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CULTURA

Malandro geração Y

Cantor e compositor carioca Moyseis Marques lança seu 3º CD solo, o trabalho autoral resgata o espírito boêmio do músico.

Publicado em 01/02/2012 às 6:30


Em sua 'Homenagem ao malandro', Chico Buarque vai à Lapa esperando encontrar os barões da ralé entre deuses e bofetões.

Frustrado, o sambista conclui que perdeu a viagem e que aquela tal malandragem não existe mais.

O malandro que antes caminhava de viés, deixava balançar a maré e a poeira assentar no chão, agora aposentava a navalha e chacoalhava em um trem da central, para dar de comer aos filhos.

Um dos descendentes desta geração de ex-malandros, Moyseis Marques ainda guarda nos genes um pouco da nata de outros carnavais.

“Não é porque eu uso all star e tenho iPod que não posso ser malandro”, brinca o cantor e compositor carioca.

“O problema é que o Rio de Janeiro está precisando de menos malandragem e mais profissionalismo. O malandro de hoje acumula várias funções e tem que se dar conta de que dá trabalho fazer o que ele faz”, diz por telefone, de seu escritório na Lagoa Rodrigo de Freitas.

Com dez anos de Lapa, o músico que chega à praça com seu terceiro CD solo, Pra Desengomar (Biscoito Fino, R$ 34,90), casou e vai ser pai no próximo mês de maio.

“Com o meu trabalho procurei curtir e levar a vida com leveza. A noite foi minha melhor universidade, mas também estudei música, orquestração e adquiri esta péssima mania de chegar no horário em meus compromissos”, afirma o jovem de 33 anos.

Com um repertório 100% autoral, Moyseis mostra sua preocupação em fazer um samba sério, respeitando, porém 'desengomando' toda a ancestralidade do gênero.

“O título do disco se inspira nesta gíria antiga que aqui no Rio de janeiro significa 'simplificar', 'resolver', 'tornar mais fluente'. Quis fazer um contraponto ao meu segundo trabalho, que é mais soturno, mais 'engomado', por assim dizer”.

O talento que despontou com um álbum homônimo, de 2007, e se consolidou com Fases do Coração (2009), declara ter o privilégio de conviver com "patrimônios vivos do samba", como Dona Ivone Lara e Mestre Monarco.

"Estes nomes me transmitiram a consciência de que há 100 anos tem gente fazendo o que eu faço e de que é preciso ter comprometimento com a música, na medida em que o ouvinte goste muito mais dela do que de mim", confessa quem, depois de uma adolescência vivida nos subúrbios da 'Cidade Maravilhosa', conquistou o rótulo de 'sambista cult' ao ganhar a Lapa.

"A grande verdade destes rótulos é que o samba e o pagode, por sua popularidade, ganharam conotações negativas, viraram referência de música ruim. Mais que um som difícil, para intelectuais e para poucos, o que procuro colocar em minha música é carinho", finaliza.

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Jornal da Paraíba

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