CULTURA
Crônica de um artista viajante
Reunindo 30 obras, exposição 'Maurício Arraes: Pinturas e Desenhos' fica aberta até 31 de maio na Usina Cultural Energisa em JP.
Publicado em 29/04/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 12:26
Banal, "no bom sentido do termo". Para o curador Dyógenes Chaves, a obra do pernambucano Maurício Arraes registra as cenas cotidianas de um artista que, em 30 anos de trajetória, já emprestou o pincel para paisagens de Coqueirinho (no Litoral Sul da Paraíba) a Paris (na França, onde se formou no final da década de 1970).
A arte deste cronista viajante está em exposição em João Pessoa até o mês que vem. Maurício Arraes: Pinturas e Desenhos terá vernissage hoje, às 20h, na galeria da Usina Cultural Energisa. A entrada é gratuita e o horário de visitação, até o dia 31 de maio, é de terça-feira a domingo, das 14h às 20h.
A mostra reúne 30 obras, sete desenhos e o restante pinturas produzidas na última década. O número de trabalhos expostos corresponde ao tempo de carreira do artista, mas isto, segundo Dyógenes Chaves, é pura coincidência: "Na verdade, as obras não são muito antigas e há algumas até bem atuais, que ainda estavam envolvidas em uma lona, como se ele tivesse pintado há pouco tempo", conta o curador. "Sempre que a gente faz uma exposição de alguém de fora de João Pessoa, sempre parte do pressuposto de que ele não é conhecido na cidade. Então procuramos fazer um apanhado dos seus mais recentes anos."
As telas de Maurício Arraes servem como instantâneos dos lugares por que ele passou. "Quando ele chega em uma cidade, em vez de fotografar, ele pinta cenas cotidianas, que foge daquela ideia turística", reflete Dyógenes Chaves, que atenta também para a formação gráfica do artista: "Ele produziu muito material gráfico, como cartazes que ilustraram várias peças e filmes."
PARIS-PERNAMBUCO
Filho do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005) e irmão do cineasta Guel Arraes (O Auto da Compadecida), morou na França enquanto o pai esteve exilado, em meados da década de 1970. Formou-se em História pela Universidade Paris VII e em Sociologia pela École Pratique des Hautes Études. Quando voltou ao Brasil, passou a se dedicar à pintura e a projetos de cenografia para o cinema e o teatro. Já colaborou com adaptações de autores relevantes como Oswald de Andrade (1890-1954), Paulo Pontes (1940-1976) e Chico Buarque.
Nas palavras do colega Raul Córdula, sua pintura é "a transposição da retina para a mão, do olhar para o fazer". Em catálogo do artista, publicado em 2012, o pesquisador e crítico de arte paraibano destaca o que chama de "contexto poético centrado no cotidiano brasileiro que evoca a paisagem habitada pelo povo, o centro da cidade e a periferia, o bar da favela e o salão de sinuca."
Entre os temas figurativos recorrentes no imaginário de Maurício Arraes, estão, ainda de acordo com o texto, estradas asfaltadas em que cachorros atravessam, meninas nas portas de bares, stripteases em cima de mesas de prostíbulos, a imagem de São Jorge matando o dragão, vitrines de loja de lingerie do interior com os manequins vestidos de calcinhas vermelhas, enfim, como bem resume o texto: " Imagens, imagens eivadas dos sentimentos do povo, da vida comum, da verdade brasileira que é feita de alegria e tragédia, de futebol e crime, de Iemanjá e prostitutas."
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