VIDA URBANA
Prematuros têm mais atenção
Bebês que nascem antes do previsto passam mais tempo no hospital para ganhar peso.
Publicado em 12/10/2014 às 8:00
Patrícia de Fátima Machado, 34 anos, não abandona o bom humor ao saber que será fotografada para a reportagem. O batom retocado nos lábios encobre uma dor que o sorriso triste não consegue disfarçar. Grávida de 34 semanas da terceira filha, com risco de nascer prematuramente, ela está internada na Maternidade Cândida Vargas, em João Pessoa, para monitoramento da gestação devido à obesidade. O medo da gestante se torna ainda mais evidente ao recordar os momentos de pânico que passou com o parto prematuro da sua primogênita, Ana Vitória, hoje com sete anos.
Da entrada no bloco cirúrgico para retirada de uma apendicite, Patrícia passou pelo susto de dar à luz um bebê de 5 meses e apenas 800g, sem supor que estaria grávida. “Me mandaram para o hospital para retirar um apêndice, que ameaçava estrangular, só que quando eu entrei no bloco cirúrgico a bolsa rompeu e eu entrei em trabalho de parto. Cheguei à triagem já com dor. Quando a médica me mandou tirar a roupa, a menina caiu. Até pensaram que se tratava de um aborto, mas logo a menina apresentou sinais vitais”, conta.
Da descoberta da maternidade até a alta foram 7 meses e 15 dias de angústia entre a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, berçário e no quarto, no método mãe canguru (no qual o bebê fica amarrado à mãe por tecidos). “A menina foi dada como morta, pois não respirou, mas quando a médica pegou ela estava viva.
Imediatamente a entubaram e ela sobreviveu, só que com sequelas, não fala nem anda sozinha. A diferença da minha outra filha que também nasceu prematura, que eu fiz o pré-natal direitinho, mas nasceu prematura por conta da minha obesidade, e dessa que estou esperando, é que com ela nosso amor cresceu junto com essa descoberta de me tornar mãe, pois nem imaginava que ela estivesse no meu ventre”, comenta Patrícia.
O amor que cresce junto com as conquistas diárias na evolução do bebê prematuro é o que tem fortalecido Luciene Santos Evangelista, 27 anos, na diária durante a internação da filha, Caroline, que também nasceu prematura na Maternidade Cândida Vargas.
Ao contrário de Patrícia, que chegou a precisar retirar leite materno para dar através de uma sonda e tomou remédio para evitar o risco de aborto, aos dois meses de gestação, Luciene já consegue amamentar diretamente a filha no peito.
Os momentos mais especiais, segundo a mãe, é na madrugada quando sente os batimentos cardíacos da filha se igualarem aos seus. “Tenho outra filha, mas com ela não tive um momento como o que estou vivendo agora. É muito especial ver que ela está lutando para viver e se sentindo protegida colada em mim”, explica Luciene, ao se referir ao método mãe canguru, que permite um contato integral entre mãe e filho. “O bebê sente como se estivesse na barriga da mãe. É muito interessante”, completa.
Elas são apenas duas dentre tantas mães que passam pela mesma situação cotidianamente na Paraíba. Segundo dados parciais da Secretaria de Estado da Saúde (SES), com base no Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sisnav), entre janeiro e julho deste ano, um total de 3.754 crianças nasceram vivas prematuramente no Estado. O número é superior ao total registrado no mesmo período de 2013, quando foram anotados 3.848 nascimentos prematuros.
Vários fatores influenciam nascimento
Para se considerar que um bebê seja prematuro é preciso observar dois fatores: o tempo de gestação e o peso da criança. “Consideramos partos prematuros aqueles em que o bebê nasce com mais de 20 semanas ou o feto pesa mais de 500g, nos casos em que não é possível precisar a idade gestacional, e menos de 36 semanas e seis dias”, explica o ginecologista e obstetra Francisco Marcelo Braga de Carvalho, que trabalha na Maternidade Cândida Vargas.
Um bebê prematuro, ou pré-termo, como também é chamado os que nascem com menos de 37 semanas, tem características bem definidas em relação a um bebê maduro. Eles geralmente têm baixo peso ao nascer e sua pele fina e rosada tem veias bem visíveis. Quase todos os prematuros estão cobertos com uma penugem macia, chamada lanugo, que desaparece com o tempo. A cabeça e os membros do bebê poderão parecer grandes e desproporcionais em relação ao restante do corpo, mas, conforme ele ganha peso, a desproporção desaparece.
Boa parte desses nascimentos antes da maturidade do bebê, segundo Marcelo Braga, está relacionada a problemas de saúde da mãe ou maus hábitos antes ou durante a gestação. O ginecologista e obstetra Marcelo Braga explicou que há inúmeras causas, evitáveis e inevitáveis, entre elas a infecção urinária. “É uma das principais causas de nascimento pré-termo, que, se tratada, pode ser evitada”, destaca.
Marcelo Braga explicou que há três intervenções de baixo custo que não são frequentemente aplicadas, mas são capazes de garantir a saúde do bebê prematuro, como as injeções de esteroides que, quando dadas às gestantes durante o trabalho de parto prematuro, ajudam a acelerar o desenvolvimento dos pulmões dos bebês e evitar que eles sofram de insuficiência respiratória ao nascer.
Dentre fatores de risco de prematuridade inevitáveis, segundo o obstetra, a lista é vasta e vai desde alterações orgânicas como a famosa incontinência do colo uterino, que é quando há uma dilatação natural, que impede que o ventre possa sustentar o bebê. “À medida que ele vai crescendo tem o abortamento tardio ou o parto prematuro”, explica.
Além dessas causas, que acabam se tornando inevitáveis, devido à realidade em que estão inseridas algumas mães, o médico enumera, ainda, a desnutrição materna, baixo índice de massa corpórea, estresse, tabagismo e o consumo de entorpecentes, como álcool e drogas. “Em muitos casos a gente pode melhorar a condição com a assistência na atenção básica, mas em outros é preciso o comprometimento da gestante com o bebê que carrega na barriga”, diz.
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