VIDA URBANA
PB atende mais de 1,8 mil dependentes
Somente em João Pessoa, o Caps AD III atende atualmente 518 usuários de todo o Estado, sendo cerca de 60% só da capital.
Publicado em 05/09/2014 às 6:00 | Atualizado em 19/03/2024 às 11:23
Na Paraíba, mais de 1.800 dependentes químicos já foram atendidos nos Centros de Atenção Psicossocial para Dependentes de Álcool e outras Drogas (Caps AD) em onze municípios, de janeiro a julho do ano passado, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), que ainda não contabilizou os números deste ano. Somente em João Pessoa, o Caps AD III atende atualmente 518 usuários de várias partes do Estado, sendo cerca de 60% só da capital, conforme a direção do local.
O Caps é um serviço específico para o cuidado, atenção integral e continuada, cujo público específico são os adultos, mas também podem atender crianças e adolescentes, desde que observadas as orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os Caps oferecem atendimento à população, realizam o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.
De acordo com a SES, os Caps também são adequados para atender os usuários em momentos de crise, oferecendo acolhimento noturno por um período curto de dias, como acontece no CAPS AD III, localizado no bairro da Torre, em João Pessoa, onde a diretora da unidade, Marileide Martins, afirmou que 518 usuários são atendidos, dos quais 60% são da capital. “Apesar de oferecermos o acolhimento durante a noite, o Caps não é casa de acolhida. Aqui iniciamos o tratamento de desintoxicação com terapia medicamentosa, em casos avançados, e o psicoterápico, que pode ser em grupo ou individual, com uma equipe multiprofissional”, disse.
O motorista Gerônimo Vieira, 37 anos, e o agente de limpeza urbana José de Arimatéia, 35 anos, há 13 anos tiveram uma relação de patrão e funcionário. Passado um tempo, cada um seguiu seu caminho e recentemente se reencontraram no Caps AD III, onde se recuperam do vício do crack. Ambos ressaltaram que 'eram reféns' da droga, mas que nunca a utilizaram para praticar delitos. “Procurei esse serviço porque é gratuito e conta com bons profissionais que sabem como nos ajudar a se tratar e sair das drogas. Há 12 anos eu sou usuário de crack, mas faz seis meses que estou sem fumar e há 5 dias comecei meu tratamento aqui. Já me sinto melhor”, declarou Gerônimo.
Já José Arimatéia, que é usuário de crack há 13 anos e dependente do álcool, está sem usar drogas há duas semanas e buscou se tratar há 9 dias, somente após a esposa pedir a separação e sofrer uma surra de cipó de boi dos traficantes, a qual ainda lhe rende as marcas no corpo, devido à dívida contraída para fumar crack. “Isso mexeu muito comigo e foi a gota d'água para querer sair dessa vida. Quero recuperar minha autoestima, minha dignidade e minha família. Se Deus quiser irei conseguir isso com o tratamento que estou recebendo aqui”, relatou.
Hoje, os velhos amigos se amparam um no outro, trocando forças para conseguir se libertar das drogas.
A SES acrescentou que a Paraíba dispõe atualmente de uma rede que se amplia a cada dia e que visa garantir a boa assistência aos usuários da rede, sejam com sofrimento mental ou problemas de saúde decorrentes do uso do crack, álcool e outras drogas. As ações têm como foco o tratamento regionalizado, onde o paciente pode ser atendido na região onde mora, evitando o desgaste do deslocamento e o acúmulo de atendimentos na capital.
Consultório de Rua
Somente no primeiro semestre de 2013, 1.400 usuários de João Pessoa e Campina Grande foram atendidos pelo 'Consultório na Rua', que é um serviço onde equipes realizam atividades de forma itinerante às demandas das pessoas em situação de rua e, quando necessário, utilizam as instalações das Unidades Básicas de Saúde (USB) do local, desenvolvendo ações em parceria com as equipes dessas unidades. Destes, 30% faziam uso de somente de álcool e cerca de 15% somente de crack.
Municípios de destaque
Entre os municípios que dispõem de Caps se destacam Cabedelo, Cajazeiras, Campina Grande, Guarabira, Patos, Sapé e Sousa, que juntos atenderam e acompanharam mais de mil usuários do Caps AD de janeiro a julho de 2013. Além desses, João Pessoa, Campina Grande, Pombal, Piancó e Princesa Isabel, que dispõem de Caps AD III-24h e atenderam e acompanharam juntos mais de 800 usuários no mesmo período.
UEPB realiza capacitação
A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) está capacitando profissionais das Redes do Sistema Único de Saúde (SUS) e Sistema Único de Atendimento Social (SUAS) de Campina Grande, além de policiais militares, para o atendimento de pessoas com dependência química, sobretudo crack e álcool. A formação acontece através o Centro de Regional de Referência (CRR), projeto de extensão da universidade. Esta é a segunda turma formada pelo CRR e irá capacitar 89 profissionais.
A aula inaugural do primeiro módulo, que acontece até hoje, foi ministrada ontem pelo jornalista e terapeuta paulista Luca Santoro, que é especialista em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e tem larga experiência no atendimento a usuários de entorpecentes.
Os próximos módulos referentes ao curso acontecerão nos dias 18 e 19 deste mês e também nos dias 9 e 10 de outubro. A data de encerramento das atividades ainda não foi definida. (Fernanda Moura)
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