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POLÍTICA

Prefeitos gravados pedindo propina: entenda a crise política em Bayeux

Berg Lima foi preso em julho; vídeo de Luiz Antônio  foi feito um dia antes.

Publicado em 24/10/2017 às 12:25

Dois prefeitos gravados negociando propina. Essa é a situação da cidade de Bayeux, na Grande João Pessoa, em poucos mais de três meses. No dia 5 de julho, o então prefeito, Berg Lima (sem partido), foi preso após ser flagrado pedindo 'favores' a um empresário. Nesta terça-feira (24), foi divulgado um novo vídeo, desta vez com o prefeito interino Luiz Antônio (PSDB). As imagens foram gravadas um dia antes da prisão do prefeito titular, e nelas o gestor substituto negocia também com um empresário um montante de R$ 200 mil. Os valores seriam usados justamente para a divulgação do 'escândalo' de Berg. O JORNAL DA PARAÍBA relembra os detalhes da crise política que se instaurou no Executivo de Bayeux.

Na primeira gravação, divulgada em 5 de julho, Berg Lima foi flagrado recebendo dinheiro de um fornecedo da prefeitura. O momento em que recebe R$ 4 mil, que seria propina, foi gravado pelo próprio empresário. O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba e a Polícia Civil monitoraram toda a ação. O prefeito foi preso em flagrante e desde então está na carceragem do Centro de Ensino da Polícia Militar, em João Pessoa. Ele está sendo acusado pelo MP de corrupção passiva e concussão, prática atribuída a funcionário público que exige para si ou para outros vantagem indevida, e também foi afastado da administração municipal. Luiz Antônio assumiu a prefeitura no dia 6 de julho.

O prefeito Berg Lima alegou que foi vítima de uma armação política e que “se utilizou de um empresário inescrupuloso para tentar destruir um mandato obtido por meio da maior votação da história do município”. Ele disse ainda que confiava na Justiça e que esclareceria os fatos. Berg tentou reverter a situação da prisão no Tribunal de Justiça da Paraíba, mas não teve sucesso. Por ampla maioria, os desembargadores entederam que havia provas suficientes contra Berg e que a liberdade dele representaria perigo à ordem pública . Atualmente, a defesa aguarda o julgamento de um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O pedido já teve uma liminar negada e até esta terça-feira não tinha data para ser analisado. Além de enfrentar um processo criminal, Berg também é alvo de processo na esfera administrativa porque a Câmara de Bayeux abriu um processo de cassação do mandato dele.

Novo capítulo


Quando se imaginava que a crise política de Bayeux estava contida, o prefeito interino Luiz Antônio surge em uma situação similar à do antecessor e negociando justamente os meios para tirar Berg Lima do poder.

Em conversa com o empresário Ramon Acioli, ex-secretário da Indústria e Comércio do Município na gestão de Berg Lima, Antônio teria pedido R$ 200 mil para que um 'escândalo' contra o prefeito ganhasse as ruas. A gravação, feita pelo circuito interno do escritório de Ramon Acioli, teria ocorrido um dia antes da prisão de Berg Lima.

Nas imagens, Luiz Antônio diz a Ramon que tem gravações comprometedoras contra Berg e garante que a saída do prefeito do poder é questão de dias. O dinheiro negociado seria para pagar empresas de comunicação que divulgariam as irregularidades. Após isso, ele garante no vídeo, o Ministério Público da Paraíba cairia em cima do assunto. No vídeo, o empresário pede para ver o material e recebe a promessa de que ele será repassado. Acioli, então, questiona pagar por uma coisa sem ver o resultado final do que foi conseguido.

O que dizem os envolvidos na crise

A defesa de Berg Lima aproveitou a divulgação do material para reforçar o discurso de armação contra o prefeito afastado. “O vídeo estarrecedor do vice-prefeito Luiz Antonio, divulgado hoje, comprova com precisão o que a defesa de Berg Lima defende desde o início: que aquele malfadado encontro foi fruto de uma absoluta armação e não houve qualquer crime por parte de Berg”, afirma o advogado Raoni Vita. “Observe que nesse vídeo o vice-prefeito narra, com poderes de premonição, o que iria ocorrer no dia seguinte, e que precisaria de 200 mil reais para pagar ao fornecedor”, acrescenta.

Em entrevista ao JPB1ª edição, o advogado Fábio Andrade, que representa o prefeito interino Luiz Antônio, negou que tenha havido pedido de propina, afirmou que o vídeo foi editado para divulgação e que o gestor só vai se pronunciar após ter acesso ao arquivo na íntegra.

"O prefeito Luiz Antônio não tem nada a ver com a prisão de Berg Lima, essa ilação é completamente despropositada. Essa conversa foi uma especulação feita entre duas pessoas que conversavam sobre a política de Bayeux, uma conversa absolutamente normal na política. Se falou que o prefeito poderia ser afastado, porque em Bayeux todo mundo já sabia que o prefeito vinha sendo investigado por irregularidades e perguntado sobre isso o Luiz Antônio se manifestou. Poderia ser q ele (Berg Lima) fosse cassado, fosse afastado, e naturalmente quem iria assumir era Luiz Antônio", disse o advogado.

O assunto também repercutiu na Câmara de Bayeux. Autor do pedido de cassação de Berg Lima, o vereador Adriano Martins (PMDB) defendeu novas eleições na cidade e disse que o legislativo precisa se posicionar diante desta nova denúncia. Após a sessão, o presidente da Casa, Mauri Batista (PSL/Livres), convocou uma reunião com todos os vereadores para tratar do assunto.


Luiz Antônio na mira do MPPB

O coordenador do Gaeco, do Ministério Público, Octávio Paulo Neto, revelou que foi aberto um procedimento contra Luiz Antônio há pelo menos um mês. Entre os pontos investigados, ele ressalta a possibilidade de tentativas do vice-prefeito de armar contra o prefeito afastado. As novas investigações, no entanto, não anulam o flagrante contra Berg Lima.

Ele explicou que o vídeo e o vasto material coletado em relação ao prefeito é suficiente para justificar a denúncia formulada pelo Ministério Público. “Houve o registro de um prefeito pedindo dinheiro a um fornecedor como condição para fazer o pagamento das dívidas do Município com o empresário. Isso não muda”, ressaltou.


TVs são citadas

Em um determinado momento do vídeo, o então vice-prefeito alega que estava pedindo propina para comprar a imprensa: ele cita espaços em blogs, portais e cita nominalmente as TVs Cabo Branco e Tambaú. Sobre essa citação, a direção da TV Cabo Branco destaca que combate categoricamente qualquer ato de corrupção e afirma que repudia o fato do prefeito em exercício, Luiz Antônio, usar o nome da TV Cabo Branco para pedir propina. A TV esclarece que não tem controle sobre o discurso usado por políticos em suas negociações.

Já a TV Tambaú, em nota, afirma que não tem ligações com políticos e que nunca se envolveu em escândalos. Na nota, a direção da emissora também se coloca à disposição das autoridades para qualquer tipo de esclarecimento sobre o assunto.

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Jornal da Paraíba

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