Moraes Moreira e a ciumeira dos ritmos

É um ano especial para os Novos Baianos. Há exatas quatro décadas, Acabou Chorare (Som Livre) iluminava os terreiros do Brasil e se firmava como a obra-prima do grupo de Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby do Brasil (então Consuelo) e companhia.

A data foi anunciada por Os Filhos de João (2009), documentário que fez o público se questionar por onde andavam os baianos já sessentões e não tão novos assim. Soube-se que Pepeu relançava, no ano passado, a sua discografia completa pela gravadora Warner. Baby, em sua eterna cruzada religiosa, entrava o ano com disco novo: Geração Guerreiros do Apocalipse (Independente).

E Moraes Moreira? Por onde sacudia sua vasta cabeleira? O que fazia o novo baiano que não topou sair em turnê com os ex-colegas, quando se apresentaram juntos, há três anos, no carnaval de Salvador (BA) e na Virada Cultural de São Paulo (SP)?
A Revolta dos Ritmos (Biscoito Fino, R$ 29,90) veio para acabar com o mistério. O novo CD de inéditas depois de De Repente (2005) quebra um longo jejum e surgiu da vivência cotidiana, durante esse tempo, com o inseparável violão: o álbum todo tem os arranjos de cordas como base, com violão, cavaquinho e pandeiro, sem os sopros da carnavalidade nordestina.

O apelo das cordas foi tão forte que a ideia inicial era, segundo Moraes Moreira, fazer um disco inteiro de samba: "Eu estava certo de que faria um disco só de samba. Um belo dia fui fechar o repertório e percebi intuitivamente que os outros ritmos estavam com ciúme, queriam participar também, já que durante muito tempo em meus discos esta mistura se dava. O Baião ficou enciumado , o Xote deu um pinote, Rock deu um choque e assim por diante. Não precisa nem dizer: tive que ceder e partir para um disco com essa grande variedade rítmica", explica Moraes Moreira, em entrevista por e-mail
O título, segundo Moreira, vai gerar um novo volume: "Na verdade, tenho repertório pra mais de um CD inédito, não paro de compor nunca, assim vou acumulando muitas composições. Já posso até pensar no A Revolta dos Ritmos Volume Dois".

O trabalho gerou também a oportunidade de trabalhar com o seu filho, Davi Moraes, com quem assina as melodias de quase todo o repertório: "É muito prazeroso trabalhar com Davi, ele me entende como ninguém, as suas ideias são preciosas, complementam com modernidade os nossos arranjos. Tocando então nem precisa falar, o garoto é muito bom. Desculpem o pai coruja...."

Sobre a família dos Novos Baianos, Moraes Moreira diz ter gostado da oportunidade de rever os amigos no cinema, sobretudo Pepeu Gomes, a quem chama de "irmão": "Foi maravilhoso, Henrique Dantas (diretor de Os Filhos de João) dedicou 11 anos da sua vida para fazer este filme. Valeu a pena. A participação de Tom Zé é simplesmente maravilhosa, ele fala dos Novos Baianos com muita propriedade. Ainda não tive a oportunidade de ouvir novamente os CDs de Pepeu, mas espero ansiosamente por um disco de inéditas do meu irmão".