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CULTURA

Um Ivan Lessa de bom e mau humor

Com problemas cardíacos e vítima de um enfisema pulmonar, morre em Londres nesta sexta-feira(8) o escritor Ivan Lessa.

Publicado em 12/06/2012 às 6:00


Amigos e colegas de profissão apontam o humor cáustico e a escrita esmerada como dois dos traços definidores da carreira de Ivan Lessa, que morreu na última sexta-feira, em Londres, onde morava, em decorrência de enfisema pulmonar e problemas cardíacos.

"Foi uma das pessoas mais engraçadas, debochadas e inteligentes que já conheci. Ele era muito inventivo. Tinha uma maneira bastante peculiar de ver as coisas", diz o escritor e jornalista Sérgio Augusto, que conviveu com Lessa por seis anos na Redação de O Pasquim.

"No fim dos anos 1970, ilustrei e diagramei a coluna dele no Pasquim, 'Gip! Gip! Nheco! Nheco!', durante um tempo. Ele fazia um humor politicamente incorreto antes mesmo de existir esse termo, da mítica que se criou em torno do conceito. Era o meu mestre Jedi, ao lado do Millôr (Fernandes, morto em março passado)", afirma Hubert, do Casseta & Planeta.

Outro "casseta", Reinaldo, também guarda lembranças dos tempos de O Pasquim: "Lá, ele respondia a leitores falsos e verdadeiros, fazia fotonovelas, histórias em quadrinhos, os aforismos do 'Gip! Gip!'. Cheguei a ilustrar alguns artigos dele. Me lembro que o Ivan iniciou um romance sobre a Rádio Nacional da década de 1950. Escreveu alguns capítulos, mas não prosseguiu. Ele gostava de cultivar o texto."

Tradutor severo
O jornalista Carlos Leonam recorda o estilo sem papas na língua de Lessa. "Conheci o Ivan no início dos anos 1960, quando eu era diretor da (editora) Nova Fronteira, e ele trabalhava na função de tradutor", conta.

"Lembro que lhe pedi para revisar uma tradução de Os Canhões de Navarone (de Alistair MacLean). No dia seguinte, ele entrou no meu escritório e disse: "Seu tradutor chamou 'yellow bastard' (expressão equivalente a covarde) de bastardo amarelo. Não vou revisar essa porcaria'."

O escritor Carlos Heitor Cony é outro a destacar a faceta de tradutor de Lessa. "Fiquei admirado. Traduziu A Sangue Frio (de Truman Capote) em tempo recorde: o livro saiu aqui em 1966, pouco depois de ser publicado nos Estados Unidos."

O apresentador e humorista Jô Soares rememora um episódio prosaico ligado ao jornalista. "Conheci minha primeira mulher indiretamente por causa dele. Em 1959, tínhamos combinado que ele passaria na minha casa, no Rio, para irmos a um Fluminense x Botafogo. Ele simplesmente não apareceu. Como eu não tinha dinheiro para outro lazer, fui ao teatro, onde conseguiria entrar de graça porque já conhecia algumas pessoas. Lá, encontrei aquela que viria a ser minha mulher."

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Jornal da Paraíba

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