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EDUCAÇÃO

Sala de aulas sem fronteiras e com muitas experiências na mochila

Estudantes de graduação compartilham desafios, vivências e saudades de casa ao participar de programas de intercâmbio no exterior.

Publicado em 18/05/2015 às 16:00 | Atualizado em 09/02/2024 às 17:03

Quando entrou no avião em julho do ano passado rumo à cidade de Portsmouth, localizada no sul da Inglaterra, a universitária Tainá Myra, de 21 anos, não tinha noção do que iria vivenciar. Enquanto olhava pela janela e apertava o cinto, após se acomodar na cadeira da aeronave, sua mente parecia inquieta e os pensamentos a mil. O destino desconhecido se aproximava cada vez mais e, apesar disso, a sensação de segurança e o desejo de se aventurar eram maiores do que qualquer coisa.

Alguns meses depois da primeira sensação de estar longe de casa e da família, Tainá não esconde a felicidade e a satisfação da experiência proporcionada pelo intercâmbio. A estudante do curso de Farmácia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) conta que participar do Ciência sem Fronteiras, projeto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), expandiu seus horizontes e trouxe experiências enriquecedoras que irão acompanhá-la durante toda a vida.

“Evoluí como ser humano e profissional como nunca imaginei em um curto espaço de tempo. Chegar verdadeiramente sozinha em um país de língua, cultura e pessoas tão diferentes se tornou, a principio, um desafio diário que me obrigou a passar por situações inéditas. Isso me deixou mais forte e madura”, afirmou a jovem, que atualmente estuda na Universidade de Portsmouth e se prepara para aproveitar os últimos dois meses de intercâmbio que ainda tem pela frente.

Fora as aulas com acadêmicos renomados, o contato com técnicas de pesquisa inovadoras, o conhecimento maior do inglês adquirido e as novas amizades que conquistou, Tainá destaca que durante o período vem tendo a chance de aprender a resolver os próprios problemas, administrar o dinheiro da bolsa e realizar afazeres domésticos, como cozinhar, limpar a casa e lavar roupa. “Essa experiência tem sido a mais engrandecedora que já passei”, fez questão de frisar.

Tainá explica que o sistema educacional da Inglaterra é diferente do nosso. (Foto: Arquivo Pessoal)

Rotina fora do país
Coração apertado, mas tecnologias ao alcance. De acordo com a universitária, em relação à saudade de familiares e amigos, certos dias na fria Portsmouth parecem ser mais difíceis que outros. Contudo, sempre que a tristeza aparece, ela busca apoio na internet, intensificando as conversas pelas redes sociais ou por videoconferências, que chegam a durar horas.

Além disso, segundo ela, os estudos têm se tornado grandes aliados em momentos de introspecção e reflexão, uma vez que o sistema educacional de lá é diferente do brasileiro.

“Aqui as horas/aula são bem menores e os alunos precisam desenvolver bastante o ‘self-study’ – o ato de estudar sozinho, fora da sala. Isso significa que a profundidade das aulas e do aprendizado vai depender mais do aluno que do professor. Para os nativos, é algo bem natural ter mais horas dedicadas ao estudo em casa, já para nós, que viemos do Brasil, a adaptação com a quantidade de tempo livre demora um pouco”, explicou, mencionando outras particularidades com as quais se deparou.

“As avaliações também são diferentes. Na Inglaterra, a gente estuda o ano e não o semestre, sendo que os professores nos avaliam com trabalhos e apresentações. Só no final do ano letivo é que fazemos provas com todo o assunto. Outra diferença é que trabalhar com pesquisa, que é meu caso, não é muito comum aqui na graduação, como é no Brasil. Isso acontece muito mais no final do curso ou nas férias de verão”, finalizou, deixando suas impressões sobre o que viu, porém ficando em cima do muro quanto à preferência. “Para mim, os dois sistemas tem suas falhas e pontos positivos”, comentou a jovem.

