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CULTURA

Deixa o samba me levar

Cantor Martinho da Vila conversa com Jornal da Paraíba sobre seu novo disco, onde faz novas leituras para seus enredos.

Publicado em 16/03/2014 às 8:00 | Atualizado em 18/07/2023 às 14:32

“Não dá pra você fazer uma música para uma mulher se você não gostar dela”, compara aos sorrisos o cantor e compositor fluminense Martinho da Vila sobre a paixão de se fazer um bom samba de enredo, tema que está lhe rendendo um disco explorando o assunto.

Enredo (Biscoito Fino em parceria com a ZFM Records) é uma nova leitura das suas composições criadas para a Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, inclusive os que não participaram de desfiles e que estavam inéditos, assim como alguns hinos feitos para a sua primeira escola de samba, a Aprendizes da Boca do Mato, que são apresentados pela primeira vez em CD.

Martinho relembra em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA que o projeto começou despretensiosamente devido a um exercício de puxar pela sua memória. “Quando eu estava pensando nas minhas criações, muitas pessoas perguntam: quantas músicas você fez? Aí, eu lembrei que muitas delas se perderam”, conta o sambista.

Prontamente, Martinho pensou em ir para o estúdio e gravar tudo que se lembrava em arquivo, que logo foi descartado: “Gravar só por gravar se pode fazer até no computador”, aponta.

“Mas muita gravação também se pode perder no computador. É como tirar foto hoje em dia. Você tira centenas delas e joga tudo lá, sem revelar. É um rolo danado!”.

O músico conta que pretendia fazer uma gravação só com violão, cavaquinho e percussão, mas ganhou um incentivo de seu filho, Martinho Tonho, afirmando que “isso daria um disco legal”.

A produção de Enredo é apoiada por arranjos dos maestros Leonardo Bruno, Ivan Paulo, Rildo Hora, Maíra Freitas e Wanderson Martins. “Eles fizeram algo tão rebuscado que acabou se transformando em um projeto grande”.

As 24 composições presentes no CD trazem um apanhado que abre com seu primeiro samba de enredo, ‘Carlos Gomes’, até a composição que consolidou a vitória da sua Unidos de Vila Isabel no Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro no ano passado, com ‘A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo, água no feijão que chegou mais um’ (idealizado com Arlindo Cruz, André Diniz, Leonel e Tunico da Vila).

Dentre as participações especiais está o trio de filhos que Martinho carinhosamente apelidou de Trinca Própria, formada por Mart'nália, Analimar e Martinho Tonho.

A formação já se apresentou no Festival dos Festivais da Rede Globo, em 1985, além de defender sambas do pai como ‘Raízes’ (composição assinada por Martinho com Ovídio Bessa e Azo) e ‘Gbala, viagem ao tempo da criação’ em disputas na Vila. Ambas estão presentes no disco, mas a trinca só canta na segunda (que divide a faixa com ‘Carnaval de ilusões’), além de outra faixa dupla, ‘Vila Isabel anos 30’ e ‘Ai, que saudades que eu tenho’.

Essas quatro músicas são os primeiros registros do trio, que nunca tinha gravado em estúdio. “Mas eles não estavam fazendo muita força, não”, brinca Martinho, aos sorrisos.

Martinho ainda convidou duas damas do samba: Alcione solta o gogó em ‘Prece ao sol’ e ‘Iemanjá, desperta!’, já Beth Carvalho canta ‘Onde o Brasil aprendeu a liberdade’ e ‘Sonho de um sonho’ (onde Rodolpho e Tião Graúna ajudaram o cantor na composição).

O disco, que tem o projeto artístico assinado pelo “artista plástico preferido” de Martinho, o compadre Elifas Andreato, ainda conta com as participações de Turma do Barão, Juju Ferreirah, Tunico da Vila e Maíra Freitas.

CLIPEZINHOS

Martinho da Vila revela que ainda este semestre será lançado também um DVD de Enredo. “Já está praticamente pronto. É um projeto simples, mas ficou bem bacana. É um DVD de estúdio, onde quis fazer um clipezinho de cada música, com uma animação (de Matheus Dias) entre elas”, explica o músico.

Indagado sobre os ingredientes para se fazer um bom samba de enredo, Martinho é categórico: “Primeiro, você tem que gostar do tema. Tem que se lembrar também que é uma música que não é para se cantar sozinho. É uma música de movimento, que leva o público junto”.

Para o CD, ele idealizou ao contrário. “Pensei em fazer um disco para quem gosta de ouvir. Um trabalho de enredo predomina a bateria. Queria fazer um disco que o povo pule junto, mas que não descaracterizasse a sua parte rítmica”.

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Jornal da Paraíba

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