canisso) e acabam de lançar um bom disco (Cantigas de Roda). Rodolfo abandonou o grupo em 2001 e se dedicou à música cristã.

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Jornal da Paraíba

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