Um ano repleto de experiências
Se pudesse escrever um livro contando suas aventuras durante o intercâmbio para a cidade de Birmingham, na Inglaterra, a estudante de Engenharia Ambiental Evelyn Fank, de 22 anos, teria um título perfeito para a publicação: “O ano da minha vida”. Ela, que viajou em janeiro de 2014 e voltou em dezembro, relata que sempre teve o sonho de morar fora e não pensou duas vezes ao conhecer o Ciência sem Fronteiras durante palestras na UFPB. “Quando vi que o governo estava dando essa oportunidade com tudo pago, me joguei”, disse.

Assim como Tainá Myra, ela comenta que o projeto foi um divisor de águas em sua vida, uma vez que, por meio dele, pode entender outras culturas, mudar a visão do futuro e potencializar o que já havia aprendido na área acadêmica.

“Isso sem contar as viagens que a gente faz, visitando outras cidades”, sublinhou Evelyn, complementando que nem tudo foi flores. “No início, é bem complicado. Eu demorei a pegar fluência no idioma e ia para as aulas quase sem entender nada. Só depois que consegui entrar no ritmo”.

Evelyn Fank recorda com alegria tempos de intercambista e diz que faria tudo de novo, se fosse possível. (Foto: Kleide Teixeira)

Segundo ela, o mais interessante foi ter tido o completo aval da família ao longo do tempo em que passou no exterior. “Minha mãe inclusive foi me visitar. Acho que ganhei ainda mais a confiança dela, pois antes eu era super filhinha de papai e morria de medo de me soltar no mundo. Quando ela chegou, viu que eu estava toda desenrolada, sabendo fazer tudo. E lá fui praticamente uma mãe para ela, levando-a para os lugares e ajudando-a com tudo”, exemplificou.

Diferente do que pode parecer, o retorno ao Brasil não foi triste para Evelyn. Muito pelo contrário. Conforme ela, voltar ao país de origem foi o que faltava para vislumbrar novos objetivos e rumos. “Bateu apenas aquela saudade por causa da estrutura da universidade que é bem melhor que a brasileira. Mas agora eu quero mais: penso em fazer um mestrado e talvez viajar novamente”, revelou, complementando que sempre tem na ponta da língua um conselho para quem almeja a mesma experiência que teve. “Vá em frente”.

Alunos devem conhecer regras do programa
A estudante de Engenharia Mecânica Rebeca Casimiro, de 23 anos, teve interesse em participar do intercâmbio promovido pelo Ciências sem Fronteiras e pegou dicas com a amiga Evelyn Fank, que passou pela experiência em 2014.
Ansiosa para a ida à cidade de Jena, na Alemanha, Rebeca pretende viajar em julho deste ano e se diz nervosa. “Vou ficar dois meses para fazer um curso de alemão intensivo e um ano para estudar na universidade”, explicou a jovem, deixando claro que também vem pensando em maneiras de driblar a distância do marido, que ficará no Brasil.

Sobre a escolha do país, ela conta que analisou bastante as opções de instituições disponíveis antes de se inscrever no projeto e decidiu seguir as orientações de especialistas na área. “A Alemanha é o país da engenharia. A melhor engenharia vem de lá. Então eu, como futura engenheira mecânica, se fosse fazer um intercâmbio, teria que ser na Alemanha”, explanou, lembrando do processo pelo qual passou antes de ser aceita pela Universidade de Jena. “Foi bem tranquilo”.

Para participar do Ciência sem Fronteiras, é preciso estar regularmente matriculado em instituição de ensino superior no Brasil, em cursos relacionados às áreas prioritárias do programa; ter sido classificado com nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com no mínimo 600 pontos, considerando os testes aplicados a partir de 2009; possuir bom desempenho acadêmico; ter concluído no mínimo 20% e no máximo 90% do currículo previsto para o curso de graduação; e ter obtido pontuação mínima nas provas de proficiência, dependendo do país escolhido. As inscrições são feitas pela internet.

“Já o processo de seleção da universidade foi ainda mais simples. Eu escolhi três alternativas e mandei alguns documentos, como histórico e carta de motivação. Uma delas me escolheu e a partir daí foi que eu comecei a correr atrás dos documentos necessários ”, comentou. Ela disse ainda que a preparação vai além da burocracia. “No que diz respeito às roupas, vou levar o básico e deixar para comprar o resto lá, porque é mais barato”, concluiu.

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Jornal da Paraíba

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