Edificando luz e sombra

O Expressionismo alemão é um dos movimentos mais importantes na vanguarda cinematográfica do início do Século 20. Amparado em teorias da fenomenologia do imaginário, o professor e cineasta paraibano Bertrand Lira revisita pontos chave da estética no livro Luz e Sombra - Significações Imaginárias na Fotografia do Cinema Expressionista Alemão (Editora Universitária-UFPB, 240 páginas, R$ 25,00).

“Escolhi sete filmes emblemáticos do expressionismo alemão, aqueles onde a arquitetura imagética da luz e da sombra está carregada de simbolismo: O Gabinete de Dr. Caligari (1919), O Golem (1920), A Morte Cansada (1921) Nosferatu (1922), A Última Gargalhada (1924), Fausto (1926) e M, O Vampiro de Düsseldorf (1931) – são analisados tendo como leitmotiv a luz e a sombra e suas significações imaginárias”, explica Bertrand.

“Para uma leitura crítica dos filmes, busquei suporte nas discussões de pesquisadores do cinema alemão da primeira metade do Século 20, cujas obras são referências obrigatórias para quem envereda no tema”.

De acordo com o autor, Luz e Sombra é fruto de parte da sua tese de doutorado concluída em 2008, dedicada ao Expressionismo alemão e ao cinema noir norte-americano. “O capítulo referente ao noir ficará para outra publicação, num livrinho menos volumoso e discutindo apenas esse subgênero do cinema”, revela o realizador.

Além da luz e sombra, Bertrand Lira aponta que o livro trata também das suas significações imaginárias nas imagens do cinema expressionista alemão, cuja experiência estética se traduz em uma contrastante fotografia em claro-escuro carregada de simbolismo.

“A interpretação das significações imaginárias desse material imagético está fundamentada nas teorias antropológicas do imaginário de Gilbert Durand, sobretudo, e de autores que trabalham o imaginário como Micea Eliade e Bachelard”, afirma o paraibano. “É um livro que trabalha muito mais a reflexão do que a técnica, esta aqui entra como suporte para o leitor entender a construção de algumas imagens desse cinema”.

‘TELA DEMONÍACA’

A escola expressionista não se restringe apenas à fotografia.

Bertrand elucida que há uma elaboração de iluminação, cenário, figurino e maquiagem – todos esses elementos colaboram para o conteúdo dos filmes desse movimento cinematográfico que trouxe do teatro a concepção de iluminação.

“A literatura romântica do Século 19 veio impregnar a chamada ‘tela demoníaca’. São filmes que tratam do horror, do mórbido, da morte, da decadência física e moral, utilizando os elementos referidos acima para criar uma atmosfera de medo e horror”.

Em relação ao cenário, o autor exemplifica que a escada e o espelho têm uma forte carga simbólica na teoria antropológica do imaginário. “Esses objetos são analisados nas cenas onde aparecem e que são constantes nos filmes expressionistas”.

Segundo Lira, o expressionismo influenciou fortemente o cinema estadunidense a partir dos filmes de terror da década de 1930, com maior evidência no cinema noir dos anos 1940.

“Mas essa influência perpassou a cinematografia de vários países e diretores, inclusive no Brasil, que trabalharam com a temática da morte ao longo de décadas e persiste nos dias de hoje”.

Em João Pessoa, Luz e Sombra será lançado na programação do 8º Fest Aruanda, que será realizado entre os dias 13 e 19 deste mês, no CinEspaço.