As provocações da carne

O jovem Geh Lima, de 20 anos, é vegetariano. Em seu Flickr, imagens de fatos bovinos se misturam a fotos de performances em que ele aparece à mesa do café da manhã, em uma roupa impecavelmente branca não fossem as manchas do sangue que lhe escorre da boca cheia de carne.

"É uma provocação", confessa o artista plástico cuja primeira exposição individual fica em cartaz até o dia 18 na Aliança Francesa, em João Pessoa. "Para mim, a creofagia (título da mostra que se refere ao ato de comer carne) é uma questão ética", diz o paraibano, natural de Jacaraú (96 quilômetros de João Pessoa), que estuda artes visuais na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) há três anos.

"Apesar da pouca idade, ele produz compulsivamente, desde muito cedo. A casa dele em Jacaraú é toda pintada e repleta de obras. A arte dele não tem jogo nem fingimento", elogia Roncalli Dantas, curador desta temporada do Ciclo de Jovens Talentos Paraibanos da Aliança Francesa.

Segundo Roncalli, a exposição está dividida em dois blocos que compreendem a produção artística de Geh Lima de 2010 até aqui: o primeiro contém uma série com dez autorretratos; o segundo, alusão mais explícita à creofagia, tem como temática a relação de consumo estabelecida entre os homens e os animais.

Segundo Geh Lima, seu trabalho evoluiu do estilo artesanal, com o uso de materiais domésticos como tecidos e borra de café, desde que entrou em contato com a academia. "Tenho estudado muito e explorado novas técnicas", conta o artista, que abdicou do suporte em tela para trabalhar exclusivamente com papel, onde exercita a pintura em acrílico, o desenho e a gravura.

"Nos autorretratos, procuro evidenciar a questão do sujeito e sua psicologia. Nas outras obras, exploro as imagens de animais e de abatedouros", descreve o artista que já participou em coletivas do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN), em Sousa, e do Sesc Centro, em João Pessoa.