VIDA URBANA
Situações delicadas são armadilhas emocionais
Vivenciar algo que cause pânico contribui para desenvolver o estresse pós-traumático.
Publicado em 31/08/2014 às 8:00 | Atualizado em 11/03/2024 às 15:47
Após passar por uma situação delicada, como um sequestro ou um acidente, por exemplo, muitas pessoas tendem a sofrer com uma série de alterações emocionais e psíquicas. Essa mudança é chamada de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), que merece atenção e cuidado. O problema voltou a ser discutido recentemente, quando o então presidenciável Eduardo Campos e outras seis pessoas morreram em um acidente de avião em Santos, São Paulo.
Moradores da área próxima onde ocorreu a tragédia ficaram atordoados, chorando a todo instante e com medo de voltar para casa. Outros, ficaram temerosos em viajar de avião.
A situação citada, claro, é excepcional, até porque aviões não caem todos os dias. Contudo, o estresse pós-traumático pode surgir em outros momentos da vida. Alguém que foi vítima de assalto e teve uma arma apontada para a cabeça pode desenvolver o transtorno. Outro exemplo pode ser uma pessoa que sobreviveu a um acidente de trânsito e perdeu os parentes na tragédia.
São várias as situações que podem desencadear o estresse pós-traumático, problema que vai interferir diretamente na qualidade de vida, segundo a psicóloga clínica e organizacional Rafaela Ferreira, da Pleno Ser Psicologia. “Pode ocorrer também em pessoas que vivenciaram ou presenciaram um ou mais eventos traumáticos, como sequestros, agressões físicas e psicológicas, estupros, catástrofes naturais, acidentes de trânsito ou morte de pessoas próximas”, frisou.
Contudo, segundo ela, não basta ser exposto a uma situação de risco de vida para desenvolver TEPT. “É necessário que a pessoa tenha reagido com intenso medo, impotência ou desamparo. Percebemos que o trauma irá ocorrer dependendo da suscetibilidade do indivíduo, dos fatores biopsicossociais e de sua capacidade de resiliência ao lidar com esses eventos”, afirmou.
O transtorno, então, consiste na revivescência, que é um tipo de recordação na qual a pessoa não apenas se lembra do ocorrido, como também desencadeia alterações fisiológicas e mentais, como se estivesse vivendo novamente aquele momento, conforme explicou Rafaela. O tratamento mais adequado, segundo a profissional, é aliar a intervenção medicamentosa e a psicoterapia, mas não existe um tratamento generalizado para todos os tipos de TEPT.
Dessa forma, é necessário que o profissional faça uma avaliação psicológica adequada, de forma que possa atender às demandas da pessoa em sofrimento, levando em consideração as singularidades de cada pessoa. “Só depois dessa análise é que o psicólogo deve indicar o tratamento, a partir do exame psíquico”, afirmou. Segundo ela, é importante também envolver a família no tratamento, “pois quanto maior o apoio social, mais êxito terá a pessoa com TEPT”.
Esse transtorno, apesar de apresentar algumas semelhanças, não é a mesma coisa da Síndrome do pânico, como algumas pessoas acham. “Ambos têm como sintomas a insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, desinteresse e isolamento”, ressaltou. A diferença entre eles é importante principalmente para que seja dado o diagnóstico correto. Na Síndrome do pânico as crises de ansiedades marcadas por muito medo e desespero, muitas vezes ocorre de forma inexplicável, sem eventos anteriores que justifiquem a crise.
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