CULTURA
Chico Ferreira em síntese
Pintor e ceramista Chico Ferreira homenageia as mulheres nordestinas em mostra individual que fica em cartaz até 12 de fevereiro.
Publicado em 09/01/2014 às 6:00 | Atualizado em 20/06/2023 às 11:41
Na última viagem que fez ao Sertão para visitar a mãe, Chico Ferreira teve uma epifania: chamado para ver uma laranjeira carregada de frutos no quintal de sua casa em Catolé do Rocha, o artista viu dobrados na mesa da cozinha vários paninhos de prato bordados por dona Creuza, de 89 anos.
"Eu senti um remorso danado", confessa o pintor e ceramista, que se lembrou da mãe confeccionando o enxoval dos irmãos (16, contado com Chico). "Aquilo me emocionou bastante e senti a necessidade de homenagear as mulheres nordestinas que não têm acesso aos bens de consumo e são exímias bordadeiras."
Parte desta homenagem está na individual que ele apresenta hoje à noite em João Pessoa. A exposição será aberta às 20h, na Usina Cultural Energisa (Torre), e fica em cartaz até 12 de fevereiro pelo projeto '10 Anos - 10 Exposições'. A entrada é gratuita.
Trata-se de uma das três mostras de que Chico Ferreira participa na capital, ele que também integra a coletiva Nossa Terra, Nossos Valores, na Estação das Artes, e a 19ª edição do Salão de Artesanato Paraibano, no Jangada Clube.
A série que remete às bordadeiras, batizada de 'Italume' (na etimologia tupi, 'ita' significa 'pedra'), é a porção mais recente do trabalho de uma década que evidencia sobretudo as facetas de pintor, ceramista e designer de Chico Ferreira.
Segundo ele, as oito esculturas em cerâmica da série são obtidas a partir da sobreposição de uma peça de renda na argila. As duas são prensadas numa máquina e secadas e vitrificadas a 1.200 ºC.
A homenagem não adquire sentido somente por causa da habilidade rendeira de Dona Creuza: de acordo com o artista, o ofício das rendeiras paraibanas foi tombado como patrimônio imaterial pela Unesco.
Além das esculturas, a mostra traz seis telas e dez objetos de design. "Na verdade, não vai ser uma grande exposição em termos de quantidade, mas em termos de mostragem", explica Chico, que mora em João Pessoa há 40 anos.
Entre as esculturas, destaque para as séries 'Cabeças', com criações de grande porte (uma delas chega a um metro e sessenta centímetros) e 'Bichos', com peças menores (uma delas foi responsável pela internacionalização da carreira e Chico Ferreira, levando sua arte para a China, onde faz parte do acervo permanente de um museu).
Arte que há 16 anos sai da fornalha de sua oficina, localizada no bairro dos Bancários. Frequentada por amigos e compradores, a oficina é também a principal galeria do sujeito pacato, que se orgulha de não ter que enfrentar trânsito para ir ao batente e diz que as duas filhas, Capitu e Cairé, são as obras-primas de sua vida.
"Esse trabalho que eu faço é efêmero. A minha família é que é a minha verdadeira fonte de inspiração. Eu durmo dentro da minha oficina. Vivo disso e para isso. Desenvolvo também projetos paralelos. Tenho tempo demais e falo muito da vida alheia. E ainda sobra tempo para ver bons filmes", ironiza.
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